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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

questão interna portuguesa foi também abordada, com o ministro britânico a realçar a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

liberda<strong>de</strong> para a construção da <strong>de</strong>mocracia. 300<br />

A confiança e notorieda<strong>de</strong> que Soares havia construído na Europa durante o exílio, continuada<br />

no imediato pós 25 <strong>de</strong> Abril, e a percepção da efectiva importância política do PS para o Oci<strong>de</strong>nte,<br />

concretamente para a estabilida<strong>de</strong> da Península Ibérica, permitiram-lhe ser correspondido com uma<br />

ampla base <strong>de</strong> entendimento e apoio europeu. “Eu consi<strong>de</strong>rava que os acontecimentos em Portugal eram<br />

muito alarmantes – por causa dos apelos que me eram feitos por amigos muito queridos e por causa da<br />

minha própria experiência e entendimento do assunto. A situação po<strong>de</strong>ria configurar uma ameaça às<br />

mudanças necessárias em Espanha e até provocar uma crise internacional.” 301 Willy Brandt foi um dos<br />

incansáveis que moveram acções internacionais para ajudar o PS. Em resposta ao apelo português, os<br />

social-<strong>de</strong>mocratas europeus realizam “em muitos países da Europa campanhas abertas <strong>de</strong> angariação <strong>de</strong><br />

fundos para o PS.” 302 O socialistas holan<strong>de</strong>ses estavam na frente da mobilização, que abrangeu<br />

contribuições significativas dos alemães, belgas e austríacos. 303<br />

De uma reunião realizada em Agosto <strong>de</strong> 1975, em Estocolmo, na qual Soares esteve presente,<br />

“toda a social-<strong>de</strong>mocracia europeia, com a presença <strong>de</strong> vários Primeiros-ministros, criou um comité <strong>de</strong><br />

apoio à <strong>de</strong>mocracia portuguesa, que dirigiu uma séria advertência aos soviéticos.” 304 Este grupo<br />

integrava nomes como Willy Brandt, Harold Wilson, Olof Palme, François Miterrand e Van <strong>de</strong>n Uyl,<br />

que concordaram que “a situação em Portugal requeria uma acção concertada por parte dos partidos<br />

socialistas da Europa Oci<strong>de</strong>ntal para impedir o país <strong>de</strong> ser tomado pelos comunistas.” Isto passaria, <strong>de</strong><br />

acordo com o que Brandt revela ao embaixador dos EUA em Bona, por “ajudar o PS em Portugal a<br />

organizar-se para obter a máxima eficácia”, o que requeria “quer aconselhamento, quer assistência<br />

financeira canalizada através dos canais socialistas.” A responsabilida<strong>de</strong> disso caberia “à RFA e à<br />

Holanda”, sendo que “algum dinheiro do SPD vai também para o PPD através da mediação da<br />

Fundação Friedrich Ebert.” 305<br />

Soares jogava com os contrapo<strong>de</strong>res do mundo bipolarizado <strong>de</strong> então. O Partido Trabalhista<br />

britânico, pela influência <strong>de</strong> James Callaghan, provi<strong>de</strong>nciou ao PS apoio financeiro e formação. 306 Uma<br />

cimeira da IS chegou a estar marcada para Lisboa, tendo sido cancelada à última hora por razões <strong>de</strong><br />

segurança. 307 Os apoios financeiros ao PS já vinham acontecendo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da Revolução,<br />

nomeadamente na campanha eleitoral para a Assembleia Constituinte, mas é <strong>de</strong>pois da Conferência <strong>de</strong><br />

Helsínquia, e com a sucessão <strong>de</strong> acontecimentos em Portugal, com a divisão do MFA, o progressivo<br />

isolamento do gonçalvismo e o vislumbre da capacida<strong>de</strong> política dos mo<strong>de</strong>rados fazerem frente ao<br />

300 Portugal Socialista, nº 27, <strong>de</strong> 13.02.1975, p. 3.<br />

301 Willy Brandt, My Life in Politics, Londres, Penguin Books, 1993, p. 316.<br />

302 Sergei Yastrzhembskiy, cit., p. 72.<br />

303 Hans Janitschek, cit., p. 52.<br />

304 Maria João Avillez, Soares, Ditadura […] cit., p. 475.<br />

305 In Bonn, 15265, September 17, 1975, GFL, PCF, Box 11. Citado por Bernardino Gomes e Tiago Moreira <strong>de</strong> Sá, Carlucci vs.<br />

Kissinger, Os Estados Unidos e a Revolução Portuguesa, Lisboa, Dom Quixote, 2008, pp. 290.<br />

306 Hans Janitschek, cit., p. 78.<br />

307 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 55.<br />

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