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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

Era particularmente importante mostrar este ambiente espartilhado pelas pretensões comunistas<br />

aos dirigentes europeus, para lhes incutir a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ajuda aos socialistas portugueses e<br />

“aproveitar o seu contributo para neutralizar a vaga comunista interna que tanto pressionava os<br />

portugueses na altura.” 294 Mas não só. Soares queria também persuadi-los da importância do PS para o<br />

futuro pacífico do sistema político oci<strong>de</strong>ntal, através da observação <strong>de</strong> perto da realida<strong>de</strong> portuguesa e<br />

da possibilida<strong>de</strong> dos comunistas se insurgirem em Portugal. Queria incutir-lhes a preocupação<br />

relativamente à estabilida<strong>de</strong> política da Europa Oci<strong>de</strong>ntal, para que passassem a ver a situação<br />

portuguesa como um problema da social-<strong>de</strong>mocracia europeia. 295<br />

A presença dos lí<strong>de</strong>res europeus no Congresso do PS serviu dois objectivos <strong>de</strong> Soares, um<br />

interno e outro externo: projectar a situação política portuguesa para a Europa, com a inerente<br />

importância do PS para um <strong>de</strong>sfecho político do interesse oci<strong>de</strong>ntal; e credibilizar o PS em Portugal,<br />

através da <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> apoio dos lí<strong>de</strong>res europeus, que testemunharam, “com as suas presenças<br />

significativas”, que o trabalho socialista “é observado e apreciado e que a solidarieda<strong>de</strong><br />

internacionalista não é uma palavra vã.” 296 Com a sua reeleição e os esforços <strong>de</strong> propaganda estratégica<br />

do PS e <strong>de</strong> Soares, “a imprensa social-<strong>de</strong>mocrática e burguesa levou adiante a campanha contra Vasco<br />

Gonçalves e o PCP, levando a opinião pública europeia a acreditar que o PS era a única „garantia do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>mocrático <strong>de</strong> Portugal.” 297<br />

Com esta base <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> opinião na Europa, Soares, “orgulhosamente acompanhado”,<br />

reúne as melhores condições para mover influências na política europeia a fim <strong>de</strong> suportar o combate do<br />

PS no Verão Quente. Por um lado, era necessário dotar o partido <strong>de</strong> uma estrutura que cobrisse o país,<br />

para o que as amiza<strong>de</strong>s que Soares fez durante o exílio, particularmente com Olof Palm, se revelaram<br />

importantes. O secretário adjunto do partido trabalhista sueco <strong>de</strong>slocou-se várias vezes a Portugal para<br />

ajudar o PS, que tinha optado pela estrutura organizativa daquele partido. A isto juntaram-se “somas<br />

consi<strong>de</strong>ráveis” <strong>de</strong> apoios financeiros, difíceis <strong>de</strong> totalizar. 298 Além dos auxílios monetários e estruturais,<br />

os apoios políticos <strong>de</strong> figuras <strong>de</strong>stacadas da Europa também se fizeram sentir, como o <strong>de</strong> François<br />

Miterrand, um dos companheiros permanentes. Apesar <strong>de</strong> ainda estar na oposição, era um político<br />

influente em França e na Europa, que repetidamente visitou o PS <strong>de</strong>pois da Revolução, tendo<br />

participado em vários comícios, mesmo já <strong>de</strong>pois do período conturbado do PREC. 299<br />

Ao Ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, James Callaghan, confi<strong>de</strong>ncia os problemas<br />

políticos da Revolução. É aliás Callaghan que se <strong>de</strong>sloca a Portugal, em Fevereiro <strong>de</strong> 1975, para<br />

conversações com Vasco Gonçalves, Costa Gomes e Soares. Além dos temas <strong>de</strong> política externa, a<br />

294<br />

In I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m […] cit. p. 368.<br />

295<br />

“Os nossos amigos estrangeiros perceberam muito bem o que estava em jogo e os perigos que então corríamos. Ficaram<br />

muito impressionados e reforçaram a sua solidarieda<strong>de</strong> para connosco. Foi a partir <strong>de</strong> então que nos meios políticos europeus<br />

se começou a enten<strong>de</strong>r, com preocupação e espanto, que Portugal se po<strong>de</strong>ria converter, por mais incrível que pu<strong>de</strong>sse parecer,<br />

numa espécie <strong>de</strong> „Cuba Europeia‟. Perceberam que os socialistas portugueses, com a sua <strong>de</strong>terminação, estavam na ponta<br />

<strong>de</strong>sse combate, que se revelava então, incerto e <strong>de</strong>sigual. Daí o respeito, a admiração e o apaixonado interesse com que nos<br />

passaram a tratar.” In I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 369.<br />

296<br />

“Relatório <strong>de</strong> Mário Soares no Congresso do PS”, in B. Diaz Nosty, cit., p. 152.<br />

297<br />

Sergei Yastrzhembskiy, cit., p. 72.<br />

298<br />

Sobre os apoios <strong>de</strong> partidos europeus ao PS, ver Juliet Antunes Sablosky, cit., pp. 46-50.<br />

299<br />

“Miterrand conhecia bem o que eu pensava e as condições <strong>de</strong> luta que se travava em Portugal. Conhecia as pessoas, <strong>de</strong><br />

todos os quadrantes, os meios em presença, as divisões no seio dos militares e, sobretudo, a nossa <strong>de</strong>terminação.” In Maria<br />

João Avillez, Soares, Ditadura […] cit., p. 477.<br />

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