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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

vem ser um elemento <strong>de</strong> forte oposição <strong>de</strong> Mário Soares. Perante o crescente <strong>de</strong> influência comunista,<br />

que leva os militares a pon<strong>de</strong>rarem a lei do sindicato único, o PS riposta, com a formação <strong>de</strong> um<br />

comício a transbordar <strong>de</strong> gente, no Pavilhão dos Desportos <strong>de</strong> Lisboa, on<strong>de</strong> se propõe a realização <strong>de</strong><br />

eleições <strong>de</strong>mocráticas. As conquistas <strong>de</strong> eleitorado por parte do PS começam a ser encaradas com<br />

<strong>de</strong>sconfiança.<br />

Depois da tentativa <strong>de</strong> golpe a 11 <strong>de</strong> Março e com a institucionalização do Conselho da<br />

Revolução, o PS é olhado cada vez mais <strong>de</strong> soslaio, acusado <strong>de</strong>, indirectamente, estar na origem do<br />

golpe. Com a investidura do IV Governo Provisório, que continua sob a chefia <strong>de</strong> Vasco Gonçalves,<br />

Mário Soares é afastado dos Negócios Estrangeiros, pois perante a ala Gonçalvista 284 já não seria a<br />

figura mais indicada para o cargo, ficando como ministro sem pasta.<br />

As eleições para a assembleia constituinte, a 25 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1975, que dão a vitória ao PS, não<br />

vêm apaziguar a disputa. A confirmação nas urnas dos socialistas como principal força escolhida pelo<br />

eleitorado 285 com uma representação homogénea pelo país, é atestada com o apoio popular, a 1 <strong>de</strong> Maio<br />

<strong>de</strong> 1975, na cerimónia dominada pela Intersindical que lhes tentava barrar a entrada.<br />

Maio <strong>de</strong> 1975 é o mês conturbado, com o MFA a agudizar acções políticas, com prisões<br />

arbitrárias e nacionalizações, tendo-se chegado à proposta <strong>de</strong> prisão <strong>de</strong> Mário Soares e Salgado<br />

Zenha. 286 Com este mau estar evi<strong>de</strong>nte e o caso República, o PS <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> sair do Governo, para se<br />

assumir como partido com propostas alternativas, com a <strong>de</strong>fesa das eleições livres como um dos<br />

baluartes <strong>de</strong> combate, acusando o PCP <strong>de</strong> intentos não <strong>de</strong>mocráticos e combatendo o gonçalvismo, mas<br />

fazendo a sua diferenciação do MFA. Um ano volvido do fim da oposição à ditadura salazarista, Soares<br />

volta a entrar nos caminhos <strong>de</strong> oposição, embora não oficialmente a um regime instituído. É perante o<br />

caos do Verão Quente, que Soares volta a sentir a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recorrer à Europa.<br />

Numa manifestação convocada pelo PS, que juntou 200 mil pessoas em Lisboa, Soares<br />

<strong>de</strong>marca-se do Governo Provisório. “ (…) O Partido Socialista <strong>de</strong>seja que o Governo seja presidido por<br />

uma personalida<strong>de</strong> do MFA, simplesmente <strong>de</strong>seja que ela seja, com provas dadas, efectivamente<br />

apartidária, acima dos partidos, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte dos partidos.” 287 O lí<strong>de</strong>r socialista abria um combate<br />

político ao gonçalvismo, que culmina com o pedido <strong>de</strong> <strong>de</strong>missão <strong>de</strong> Vasco Gonçalves ao Presi<strong>de</strong>nte da<br />

República. 288 Como já havia percebido na oposição a Salazar, mais uma vez esta sua <strong>de</strong>marcação do<br />

PCP e afirmação do PS teria <strong>de</strong> passar pelos caminhos da Europa.<br />

284<br />

António José Telo, História Contemporânea <strong>de</strong> Portugal, do 25 <strong>de</strong> Abril à Actualida<strong>de</strong>. Vol. I, Lisboa, Editorial Presença, 2007,<br />

p. 128.<br />

285<br />

Nas eleições para a Assembleia Constituinte, que teria como função elaborar uma nova Constituição, realizadas a 25 <strong>de</strong> Abril<br />

<strong>de</strong> 1975, o PS foi a força política mais votada, com 37,87%, seguindo-se o PPD, com 26,39%, e só <strong>de</strong>pois o PCP com 12,46%.<br />

Ver Vítor Cunha Rego, cit., p. 239.<br />

286<br />

Teresa <strong>de</strong> Sousa, cit., p. 82.<br />

287<br />

Discurso <strong>de</strong> Mário Soares na manifestação do PS <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> Julho, em Lisboa, in Vítor Cunha Rego, cit., pp. 249, 250.<br />

288<br />

Após as manifestações dos socialistas em 18 e 19 <strong>de</strong> Julho em Lisboa e no Porto, as acusações do PS ao PCP começam,<br />

iniciando-se uma guerra aberta entre as duas forças partidárias. Num comunicado emitido após as manifestações, o PS acusa o<br />

PCP <strong>de</strong> ter tentado barricar a afluência <strong>de</strong> pessoas à manifestação socialista, em Lisboa e no Porto, <strong>de</strong> “actos <strong>de</strong> terrorismo<br />

contra a classe operária e trabalhadores socialistas” e “<strong>de</strong> ter cerceado a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> informação através do controlo dos órgãos<br />

<strong>de</strong> informação”, acusando indirectamente os comunistas <strong>de</strong> refutarem a pluralida<strong>de</strong> partidária. Ver “Um Comunicado do PS<br />

analisa a situação política”, in Vítor Cunha Rego, cit., pp. 250-253. Posteriormente, em carta dirigida ao Presi<strong>de</strong>nte da República,<br />

Soares pe<strong>de</strong> a <strong>de</strong>missão <strong>de</strong> Vasco Gonçalves: “Em todo o país, o Partido Socialista convoca gran<strong>de</strong>s manifestações contra o<br />

Governo <strong>de</strong> Vasco Gonçalves. O Povo Português respon<strong>de</strong>u e foram muitas as centenas <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> portugueses que<br />

gritaram: „Fora Vasco.‟” “Mário Soares pe<strong>de</strong> Demissão ao General Vasco Gonçalves”, in Vítor Cunha Rego, cit., pp. 264, 265.<br />

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