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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

Estrangeiros.” 278 Esta revelação evi<strong>de</strong>ncia a aprendizagem da prática política no exílio, on<strong>de</strong> percebeu a<br />

importância da projecção proporcionada pelos meios <strong>de</strong> comunicação social. 279 Este cargo não lhe daria<br />

apenas uma exposição mediática nacional, mas também internacional, algo que outra pasta não lhe<br />

possibilitaria. E Soares tinha em mente essa dualida<strong>de</strong> estratégica. “A minha aposta, como se revelou<br />

<strong>de</strong>pois, foi certa.” 280 Certa no sentido em que, como veremos, lhe permitiu angariar apoio europeu para<br />

o período conturbado do PREC e a visibilida<strong>de</strong> necessária em Portugal para a conquista eleitoral do PS.<br />

Certa também, no sentido em que serve a prossecução da sua estratégia última: chegar ao po<strong>de</strong>r para<br />

implementar as suas i<strong>de</strong>ias para Portugal.<br />

Assim, como realça no seu discurso na Assembleia <strong>Geral</strong> da ONU, a 23 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1974, -<br />

que Diaz Nosty classifica “<strong>de</strong> transcendência histórica”, em que “poucas vezes, no gran<strong>de</strong> foro político<br />

mundial, se havia suscitado tantas manifestações <strong>de</strong> entusiasmo e simpatia por um país e por um<br />

ministro representante” 281 - Portugal “começa agora a sentir-se orgulhosamente acompanhado.” 282 A<br />

expressão e a ida <strong>de</strong> Soares à 29ª Assembleia <strong>Geral</strong> das Nações Unidas consagram o antagonismo<br />

i<strong>de</strong>ológico a Salazar e a sua i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> política externa, emanada da sua formação político filosófica e<br />

consolidação da corrente da social-<strong>de</strong>mocracia europeia. “Segundo noticiaram as agências<br />

internacionais <strong>de</strong> informação”, Soares “teve um verda<strong>de</strong>iro „acolhimento <strong>de</strong> herói‟ (…) quando acabou<br />

<strong>de</strong> proferir o seu discurso. Durante cerca <strong>de</strong> meia hora, o presi<strong>de</strong>nte Buteflika absteve-se <strong>de</strong> dar a<br />

palavra ao orador seguinte, aguardando que regressassem aos seus lugares numerosos <strong>de</strong>legados que se<br />

haviam dirigido a Mário Soares para o abraçar e felicitar.” 283<br />

5.2 – “Orgulhosamente Acompanhado”<br />

O PREC e o combate <strong>de</strong> Mário Soares em duas frentes – A Europa em Portugal e<br />

Portugal na Europa<br />

As <strong>de</strong>sconfianças estrangeiras <strong>de</strong> que a situação portuguesa pu<strong>de</strong>sse resvalar para a<br />

instabilida<strong>de</strong> política vieram a ter fundamento com o evoluir dos acontecimentos no país. A emergência<br />

da ala radical do MFA e as dissidências <strong>de</strong>ntro do próprio movimento vieram colocar em confronto o<br />

PCP e o PS. Depois da renúncia <strong>de</strong> Spínola à Presidência da República, a ala comunista radical vai<br />

conquistando influência no MFA, nomeadamente a partir da sucessão <strong>de</strong> Vasco Gonçalves a Palma<br />

Carlos no cargo <strong>de</strong> Primeiro-ministro. A proposta comunista em implementar a lei da unicida<strong>de</strong> sindical<br />

278 “O Espírito Civil da Revolução”, entrevista a Mário Soares, conduzida por Maria João Avillez, Público, 24.04.2009, in Mário<br />

Soares, Intervenções 9, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1995, pp. 349-402.<br />

279 “Sem esse contacto permanente com os media, não se transmite ao público nem o que dizemos nem o essencial da nossa<br />

mensagem. Corre-se o risco <strong>de</strong> ser excelente sem que ninguém o saiba. Sempre tive essa noção. Mas fui, porventura, uma<br />

excepção no PS: nunca <strong>de</strong>ixei a ninguém os contactos com a imprensa, que sempre privilegiei. Nunca gostei <strong>de</strong> <strong>de</strong>legar o que<br />

consi<strong>de</strong>ro essencial.” In Maria João Avillez, Soares, Ditadura […] cit., p.377.<br />

280 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 330.<br />

281 B. Diaz Nosty, cit., p. 113.<br />

282 Mário Soares, “Discurso pronunciado na 29ª sessão da Assembleia-geral da ONU”, 23.09.1974, in Mário Soares,<br />

Democratização […] cit., p. 125.<br />

283 Vítor Cunha Rego e Friedhelm Merz (coord), com a colaboração <strong>de</strong> Mário Soares, Willy Brandt e Bruno Kreisky, Liberda<strong>de</strong><br />

para Portugal, Lisboa, Livraria Bertrand, 1976, p. 95.<br />

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