Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />
Introdução<br />
É conhecido por todos os portugueses que Mário Soares foi o rosto político que levou Portugal<br />
à integração europeia, com a a<strong>de</strong>são à CEE, em 1985. Um marco da história <strong>de</strong> Portugal, que ficou<br />
gravado na memória <strong>de</strong> todos quantos assistiram à assinatura do Tratado <strong>de</strong> A<strong>de</strong>são, no Mosteiro dos<br />
Jerónimos, talvez o monumento mais simbólico da cultura nacional, evocativo da epopeia dos<br />
Descobrimentos, situado na beira <strong>de</strong> Portugal, como que a dar as boas-vindas ao mar. Por isso, o<br />
encontro da assinatura do Tratado <strong>de</strong> A<strong>de</strong>são à CEE com este local, esculpido pela odisseia marítima<br />
portuguesa, leva-nos a questionar se não terá sido um contra-senso a escolha <strong>de</strong> tal sítio para consumar<br />
a viragem <strong>de</strong> país para a Europa. Ao consolidar a sua vertente continental na política externa, não<br />
estaria Portugal a cortar com um passado atlântico? Imediatamente, esta questão leva-nos a outra: o que<br />
significa a Europa para Soares e que lugar <strong>de</strong>ve ela ocupar na política externa portuguesa?<br />
São estas interrogações que nos impulsionam, ao longo das próximas páginas, a mergulhar no<br />
fundamento da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Soares para a integração europeia <strong>de</strong> Portugal e no seu pensamento sobre a<br />
Europa. Ao enten<strong>de</strong>rmos as motivações i<strong>de</strong>ológicas e políticas do socialista português para lançar a<br />
proposta e consumar a a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> Portugal à CEE, iremos perceber se aquele dia 12 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1985<br />
terá representando a negação do simbolismo dos Jerónimos, isto é, uma ruptura com a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />
histórica e cultural nacional ou, pelo contrário, a sua continuida<strong>de</strong> da forma menos óbvia.<br />
Para chegarmos a tais respostas, não basta cingir-nos aos anos da vida <strong>de</strong> Soares que<br />
circundaram a época da a<strong>de</strong>são. É necessário recuar aos tempos da sua juventu<strong>de</strong> activista e atravessar<br />
com ele a oposição ditatorial, acompanhar a sua formação i<strong>de</strong>ológica, para entrar na génese do seu<br />
pensamento, <strong>de</strong> modo a <strong>de</strong>scortinar as suas motivações políticas. Com base nisto, iremos também tentar<br />
<strong>de</strong>smontar o alicerce i<strong>de</strong>ológico da sua oposição ao Estado Novo, tentando perceber se o seu<br />
antagonismo político a Salazar se articula, <strong>de</strong> alguma forma, com o rumo europeu que imprimiu a<br />
Portugal após o 25 <strong>de</strong> Abril. Como intuito final, neste trabalho, além da dissecação da sua acção<br />
política, preten<strong>de</strong>mos aprofundar o seu pensamento i<strong>de</strong>ológico sobre Portugal e a Europa.<br />
A base científica <strong>de</strong>ste trabalho assenta na análise <strong>de</strong> documentos institucionais e,<br />
maioritariamente, <strong>de</strong> discursos e textos escritos do próprio Mário Soares, assim como <strong>de</strong> outros<br />
políticos que com ele se cruzaram. Para cumprir o propósito <strong>de</strong>sta dissertação, <strong>de</strong>lineámos um limite<br />
temporal vasto para a análise documental, que vai <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a iniciação política <strong>de</strong> Soares no PCP, finais da<br />
década <strong>de</strong> 30, até à actualida<strong>de</strong>. Ressalve-se, porém, que a análise da sua acção política apenas se faz <strong>de</strong><br />
forma exaustiva até às eleições <strong>de</strong> 1976, e em mol<strong>de</strong>s mais sucinta até 1985, ano da assinatura do<br />
Tratado <strong>de</strong> A<strong>de</strong>são <strong>de</strong> Portugal às Comunida<strong>de</strong>s Europeias.<br />
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