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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

concebe a NATO como o sistema i<strong>de</strong>al para a estabilização mundial, nem partilha da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> uma paz<br />

mantida pela tensão do equilíbrio <strong>de</strong> forças em dois blocos. Concebia um <strong>de</strong>sanuviamento militar e uma<br />

abertura oci<strong>de</strong>ntal a Leste, na qual a Europa <strong>de</strong>veria jogar um papel importante, através da valorização<br />

da sua condição geográfica e política, sendo, para isso, imprescindível a concepção <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>fesa europeu, o que lhe daria in<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> actuação, libertando-a <strong>de</strong> um domínio norte-<br />

americano.<br />

Com base num <strong>de</strong>sanuviamento político, seria <strong>de</strong> <strong>de</strong>smantelar a NATO e o Pacto <strong>de</strong> Varsóvia,<br />

estando o fim <strong>de</strong> uma aliança <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do da outra. Mas, enquanto a NATO perdurasse e a Europa<br />

não criasse o seu sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa, não havia alternativa. E a falta <strong>de</strong>la era um entrave ainda maior para<br />

a concretização do i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> Soares, <strong>de</strong>parado com um país acabado <strong>de</strong> sair <strong>de</strong> uma ditadura, ávido por<br />

se <strong>de</strong>senvolver e <strong>de</strong>mocratizar, que teria <strong>de</strong> dar provas <strong>de</strong> conduzir uma política <strong>de</strong>mocrática que não<br />

representasse ameaça para a estabilida<strong>de</strong> oci<strong>de</strong>ntal. Era necessário afastar suspeitas <strong>de</strong> intentos<br />

comunistas ou do domínio <strong>de</strong>stes no Governo Provisório, tendo em conta que eram uma das forças<br />

partidárias a integrá-lo. Ou seja, a necessida<strong>de</strong> pragmática sobrepõe-se à i<strong>de</strong>ologia no discurso e acção<br />

<strong>de</strong> Soares como Ministro dos Negócios Estrangeiros dos três primeiros governos provisórios. Ainda<br />

assim, o socialista português não se coíbe <strong>de</strong> manifestar o seu i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa oci<strong>de</strong>ntal e <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sanuviamento militar, dando sinais <strong>de</strong> que partilhava da concepção dos lí<strong>de</strong>res europeus partidários<br />

<strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa europeia, até com a intenção <strong>de</strong> participação activa na Conferência <strong>de</strong><br />

Segurança Europeia. Assim, consegue manter uma dualida<strong>de</strong> na orientação portuguesa: por um lado,<br />

mantendo e renovando o seu compromisso com a NATO, dando sinal <strong>de</strong> abertura aos norte-americanos,<br />

por outro, acenando aos europeus com o seu i<strong>de</strong>al e a sua partilha <strong>de</strong> valores por uma Europa política e<br />

unida. Mantendo este esclarecimento <strong>de</strong> discurso, entre i<strong>de</strong>al e realida<strong>de</strong>, Soares consegue integrar<br />

Portugal, cuja localização atlântica já por si só insere o país nesta dualida<strong>de</strong> geopolítica, pacificamente<br />

no sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa oci<strong>de</strong>ntal, sem fechar a porta ao i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa europeia.<br />

5.1.4 – Em conclusão: notorieda<strong>de</strong> europeia <strong>de</strong> Soares credibiliza a revolução na Europa<br />

Europa credibiliza Soares em Portugal<br />

Quando soou a notícia da Revolução 25 <strong>de</strong> Abril pela Europa, registou-se, naturalmente, em<br />

alguns lí<strong>de</strong>res, a expectativa e a <strong>de</strong>sconfiança relativa à eficácia militar para <strong>de</strong>rrubar um governo que já<br />

levava quase cinquenta anos <strong>de</strong> ditadura, além da interrogação que o futuro político pós-revolução<br />

suscitava. Apesar do trabalho <strong>de</strong> oposição que Soares vinha fazendo na Europa, credibilizando a<br />

existência <strong>de</strong> um partido da social-<strong>de</strong>mocracia em Portugal, rebatendo a campanha <strong>de</strong> Salazar em como<br />

a força comunista era a única alternativa ao seu regime, o clima <strong>de</strong> Guerra Fria <strong>de</strong>ixava a Europa, e<br />

particularmente os Estados Unidos, “<strong>de</strong> pé atrás” relativamente ao <strong>de</strong>sfecho político da Revolução. O<br />

papel <strong>de</strong> Soares “seria essencial na hora <strong>de</strong> dar uma dimensão real da nova realida<strong>de</strong> portuguesa. As<br />

suas <strong>de</strong>clarações, as suas contínuas viagens, a sua comparência nos mais altos organismos mundiais,<br />

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