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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

Para Soares, também está em causa o mo<strong>de</strong>lo bipolar emergido da II Guerra Mundial, ainda<br />

para mais quando foi a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manutenção <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo que levou à admissão <strong>de</strong> Portugal na<br />

NATO. 260 A representação <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo geopolítico baseado num equilíbrio <strong>de</strong> forças é o motivo da<br />

discórdia, ao que se junta a refutação à hegemonia dos americanos. “Quem não vê, hoje, que uma<br />

vitória do falcões americanos ou dos revanchistas alemães reforçaria, no campo soviético, os<br />

saudosistas do stalinismo? Quem não sente que uma „abertura‟ no Oci<strong>de</strong>nte, fomentadora <strong>de</strong> autêntico<br />

pluralismo, é a única via possível para <strong>de</strong>scongelar a situação <strong>de</strong> Leste?” 261 Em vez disso, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> um<br />

apaziguamento <strong>de</strong> relações e a abertura oci<strong>de</strong>ntal a leste.<br />

Todavia, este discurso <strong>de</strong> Soares, enquanto perdurava o fascismo em Portugal, contrapõe-se<br />

totalmente ao seu pragmatismo político após a Revolução 25 <strong>de</strong> Abril, em que manifesta<br />

permanentemente fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> à Aliança Atlântica. Na se<strong>de</strong> da organização, em Junho <strong>de</strong> 1974, Soares<br />

afirma que Portugal “irá subscrever a projectada <strong>de</strong>claração atlântica em plena coerência consigo<br />

próprio, numa completa clareza <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s,” 262 reafirmando uma posição “aberta a todas as formas <strong>de</strong><br />

convívio internacional” 263 do país, o que culmina com a assinatura da Declaração <strong>de</strong> Otava, ratificada<br />

em Bruxelas, pelo Primeiro-Ministro do I Governo Provisório Palma Carlos.<br />

A reiteração da manutenção <strong>de</strong> Portugal na NATO é uma das orientações <strong>de</strong> Política Externa<br />

inscritas no programa do I Governo Provisório, que estabelece o “respeito pelos tratados internacionais<br />

em vigor, nomeadamente o da Organização do Tratado do Atlântico Norte.” 264 Po<strong>de</strong>mos questionar se<br />

terá sido uma imposição do governo, ou sugestão <strong>de</strong> Soares. Já mencionámos a questão <strong>de</strong> vazio<br />

político dos Governos Provisórios, que <strong>de</strong>u margem a Soares para trazer a sua experiência e concretizar<br />

assim um programa à semelhança da sua própria orientação política. Se Soares teve participação na<br />

elaboração <strong>de</strong>ste programa, porque reafirma a continuação <strong>de</strong> Portugal na NATO, se i<strong>de</strong>ologicamente<br />

não é a forma política que consi<strong>de</strong>ra viável para a manutenção da paz mundial? A resposta é que a<br />

exigência prática do momento sobrepõe-se ao i<strong>de</strong>al político do socialista português, em mais uma<br />

evidência da sua veia pragmática. Portugal, acabado <strong>de</strong> sair <strong>de</strong> um regime ditatorial, que <strong>de</strong>ixava os<br />

americanos “<strong>de</strong> pé atrás”, crentes na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um contra golpe comunista, precisava <strong>de</strong> dar<br />

provas <strong>de</strong> que estava do lado Oci<strong>de</strong>ntal e, essencialmente, o Governo Provisório tinha <strong>de</strong> mostrar que<br />

não estava dominado pela i<strong>de</strong>ologia comunista. Além disso, Soares sabe que no momento não há<br />

alternativa. Tal como a Europa aceitara formar a NATO, também Portugal não podia ir contra aquela<br />

que era, à época, a orientação <strong>de</strong> todas as nações da Comunida<strong>de</strong> Europeia, contra aquele que era o<br />

único sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa oci<strong>de</strong>ntal. Embora houvesse vozes discordantes, como anteriormente vimos, da<br />

existência da NATO, elas dominavam os círculos da oposição e das organizações políticas não<br />

executivas, como o MFE, que aspiravam por um i<strong>de</strong>al. E, nesse momento, Soares lidava com o real.<br />

260<br />

Mário Soares, Portugal […] cit., p.470.<br />

261<br />

I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m.<br />

262<br />

Mário Soares, “Discurso pronunciado na conferência ministerial da NATO”, em Otava, 18.06.1974, in Mário Soares,<br />

Democratização […] cit., p. 44.<br />

263<br />

I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 49.<br />

264<br />

Programa do I Governo Provisório, in http://www.portugal.gov.pt/Portal/PT/Governos/Governos_Provisorios/GP01/Programa/ ,<br />

acedido em 16.04.2008.<br />

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