Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />
“traço <strong>de</strong> união entre a Europa e a África,” 252 uma i<strong>de</strong>ia muito presente no seu discurso <strong>de</strong>sta época, da<br />
qual trataremos nos capítulos finais <strong>de</strong>ste trabalho.<br />
Promovendo a nova política externa <strong>de</strong> Portugal, vai aproveitando igualmente para continuar a<br />
credibilizar o seu partido lá fora, preparando terreno para um apoio futuro nas previstas eleições<br />
portuguesas. Três dias antes <strong>de</strong> ter sido empossado Ministro dos Negócios Estrangeiros do I Governo<br />
Provisório, dizia numa entrevista: “Quero que o partido socialista português ombreie orgulhosamente<br />
com os partidos socialistas britânico, francês, sueco e doutros países europeus, porque essa é a nossa<br />
única esperança <strong>de</strong> mantermos a <strong>de</strong>mocracia e <strong>de</strong> fazermos parte do grupo europeu. Estes partidos<br />
europeus estão prontos a ajudar-nos e a cumprir esta missão.” 253<br />
Soares continua assim a estratégia <strong>de</strong> promoção do PS, que já vem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o exílio. Agora não<br />
apenas através do discurso, mas, essencialmente, <strong>de</strong> actos. Ao ser o rosto <strong>de</strong> uma nova política externa<br />
<strong>de</strong> Portugal, oficialmente assumida pelo Governo Provisório, o discurso <strong>de</strong> Soares está em perfeita<br />
consonância com o que <strong>de</strong>fendia no exílio e com o que era o conteúdo i<strong>de</strong>ológico da sua campanha <strong>de</strong><br />
oposição ao salazarismo: <strong>de</strong>scolonização, <strong>de</strong>mocratização do país e abertura externa, particularmente à<br />
Europa, o que seria ten<strong>de</strong>nte a uma futura integração. Ao dar a cara pela nova política externa<br />
portuguesa e sendo, simultaneamente, o rosto do PS português, vai agindo para a concretização <strong>de</strong><br />
múltiplos objectivos, que se conjugam. As suas i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> Europa credibilizam a política externa<br />
portuguesa, preparando terreno para uma futura integração europeia <strong>de</strong> Portugal e credibilizam,<br />
simultaneamente, o Partido Socialista para um futuro apoio político europeu, que se revelará<br />
extremamente importante para o PS ganhar eleições legislativas em 1975 e assim concretizar a intenção<br />
<strong>de</strong> integração na CEE. Está-se perante um concílio <strong>de</strong> interesses. O seu objectivo partidário serve <strong>de</strong><br />
base à concretização da sua i<strong>de</strong>ia para o futuro <strong>de</strong> Portugal – os dois passam pelo apoio da Europa.<br />
Mas se as i<strong>de</strong>ias anteriores estão em consonância com o seu discurso <strong>de</strong> oposição à ditadura,<br />
enquanto estava no exílio, há um ponto em que a confluência i<strong>de</strong>ológica entre o que era <strong>de</strong>fendido antes<br />
e <strong>de</strong>pois da Revolução dos Cravos não é <strong>de</strong> total convergência.<br />
5.1.3 - A Nato e a <strong>de</strong>fesa oci<strong>de</strong>ntal - sentido pragmático sobrepõe-se à i<strong>de</strong>ologia<br />
Mário Soares foi uma voz crítica à entrada <strong>de</strong> Portugal na NATO, contestando particularmente<br />
o facto <strong>de</strong> um país ditatorial integrar uma organização que advogava o mo<strong>de</strong>lo da liberda<strong>de</strong> e<br />
<strong>de</strong>mocracia oci<strong>de</strong>ntais. É certo que começou por ser um contestatário ao Tratado do Atlântico quando<br />
ainda estava aliado ao PCP - em 1949, assinou um abaixo-assinado contra a constituição da NATO, não<br />
tendo, como confessa, compreendido nessa altura o papel “essencial” que a organização teve na<br />
252 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 267.<br />
253 Entrevista a Mário Soares, concedida ao semanário americano Newsweek, em 13.05.1974, in I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 38.<br />
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