Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />
conquistado nos anos <strong>de</strong> exílio e o seu conhecimento da diplomacia europeia começavam a ser<br />
reconhecidos.<br />
No dia um <strong>de</strong> Maio, o lí<strong>de</strong>r socialista parte para um périplo europeu, para se encontrar com<br />
governantes e dirigentes políticos, com quem já se havia cruzado nas andanças do exílio. Em Paris,<br />
reúne-se com François Mitterrand e com o presi<strong>de</strong>nte Senghor, do Senegal, em Bruxelas, com membros<br />
do partido socialista e do Governo belga, como Henri Simmonnet, em Londres, com o Primeiro-<br />
ministro, Harold Wilson, e o Ministro dos Negócios Estrangeiros, James Callaghan, na Holanda, com o<br />
primeiro-ministro Joop Den Uyl, em Helsínquia, com os primeiros-ministros da Suécia, Olof Palm, da<br />
Finlândia, Kalevi Sorsa, da Noruega, Tygrevie Brateli, e da Dinamarca, Anker Jorgensen. Esteve<br />
também em Bona, com Willy Brandt, em Roma, com o vice primeiro-ministro Nenni, e no Vaticano<br />
com o Car<strong>de</strong>al Casarolli. 223 Os que haviam sido os principais <strong>de</strong>stinatários dos seus apelos <strong>de</strong> oposição<br />
voltam a sê-lo, mas agora com o anúncio do fim da ditadura. Além <strong>de</strong> conferir reconhecimento<br />
internacional à Revolução portuguesa, este périplo contribui, simultaneamente, para o aumento da<br />
notorieda<strong>de</strong> que Soares já havia conquistado no exílio. Ter sido o homem escolhido para anunciar a<br />
Revolução era, para os dirigentes europeus, sinal do seu reconhecimento político em Portugal, e para os<br />
portugueses, da sua notorieda<strong>de</strong> europeia.<br />
Contudo, a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> atribuir tal missão a Soares não <strong>de</strong>ve ser confundida com qualquer<br />
intenção <strong>de</strong> integração europeia por parte da Junta <strong>de</strong> Salvação Nacional e dos governos provisórios.<br />
Existia sim, por parte dos militares acabados <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrubar o regime, a consciência da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
quebrar com o isolamento a que o fascismo tinha votado Portugal e, sobretudo, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio<br />
político das <strong>de</strong>mocracias europeias e da ONU, para a viabilida<strong>de</strong> futura da <strong>de</strong>mocracia portuguesa e<br />
para a inserir na diplomacia internacional. E Soares foi reconhecido como a figura mais apta a ajudar a<br />
alcançar tais objectivos.<br />
5.1.1 – Continuida<strong>de</strong> na mudança – a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> passar da i<strong>de</strong>ia à prática<br />
Esta missão <strong>de</strong> reconhecimento po<strong>de</strong> ver-se como uma espécie <strong>de</strong> treino para o cargo <strong>de</strong><br />
Ministro dos Negócios Estrangeiros, que vem a exercer do I ao III governos provisórios. Assumiu uma<br />
pasta na qual estava como peixe na água, tanto em termos pragmáticos, como i<strong>de</strong>ológicos. Primeiro,<br />
porque o exílio já o havia iniciado nas esferas da diplomacia internacional. Já tinha aprendido a ser um<br />
político à europeia, sendo fácil estabelecer relacionamentos. Segundo, porque terá aqui a oportunida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> pôr em prática - perante um Governo Provisório constituído no rescaldo da Revolução, com uma<br />
estrutura i<strong>de</strong>ológica diluída e falta <strong>de</strong> um programa sólido, como se conclui pela consulta dos seus<br />
programas - as suas próprias i<strong>de</strong>ias que, durante a oposição a Salazar, vinha <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo para o futuro<br />
do Portugal <strong>de</strong>mocrático. Por isso, falamos <strong>de</strong> uma continuida<strong>de</strong> na mudança. A gran<strong>de</strong> mudança que<br />
223 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p.75; Cf. Dominique Pouchin, cit., p. 91; Cf. Maria João Avillez, Soares, Ditadura […] cit., p. 290.<br />
55