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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

latino-americanas.” 220 Nas frequentes idas à RFA era recebido raramente pelo chanceler Willy Brandt,<br />

mas, frequentemente, falava com Ministros, chefes <strong>de</strong> gabinete ou com o lí<strong>de</strong>r do Partido Social<br />

Democrata (PSD) alemão.<br />

Em suma, nestes tempos <strong>de</strong> exílio, Soares teve uma relação bilateral profícua com a Europa. Ele<br />

precisava <strong>de</strong>la para garantir um apoio na luta contra a ditadura portuguesa e, para isso, mostrou-se,<br />

promoveu as suas i<strong>de</strong>ias, a ASP e o PS, credibilizando-se e ao partido como interlocutor da social-<br />

<strong>de</strong>mocracia em Portugal. Por outro lado, ele apren<strong>de</strong>u com a Europa, acompanhou o funcionamento<br />

partidário num mundo livre, conheceu os meandros da social-<strong>de</strong>mocracia e da IS, apren<strong>de</strong>u o projecto<br />

<strong>de</strong> construção europeia e tudo isso contribuiu para a evolução do seu pensamento, que se repercute,<br />

ciclicamente, na veiculação das suas i<strong>de</strong>ias para Portugal e a Europa, o que incrementará a sua<br />

credibilização. Demonstrou à Europa que, apesar <strong>de</strong> vindo <strong>de</strong> um país ditatorial, <strong>de</strong> costas voltadas para<br />

o velho continente a que geograficamente pertencia, com um passado ligado ao PCP, tinha o potencial<br />

para ser um lí<strong>de</strong>r à europeia. Os acontecimentos seguintes na história portuguesa comprovam que<br />

Soares não era indiferente aos principais lí<strong>de</strong>res europeus, que viram nele a esperança para Portugal não<br />

resvalar para o lado comunista, o que fragilizaria o bloco oci<strong>de</strong>ntal.<br />

5 – A Concretização da estratégia – a importância dos amigos da Europa<br />

5.1 - A Revolução e o reconhecimento da notorieda<strong>de</strong> europeia <strong>de</strong> Soares<br />

A Revolução <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> Abril trará a Mário Soares, em Portugal, o reconhecimento interno da sua<br />

importância e credibilida<strong>de</strong> externa. A notorieda<strong>de</strong> que foi construindo durante o exílio será um factor<br />

crucial para a credibilização da revolução portuguesa pela comunida<strong>de</strong> internacional, nomeadamente<br />

pela Europa.<br />

No dia 24 <strong>de</strong> Abril, o socialista português encontrava-se em Bona, com Ramos da Costa e Tito<br />

<strong>de</strong> Morais, para uma audiência com o PSD alemão. O esforço <strong>de</strong> Soares para convencer os anfitriões<br />

alemães <strong>de</strong> que estava eminente uma revolução em Portugal soava-lhes a i<strong>de</strong>alismo exacerbado, dado<br />

que o PSD tinha informações contrárias da NATO e dos seus embaixadores. Soares já se antecipava a<br />

preparar terreno para uma época pós-revolução, tendo uma audiência marcada com Willy Brandt para o<br />

dia seguinte, mas que acabou por ser cancelada. 221 Com as notícias vindas <strong>de</strong> Portugal, Soares parte<br />

para Lisboa, no emblemático “comboio da liberda<strong>de</strong>.” Chegado à capital, teve o seu primeiro encontro<br />

com o General Spínola, o presi<strong>de</strong>nte da Junta <strong>de</strong> Salvação Nacional, no Palácio da Cova da Moura, que<br />

lhe faz um pedido <strong>de</strong>monstrativo <strong>de</strong> reconhecimento à sua notorieda<strong>de</strong> europeia: “A Revolução<br />

necessita <strong>de</strong> imediato reconhecimento internacional. Você tem numerosas amiza<strong>de</strong>s na Europa e no<br />

mundo. É o homem que nos vai abrir as portas.” 222 A credibilida<strong>de</strong> e reputação que Soares havia<br />

220 In I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, pp. 241, 242.<br />

221 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, pp. 263-267.<br />

222 Teresa <strong>de</strong> Sousa, cit., p. 70.<br />

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