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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

Con<strong>de</strong> Cou<strong>de</strong>nhove Kalergi e, posteriormente, com a proposta <strong>de</strong> Aristi<strong>de</strong> Brian na Socieda<strong>de</strong> das<br />

Nações. O republicanismo em Portugal era já uma consequência das influências continentais e as<br />

repercussões do movimento <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> europeia fazem-se sentir igualmente no meio intelectual<br />

português, entre nomes como Raul Proença, Jaime Cortesão, Chagas Branco, Rodrigues Miguéis, que<br />

se imiscuem no <strong>de</strong>bate sobre o futuro da Europa e compartilham <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> confe<strong>de</strong>ração, <strong>de</strong> Estados<br />

Unidos da Europa e Pan-Europa. Contudo, chegada a hora <strong>de</strong> o governo português respon<strong>de</strong>r à proposta<br />

<strong>de</strong> Briand, não houve vonta<strong>de</strong> manifesta, aliás, tal como em todos os estados europeus. E no final da<br />

década, com a instauração da Ditadura Militar, a concepção republicana <strong>de</strong> aproximação à Europa<br />

<strong>de</strong>svanece-se. 190<br />

Se a política externa da I República portuguesa alinhava numa perspectiva mais europeísta, ela<br />

sofreu um revês com a subida ao po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Salazar, que voltou as costas para a Europa, virando-se para<br />

o mar. Com a implantação do Estado Novo, estabeleceu-se uma política colonial, que concebia África<br />

como a extensão do território português, essencial à soberania nacional. A década <strong>de</strong> 60 alberga o<br />

germinar <strong>de</strong> uma nova concepção <strong>de</strong> política externa para Portugal, com Soares a erguer a contestação à<br />

tese salazarista “orgulhosamente só”, mas também a oferecer uma alternativa, baseada num novo olhar<br />

sobre a história portuguesa e numa análise da realida<strong>de</strong> do novo paradigma político internacional. Ele<br />

inaugura, assim, politicamente, a <strong>de</strong>fesa pública <strong>de</strong> um novo rumo para Portugal, o da Europa: “Ora,<br />

Portugal <strong>de</strong>ve associar-se à Europa para acelerar o seu <strong>de</strong>senvolvimento e o progresso social da sua<br />

população.” 191 Contudo, na sua obra <strong>de</strong> referência – Portugal Amordaçado - não chega a explicitar que<br />

tipo <strong>de</strong> integração <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>. Já nos documentos anexos à Declaração <strong>de</strong> Princípios e Bases Orgânicas da<br />

ASP, começa por <strong>de</strong>finir essa integração como “uma associação económica e política estreita com a<br />

Europa (…).” 192 Se, em inícios da década <strong>de</strong> 60, a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> uma aproximação <strong>de</strong> Portugal à CEE era<br />

feita com base em razões económicas, ao entrar na década <strong>de</strong> 70 já assume uma integração política<br />

europeia para Portugal. Contudo, não particulariza a sua perspectiva <strong>de</strong> integração, pois, como já dito<br />

anteriormente, seria talvez prematura tal revelação para o público português.<br />

Tendo já enraizada a preocupação pela existência <strong>de</strong> uma base social para o projecto europeu,<br />

mostra-se cauteloso na <strong>de</strong>fesa da integração <strong>de</strong> Portugal na Comunida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ixando ressalvas à Europa,<br />

pois tal não <strong>de</strong>ve ser feito meramente na base <strong>de</strong> interesses capitalistas dos países que já compõem a<br />

CEE, que po<strong>de</strong>rão ver apenas na integração portuguesa uma expansão do seu espaço comercial. Assim<br />

como não <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a integração <strong>de</strong> uma forma incondicional da parte <strong>de</strong> Portugal (apenas sob a condição<br />

da <strong>de</strong>mocracia e do fim da guerra colonial), também, da parte da Europa, pressupõe uma base<br />

i<strong>de</strong>ológica, que passa pela existência <strong>de</strong> um cariz social.<br />

190 “(…) São cada vez mais aqueles que se distanciam <strong>de</strong> qualquer projecto <strong>de</strong> união económica ou política da Europa: no<br />

espectro do nacionalismo mo<strong>de</strong>rado, aceitam formas <strong>de</strong> cooperação, que respeitem a soberania dos Estados e a pluralida<strong>de</strong> dos<br />

regimes políticos; no campo do nacionalismo radical, combatem quaisquer projectos associativos ou i<strong>de</strong>ias internacionalistas,<br />

porque só a Nação é o supremo valor, a única i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> viva e realida<strong>de</strong> sólida que garante a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> da raça.” I<strong>de</strong>m,<br />

Ibi<strong>de</strong>m, p. 255.<br />

191 Mário Soares, Portugal […] cit., p. 496.<br />

192 “Para uma Democracia Socialista em Portugal – Textos ASP 1970”, Centro <strong>de</strong> Documentação 25 <strong>de</strong> Abril, <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Coimbra</strong>, 329 (469) “1960/1970” ACC.<br />

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