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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

colonial em várias frentes: Angola, Moçambique e Guiné, contra as recomendações da ONU.” 184 A<br />

mesma <strong>de</strong>núncia é feita na conferência <strong>de</strong> imprensa sobre direitos humanos, no Overseas Press Club,<br />

em Nova Iorque, alinhada com a <strong>de</strong>fesa da auto-<strong>de</strong>terminação das colónias. 185 A campanha <strong>de</strong> Soares<br />

inci<strong>de</strong> na veiculação <strong>de</strong> uma imagem retrógrada do regime português, completamente fechada ao<br />

conjunto <strong>de</strong> valores da sua contemporaneida<strong>de</strong> política. 186 Em vários artigos que escreve para a<br />

imprensa europeia, entrevistas que conce<strong>de</strong> e nos discursos que vai proferindo, 187 principalmente<br />

durante o exílio, insiste na crítica ao colonialismo.<br />

No Portugal Amordaçado vai mais longe, estudando a evolução da perspectiva política<br />

ultramarina portuguesa e <strong>de</strong>monstrando uma consciência acerca da duplicida<strong>de</strong> histórica do pensamento<br />

português a oscilar entre o seu lado continental e marítimo, para apresentar a sua negação <strong>de</strong><br />

imprescindibilida<strong>de</strong> colonial para o futuro <strong>de</strong> Portugal. 188<br />

Soares reflecte aqui uma consciência histórica <strong>de</strong>sta duplicida<strong>de</strong> do pensamento político<br />

nacional que tem atravessado a história do país. Se acaso os finais da monarquia portuguesa sofreram as<br />

contrarieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> intelectuais abertos às influências das correntes políticas europeias - tal como os<br />

republicanos a<strong>de</strong>ptos da i<strong>de</strong>ia fe<strong>de</strong>ralista, como Antero <strong>de</strong> Quental, Oliveira Martins, Teófilo <strong>de</strong> Braga,<br />

Magalhães Lima e Teixeira Bastos, que, com ligeiras discordâncias entre si, à semelhança dos<br />

teorizadores europeus, como Vítor Hugo ou Proudhon, preconizavam a fe<strong>de</strong>ração como um sinal <strong>de</strong><br />

evolução dos povos e propunham um fe<strong>de</strong>ralismo ibérico como opção política para Portugal, que se<br />

libertaria assim do regime monárquico e da subjugação à Inglaterra – elas não chegaram a ter<br />

efectivida<strong>de</strong> política. As tendências fe<strong>de</strong>rativas da Europa eram vistas pelos intelectuais como sinal <strong>de</strong><br />

evolução, sendo que a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> fe<strong>de</strong>ração ibérica latina, plausível para alguns <strong>de</strong>stes pensadores,<br />

chegava a englobar também Itália e França. 189 Mas estes reflexos da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> europeia em<br />

Portugal restringiam-se a um grupo <strong>de</strong> intelectuais, com as inerentes conotações utópicas, levadas<br />

pouco a sério pelos protagonistas políticos, empenhados em contrariar a tendência republicana que<br />

soprava da Europa. Recor<strong>de</strong>-se que, Teófilo <strong>de</strong> Braga era um <strong>de</strong>stes entusiastas, uma das gran<strong>de</strong>s<br />

influências <strong>de</strong> Mário Soares.<br />

É no seguimento do fim da I Guerra Mundial, coinci<strong>de</strong>nte ainda com a última meta<strong>de</strong> do<br />

período da I República Portuguesa, que a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> europeia passa dos restritos meios literários e<br />

intelectuais para um plano com projecção política, nomeadamente, com a profusão da Pan-Europa do<br />

184 Mário Soares, “Discurso Proferido no VIII Congresso dos Partidos Socialistas Europeus, 1971, Arquivo Fundação Mário<br />

Soares, pasta 00006 003, imagens 82-86. Declarações retiradas <strong>de</strong> documento manuscrito, com difícil legibilida<strong>de</strong>.<br />

185 Mário Soares, “Conferência <strong>de</strong> Imprensa no Overseas Press Club”, in Mário Soares, Escritos do Exílio, cit., pp. 29-36.<br />

186 “Assim, a posição portuguesa – totalmente alheia ao movimento mundial <strong>de</strong> <strong>de</strong>scolonização, que marcou os anos sessenta –<br />

consiste em resistir „orgulhosamente só‟, ignorando os <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência das populações (porque a Pátria não se<br />

discute) e encarando como um „simples caso <strong>de</strong> polícia‟ os conflitos armados que, por toda a parte, foram surgindo.” Mário<br />

Soares, “Portugal e África”, artigo para publicação no jornal Triunfo, 16.02.1972, Arquivo Fundação Mário Soares, pasta 000034<br />

001, imagens 200-204.<br />

187 São exemplo disto, além dos registos já mencionados no texto, anteriormente, outros discursos e artigos <strong>de</strong> Mário Soares. Cf.<br />

“Portugal 1972”, uma intervenção no Cercle d‟Etu<strong>de</strong>s Internationales <strong>de</strong> Le Faculte <strong>de</strong> Caen, 11.09.1972, Arquivo Fundação<br />

Mário Soares, pasta 00517 001, imagens 7-20; Cf. “Continuida<strong>de</strong> e Desespero”, artigo para publicação no The Guardian,<br />

21.07.1971, Arquivo Fundação Mário Soares, pasta 00007 001, imagens 73-77; Cf. “Le Portugal Colonial est Colonise par les<br />

Societes Multinationales”, entrevista ao jornal Combat, 28.10.1973, Arquivo Fundação Mário Soares, pasta 02590 000, imagem<br />

77.<br />

188 Mário Soares, Portugal […] cit., pp. 459,460.<br />

189 António Martins da Silva, “Portugal e a Europa. O Discurso Europeu Fe<strong>de</strong>ralista da Monarquia à República”, in Revista <strong>de</strong><br />

História da Socieda<strong>de</strong> e da Cultura, nº 3, 2003, pp. 197-253.<br />

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