16.04.2013 Views

Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

quão nocivo é esse isolamento e que ele não po<strong>de</strong> durar in<strong>de</strong>finidamente?” 178 É a partir <strong>de</strong> meados da<br />

década <strong>de</strong> 60 que começam a ser frequentes as manifestações <strong>de</strong> Soares contra a política colonialista <strong>de</strong><br />

Salazar. Por um lado, a eclosão da guerra colonial viera chamar a atenção para um problema que, até aí,<br />

vivera camuflado e, por outro, o socialista português ia-se embrenhando no espírito do socialismo<br />

<strong>de</strong>mocrático oci<strong>de</strong>ntal e no seu quadro <strong>de</strong> valores, acompanhando o movimento anti-colonialista<br />

mundial. É com o evoluir <strong>de</strong>sse pensamento que a questão da <strong>de</strong>mocratização se torna indissociável da<br />

<strong>de</strong>scolonização, os pressupostos para uma integração europeia <strong>de</strong> Portugal.<br />

Esta lógica argumentativa vai dominar o seu discurso interno e, principalmente, externo,<br />

perfazendo uma linha <strong>de</strong> oposição <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias à política externa salazarista. Defen<strong>de</strong>ndo uma integração<br />

na Europa, essencialmente por necessida<strong>de</strong> económica, numa primeira fase, Soares faz sempre <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r<br />

a supressão <strong>de</strong>ssa necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> valores políticos e morais, o que implica a exigência do país “se<br />

<strong>de</strong>sembaraçar das guerras coloniais.” 179 Tal seria possível através <strong>de</strong> “negociações políticas com os<br />

movimentos nacionalistas”, sendo “aceite solenemente o princípio da auto<strong>de</strong>terminação das populações<br />

autóctones.” Recorrente no seu discurso, a <strong>de</strong>fesa da auto<strong>de</strong>terminação é um pilar <strong>de</strong> oposição à política<br />

do regime e <strong>de</strong> projecção europeia dos socialistas portugueses, que “têm direito à solidarieda<strong>de</strong><br />

internacional dos anti-colonialistas europeus.” 180 Inserindo o anti-colonialismo como argumento crucial<br />

<strong>de</strong> persuasão da opinião pública contra o Estado Novo, o lí<strong>de</strong>r da ASP assume-o como um princípio<br />

político e moral intrínseco ao quadro <strong>de</strong> valores oci<strong>de</strong>ntais, fazendo <strong>de</strong>sta, também, uma causa europeia.<br />

“A Europa terá tudo a ganhar com o restabelecimento da legalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática na Península Ibérica. E<br />

a preocupação pela paz do mundo exige que metamos termo às guerras coloniais portuguesas (…).” 181<br />

Na pesquisa efectuada para este trabalho, vários foram os exemplos encontrados sobre a sua<br />

campanha anti-colonialista. Nas bases orgânicas da ASP 182 , em 1970, volta a repudiar-se o<br />

colonialismo, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo-se a in<strong>de</strong>pendência dos territórios ultramarinos. A sucessão <strong>de</strong> artigos e<br />

discursos sobre esta questão colonial servia particularmente o intento <strong>de</strong> <strong>de</strong>stronar a imagem <strong>de</strong><br />

abrandamento da ditadura que Marcelo Caetano pretendia induzir na comunida<strong>de</strong> internacional.<br />

“Infelizmente não há meio termo – nem compromisso – entre ditadura e <strong>de</strong>mocracia. Isto é<br />

perfeitamente claro no aspecto da política colonial. Neste campo, o Senhor Caetano está meramente a<br />

continuar, com veemência, a política do antecessor.” 183 No VIII Congresso dos Partidos Socialistas<br />

Europeus, repete o ataque: “Portugal não tem apenas um regime totalitário. Ele perpetra uma guerra<br />

178 Mário Soares, “Política Externa”, resposta a um inquérito promovido pela Capital, 14.10.1969, Arquivo Fundação Mário<br />

Soares, pasta 000032 000, imagens 51-52.<br />

179 Mário Soares, “O Impasse Português”, artigo para publicação na revista Ibérica e jornal Le Mon<strong>de</strong>, 25.09.1971, Arquivo<br />

Fundação Mário Soares, pasta 000034 001, imagens 189-194.<br />

180 “Entrevista <strong>de</strong> Mário Soares ao Daghla<strong>de</strong>t, <strong>de</strong> Oslo, Noruega”, s.d. (prevendo-se ser do ano <strong>de</strong> 1972), Arquivo Fundação<br />

Mário Soares, pasta 00008 002, imagens 38-45.<br />

181 Mário Soares (na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Secretário-geral), Ramos da Costa e Tito <strong>de</strong> Morais, “Rapport Confi<strong>de</strong>ntiel”, Comité Directivo<br />

da ASP, sobre o quadro político português em 1972, 9.01.1973, Arquivo Fundação Mário Soares, pasta 00517 001, imagens 23-<br />

31.<br />

182 “Para Uma Democracia Socialista em Portugal – Textos ASP, 1970”, Centro <strong>de</strong> Documentação 25 <strong>de</strong> Abril, <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Coimbra</strong>, 329 (469) “1960/1970” ACC.<br />

183 Mário Soares, “Statement by Mr. Mário Soares”, <strong>de</strong>claração na Assembleia Consultiva do Conselho da Europa, 17.04.1970,<br />

Arquivo Fundação Mário Soares, pasta 02390 000, imagens 69-75.<br />

43

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!