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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

europeia, estava sempre subjacente um trabalho diplomático para tornar o PS um partido credível<br />

perante os padrões políticos europeus, abrindo caminho a uma relação institucional e política <strong>de</strong><br />

confiança, <strong>de</strong> modo a conseguir apoio institucional para congregar forças <strong>de</strong> pressão diplomática ao<br />

regime.<br />

Subjacente a esta intenção <strong>de</strong> exposição do PS, está a veiculação <strong>de</strong> uma mensagem<br />

uniformizada sobre a sua i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Europa e <strong>de</strong> política externa para Portugal. Nos vários encontros<br />

informais, assembleias, congressos ou conferências <strong>de</strong> imprensa, a estratégia <strong>de</strong> oposição <strong>de</strong> Soares ao<br />

Estado Novo assenta também na divulgação <strong>de</strong> um posicionamento assumidamente europeísta para<br />

Portugal, o que, i<strong>de</strong>ologicamente, vem colidir com a concepção doutrinária <strong>de</strong> Salazar, mas que se<br />

enquadra perfeitamente no espírito político europeu da época. Enquanto esteve no exílio, Soares<br />

empenhou-se profundamente em vincar a sua posição e a do PS favorável à integração europeia <strong>de</strong><br />

Portugal.<br />

4.3.4 – Na Europa a 100% - a contraposição à política externa do Estado Novo<br />

Europa vs África ou nem tanto?<br />

É, sobretudo, a partir do início da década <strong>de</strong> 60 que Soares começa a divulgar posições sobre a<br />

política externa <strong>de</strong> Portugal, fazendo brotar uma oposição política a Salazar. Refira-se que, até finais da<br />

década <strong>de</strong> 50, não se encontraram, nos documentos analisados, i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> Soares sobre uma eventual<br />

abertura <strong>de</strong> Portugal às relações diplomáticas oci<strong>de</strong>ntais, o que estaria relacionado com a sua ligação ao<br />

PCP. O facto <strong>de</strong> não ter chegado a conceber a doutrina comunista como solução para um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

socieda<strong>de</strong>, ajuda a explicar a ausência <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ia estruturada para Portugal.<br />

A viragem dá-se quando começa a conhecer o socialismo <strong>de</strong>mocrático. Ao interesse pela<br />

resolução dos problemas sociais, sob uma perspectiva histórica e internacional da evolução das<br />

orgânicas políticas, não terá sido alheia a sua formação em ciências histórico-filosóficas. Após o corte<br />

com o PCP e até aos inícios da década <strong>de</strong> 60, Soares faz a “travessia no <strong>de</strong>serto”, um período <strong>de</strong><br />

introspecção, em que começa a estudar os problemas <strong>de</strong> Portugal e procura mo<strong>de</strong>los políticos<br />

alternativos aos que o mundo bipolarizado lhe oferecia e que dominavam a oposição no seu país. Na<br />

busca <strong>de</strong> renovação, novida<strong>de</strong> e quebra com as soluções políticas dominantes, não permanece alheio às<br />

evoluções do projecto <strong>de</strong> construção europeia, que se começa a institucionalizar <strong>de</strong>pois da assinatura do<br />

Tratado <strong>de</strong> Roma, em 1957. A sua envolvência europeia é impulsionada também pela influência dos<br />

camaradas Ramos da Costa e Tito <strong>de</strong> Morais, no exílio.<br />

É nesta <strong>de</strong>manda intelectual que, nos inícios da década <strong>de</strong> 60, começa a conceber como positiva<br />

a abertura <strong>de</strong> Portugal ao exterior, estabelecendo como “primeiro objectivo” para a política externa<br />

portuguesa a “cooperação internacional,” 164 como revela o “Programa para a Democratização da<br />

164 “Programa para a Democratização da República”, 31 <strong>de</strong> Janeiro, 1961, Centro <strong>de</strong> Documentação 25 <strong>de</strong> Abril, <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Coimbra</strong>, 323.2 (469) PRO.<br />

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