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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

criada pelo Movimento Europeu, que nasceu do entendimento possível entre unionistas e fe<strong>de</strong>ralistas no<br />

Congresso da Haia. Foi também do impulso do Movimento Europeu que surgiu o Tribunal dos Direitos<br />

do Homem e as Comunida<strong>de</strong>s Europeias. 152 Ao presenciar tais reuniões e congressos, Soares vai<br />

construindo e maturando a sua própria i<strong>de</strong>ia sobre o mo<strong>de</strong>lo político futuro da Europa, que lhe<br />

permitirá, oportunamente, <strong>de</strong>monstrar soli<strong>de</strong>z no seu pensamento europeu.<br />

4.3.3 – Os Contactos com o Conselho da Europa e a Comunida<strong>de</strong> Europeia<br />

A activida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mário Soares na oposição portuguesa, a projecção <strong>de</strong> que começava a gozar, na<br />

década <strong>de</strong> 60, ainda antes do exílio, levou-o a ser convidado para discursar no Conselho da Europa,<br />

sobre o tema Direitos Humanos. Esta apresentação pública do lí<strong>de</strong>r da ASP revelou-se a gota final para<br />

o Estado Novo lhe instaurar um processo e propor o exílio. A provocação a Marcelo Caetano já se fazia<br />

sentir <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a conferência <strong>de</strong> imprensa que <strong>de</strong>u em Nova Iorque, em 1970. Depois <strong>de</strong> um périplo pelo<br />

Brasil, Venezuela, Porto Rico e México, Mário Soares realiza a conferência no Overseas Press Club, 153<br />

em Nova Iorque, com a presença da vice-presi<strong>de</strong>nte da The International League for the Rights of<br />

Man. 154 Na apresentação aos jornalistas para a conferência <strong>de</strong> imprensa, Mário Soares é i<strong>de</strong>ntificado<br />

como “o mais conhecido lea<strong>de</strong>r da Oposição portuguesa (…).” 155<br />

O seu discurso centra-se na <strong>de</strong>núncia da restrição à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão em Portugal,<br />

exemplificando com casos comuns <strong>de</strong> repressão do regime. 156 Denuncia os atentados aos direitos<br />

humanos, partilhando a responsabilida<strong>de</strong> da mudança com um <strong>de</strong>ver moral internacional, <strong>de</strong>ixando<br />

implícita a cumplicida<strong>de</strong> do Oci<strong>de</strong>nte para com a ditadura <strong>de</strong> Lisboa. Os portugueses “confiam na força<br />

da opinião pública internacional e na solidarieda<strong>de</strong> dos <strong>de</strong>mocratas para fazer terminar o apoio<br />

internacional <strong>de</strong> que tem beneficiado a ditadura portuguesa.” 157<br />

A repercussão <strong>de</strong>sta conferência <strong>de</strong> imprensa - que teve impacto na comunicação social norte-<br />

americana, através da agência Reuters 158 - vai ao encontro da sua percepção <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

extrapolar a oposição para o estrangeiro. Os ecos chegam a Portugal, com o Governo a apelidá-lo <strong>de</strong><br />

traidor e uma sucessão <strong>de</strong> ameaças. Mas mais estava para vir. Soares já tinha também aceitado o convite<br />

para discursar na Assembleia do Conselho da Europa (CE). 159<br />

152 Dusan Sidjanski, O Futuro Fe<strong>de</strong>ralista da Europa, Lisboa, Gradiva, 1996, pp. 28-32.<br />

153 Teresa <strong>de</strong> Sousa, cit., p. 59.<br />

154 Mário Soares, “Conferência <strong>de</strong> Imprensa no Overseas Press Club”, realizada a 1 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1970, in Mário Soares, Escritos<br />

do Exílio, cit., pp. 28-36.<br />

155 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 29. Na mesma apresentação, Soares é apelidado <strong>de</strong> “socialista <strong>de</strong>mocrático” e referenciado como advogado<br />

da família <strong>de</strong> Humberto Delgado “que foi morto em Portugal pela PIDE, polícia política <strong>de</strong> Salazar e tem <strong>de</strong>fendido muitas<br />

pessoas perseguidas pela PIDE.” O episódio <strong>de</strong> <strong>de</strong>portação é também referido no perfil do lí<strong>de</strong>r da ASP, que é apresentado<br />

como um lutador incontestável contra a ditadura portuguesa.<br />

156 O socialista refere o particular exemplo da prisão <strong>de</strong> Francisco Salgado Zenha, por ter sido convidado para realizar um<br />

colóquio sobre o problema colonial na Associação Académica da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito <strong>de</strong> Lisboa. “Em Portugal qualquer cidadão<br />

po<strong>de</strong> ser preso sem culpa formada, durante seis meses, sem ser presente a um juiz, sem po<strong>de</strong>r ser assistido por advogado e<br />

sem que a prisão seja legalizada por qualquer tribunal.” I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 31.<br />

157 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 32<br />

158 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, pp. 33-36.<br />

159 Carta do Comité <strong>de</strong> Países Não Membros da Assembleia Consultiva do Conselho da Europa, dirigida a Mário Soares, em<br />

6.03.1970, en<strong>de</strong>reçando-lhe um convite do Professor Hofer, secretário do Comité <strong>de</strong> Países Não Membros, para estar presente<br />

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