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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

atentados às liberda<strong>de</strong>s e direitos humanos. No final, expressa a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> associação <strong>de</strong> Portugal à<br />

CEE, mas apenas sob a condição <strong>de</strong> um regime <strong>de</strong>mocrático.<br />

Esta manifestação e as dos homólogos espanhol e grego culminaram na aprovação, pelo MFE,<br />

<strong>de</strong> uma “resolução aos ditadores dos países mediterrânicos,” 150 proporcionando a Soares mais uma<br />

con<strong>de</strong>nação pública ao Estado Novo, o que se repercute também numa forma <strong>de</strong> pressão aos próprios<br />

governos europeus. “Apenas a criação <strong>de</strong> uma Europa unida, sobre uma base fe<strong>de</strong>ral, permitirá o<br />

estabelecimento <strong>de</strong> uma política exterior e <strong>de</strong>fensiva comum a toda a Europa. Assim se estabelecerão as<br />

condições para exercer uma pressão efectiva sobre os governos ditatoriais grego, português e espanhol,<br />

forçando-os a sair da sua actual <strong>de</strong>pendência em relação aos Estados Unidos.” 151 Nestas palavras, o<br />

interesse próprio dos governos europeus, nomeadamente <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa geoestratégica da Europa, é tido<br />

como razão directa para ajudarem a oposição aos regimes ditatoriais.<br />

Além <strong>de</strong> conferir visibilida<strong>de</strong> à acção oposicionista da ASP, a Mário Soares e às suas i<strong>de</strong>ias pró<br />

Europa, estes contactos e vivências permitem-lhe também inteirar-se da discussão sobre o mo<strong>de</strong>lo<br />

fe<strong>de</strong>ral europeu. A presença nestas assembleias, on<strong>de</strong> são discutidas propostas e soluções para uma<br />

orgânica institucional <strong>de</strong> uma Europa fe<strong>de</strong>ral são como verda<strong>de</strong>iras aulas, um meio privilegiado para se<br />

ir esclarecendo sobre os mo<strong>de</strong>los políticos possíveis para a Europa do futuro e, assim, ir construindo a<br />

sua própria i<strong>de</strong>ia sobre o assunto. Contudo, pela documentação consultada, a sua opinião pública sobre<br />

o fe<strong>de</strong>ralismo está ausente dos seus discursos <strong>de</strong>sta época, com excepção para o que profere no<br />

congresso do MFE, em que, aceita o fe<strong>de</strong>ralismo na Europa. Aqui, Soares sabe que fala para um público<br />

conhecedor do assunto, que não suscitará polémica. Mas, nas restantes manifestações públicas, durante<br />

o exílio, não há referências à corrente fe<strong>de</strong>ralista europeia, pois Soares sabe que não é o momento certo,<br />

pois exteriorizar a sua simpatia pelo fe<strong>de</strong>ralismo europeu podia suscitar espíritos receosos <strong>de</strong> perda <strong>de</strong><br />

soberania nacional, além <strong>de</strong> que o assunto nem sequer era consensual entre os próprios governos<br />

comunitários. O último documento que atesta a continuação <strong>de</strong> relações com as i<strong>de</strong>ias fe<strong>de</strong>ralistas<br />

europeias é uma carta conjunta do MFE e da Acção Europeia Fe<strong>de</strong>ralista, dirigida ao socialista<br />

português, em 1972, informando-o sobre as conclusões do último congresso conjunto das duas<br />

organizações, em que ambas manifestam a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> se fundir numa só.<br />

Em conclusão, nestes fóruns específicos <strong>de</strong> discussão, Soares tem a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> projectar<br />

uma imagem específica: a <strong>de</strong> homem “pró-europa”, que está na vanguarda do pensamento sobre o<br />

futuro da Comunida<strong>de</strong>. Simultaneamente, vai-se auto-formando. Além disso, estes movimentos<br />

congregam figuras importantes das instituições políticas europeias, através das quais Soares po<strong>de</strong>rá ter a<br />

porta aberta para outras organizações. O Conselho da Europa é disso exemplo. Foi uma instituição<br />

150 Na resolução, os congressistas manifestam que “os ditadores que actualmente dominam Espanha, Portugal e Grécia, dado o<br />

seu carácter nacionalista e anti<strong>de</strong>mocrático, constituem um perigo sério do ponto <strong>de</strong> vista da fe<strong>de</strong>ração europeia. O 23º<br />

Congresso do MFE con<strong>de</strong>na a continuação da activida<strong>de</strong> antieuropeia <strong>de</strong>stes ditadores e apoia os grupos e organizações no<br />

interior <strong>de</strong>stes países a lutar por um i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> Europa fe<strong>de</strong>ral e <strong>de</strong>mocrática.” Resolução Relativa às Ditaduras do Mediterrâneo”,<br />

anexa à Acta da Reunião do Comité do Movimento Fe<strong>de</strong>ralista Europeu, realizada a 6 e 7 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1971, enviada a<br />

Mário Soares, 02.02.1972, Arquivo Fundação Mário Soares, pasta 02518 001, imagens 9-27.<br />

151 Resolução Relativa às Ditaduras do Mediterrâneo”, anexa à Acta da Reunião do Comité do Movimento Fe<strong>de</strong>ralista Europeu,<br />

realizada a 6 e 7 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1971, enviada a Mário Soares, 02.02.1972, Arquivo Fundação Mário Soares, pasta 02518<br />

001, imagens 9-27.<br />

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