Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />
nomes, entre os que se apresentam legíveis, Azeredo Perdigão, H. <strong>de</strong> Barros, Pedro Pitta, Santos Silva,<br />
Mário Cal Brandão, O. França, Francisco Fausto Lopes <strong>de</strong> Carvalho, Alçada Baptista, Homem <strong>de</strong> Melo<br />
e Carlos Lima. Como expresso na carta a Mário Soares, com a fundação da secção portuguesa do ME 145<br />
pretendia-se, simultaneamente, criar mais uma plataforma <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncia da ditadura, ampliando assim as<br />
vozes <strong>de</strong> oposição ao salazarismo.<br />
Contudo, esta não foi a única organização favorável a um supranacionalismo europeu com a<br />
qual os socialistas portugueses contactaram. Já no exílio, Soares manteve uma intervenção activa junto<br />
do Movimento Fe<strong>de</strong>ralista Europeu (MFE). Um comunicado <strong>de</strong> imprensa revela a existência <strong>de</strong><br />
contactos e conversações com os dirigentes do Movimento, concertados com as oposições dos outros<br />
dois países europeus ditatoriais. 146 As relações com este movimento tinham por natureza não apenas um<br />
envolvimento com as questões <strong>de</strong> agenda europeia, mas também a promoção do PS, enquadrando a sua<br />
luta oposicionista numa causa comum, a da <strong>de</strong>mocracia europeia, o que ganhava mais expressão com a<br />
associação às vozes oposicionistas às ditaduras espanhola e grega. Num momento <strong>de</strong> eminência <strong>de</strong><br />
reformulação institucional da CEE, em que se discute a proposta <strong>de</strong> eleição directa dos <strong>de</strong>putados do<br />
Parlamento Europeu, os membros da oposição portuguesa, espanhola e grega aproveitam para mostrar a<br />
sua concordância com a proposta que consi<strong>de</strong>ram “um meio eficaz para proce<strong>de</strong>r à eleição geral do<br />
Parlamento Europeu, por sufrágio directo, assim como o alargamento das suas competências”, vendo no<br />
sucesso da iniciativa um reforço da Europa <strong>de</strong>mocrática, com que contam “para os ajudar a reverter<br />
aquelas ditaduras.” 147<br />
Em Outubro <strong>de</strong> 1971, o socialista português recebe uma carta do MFE, dirigida “aos membros<br />
do Comité Central,” 148 dando conta dos assuntos que dominarão a agenda da reunião, a realizar nos dias<br />
seis e sete <strong>de</strong> Novembro seguinte. Em anexo, a carta tem um plano <strong>de</strong> proposta para a constituição <strong>de</strong><br />
um estado fe<strong>de</strong>ral, adoptado pelo 19º Congrés <strong>de</strong> l‟Europa-Union Deutschland, em Setembro <strong>de</strong> 1971.<br />
Apesar <strong>de</strong>ste documento constar do arquivo <strong>de</strong> Mário Soares, não é conclusivo que o socialista<br />
integrava <strong>de</strong> facto o Comité Central do MFE, mas terá participado numa reunião do grupo, como<br />
comprova uma carta enviada a 27 <strong>de</strong> Novembro. 149 Na ocasião, <strong>de</strong>nunciou as agruras económicas e<br />
colonialistas do regime ditatorial português, que previa agravarem-se com a entrada da Inglaterra no<br />
MC e a consequente saída da EFTA. Soares <strong>de</strong>sfaz qualquer ilusão <strong>de</strong> mudança com a passagem do<br />
governo para Marcelo Caetano, <strong>de</strong>nunciando a continuação da ditadura, com a permanência <strong>de</strong><br />
144 Apontamentos manuscritos <strong>de</strong> Mário Soares sobre a composição do Comité Português Preparativo do Movimento Europeu,<br />
Arquivo Fundação Mário Soares, pasta 02600 028, imagem 15.<br />
145 Apesar <strong>de</strong>stes contactos, não foi possível apurar, para este trabalho, se a secção portuguesa chegou a ser efectivamente<br />
criada e a funcionar em Portugal.<br />
146 “Le Professeur Enrique Tierno Galvan, Monsieur Emmanuel Poniridis et Maître Mário Soares, représentants <strong>de</strong> l‟opposition<br />
espagnole, grecque et portugaise, ont rencontré récemment à Milan une délégation du Mouvement Fédéraliste Européen, sous la<br />
conduite du Professeur Mário Albertini.” Comunicado <strong>de</strong> Imprensa do Movimento Fe<strong>de</strong>ralista Europeu, 29.10.1971, Arquivo<br />
Fundação Mário Soares, pasta 02518 002, imagem 162.<br />
147 Comunicado <strong>de</strong> Imprensa do Movimento Fe<strong>de</strong>ralista Europeu, 29.10.1971, Arquivo Fundação Mário Soares, pasta 02518 002,<br />
imagem 162.<br />
148 Não é possível auferir com certeza se a carta é dirigida a Mário Soares, pois tal apenas é <strong>de</strong>duzível pelo facto <strong>de</strong> ela integrar<br />
os documentos da pasta <strong>de</strong> Mário Soares, no Arquivo da Fundação Mário Soares, pasta 02518 001, imagens 38-49.<br />
149 Carta <strong>de</strong> Massimo Malcovati, em nome da “Le Fe<strong>de</strong>ralista, revue <strong>de</strong> politique”, enviada a Mário Soares, com o discurso que<br />
proferiu na reunião do Comité Central do Movimento Fe<strong>de</strong>ralista Europeu, pedindo para que Soares faça a revisão do mesmo,<br />
27.11.1971, Arquivo Fundação Mário Soares, pasta 02518 002, imagens 4-14.<br />
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