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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

A táctica externa do partido passava por uma presença nas várias organizações internacionais,<br />

sendo necessário preparar todos os camaradas portugueses para esse espírito internacional, a arma<br />

diferenciadora do PS na oposição ao Estado Novo. No Congresso <strong>de</strong> Maio, Soares revela a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>finir “uma posição responsável em matéria <strong>de</strong> política internacional”, para o que era necessário<br />

“<strong>de</strong>signar camaradas que se ocupem, (tanto em Portugal como nos núcleos repartidos pelo exterior) em<br />

estudar os dossiês <strong>de</strong> documentação” que lhes chegavam “às toneladas, seguindo e especializando-se<br />

nos gran<strong>de</strong>s temas da actualida<strong>de</strong> internacional.” O PS <strong>de</strong>tinha “já um observador permanente junto da<br />

conferência dos partidos socialistas do Conselho da Europa”, mas precisava <strong>de</strong> “ir muito mais longe no<br />

conhecimento dos vários organismos <strong>de</strong> integração Europeia – estudando o Mercado Comum nos seus<br />

diferentes aspectos, económico, político e institucional e procurando participar naqueles organismos e<br />

comissões on<strong>de</strong>”, pu<strong>de</strong>sse, “<strong>de</strong>s<strong>de</strong> já, ter acesso.” 135<br />

Embora não se alargue em opiniões relativamente à sua i<strong>de</strong>ia sobre a integração portuguesa no<br />

MC - manifestando apenas discordância enquanto se mantiver o regime ditatorial - abre caminho à<br />

doutrinação dos membros do PS, para que comecem a inteirar-se dos assuntos e garantam uma presença<br />

política na agenda comunitária, a par <strong>de</strong> outros organismos internacionais, como a ONU, relativamente<br />

à qual urge “<strong>de</strong>finir uma política” e “<strong>de</strong>signar um observador permanente.” 136 Deste modo, Soares<br />

alinha todo o partido na sua estratégia, que passava por inserir o PS na agenda política internacional.<br />

Até ao 25 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1974, a estratégia externa do PS será sensibilizar os partidos da IS para a<br />

situação portuguesa e levá-los a persuadir os seus respectivos governos a con<strong>de</strong>nar Marcelo Caetano.<br />

Nesta senda, o PS prepara, com o Partido Trabalhista Inglês, uma campanha contra a visita do Primeiro-<br />

ministro português, para comemorar o 600º aniversário da Aliança Luso-britânica. Suce<strong>de</strong>m-se vários<br />

encontros e <strong>de</strong>clarações <strong>de</strong> con<strong>de</strong>nação ao regime <strong>de</strong> Lisboa. 137 De um encontro solicitado pelo Partido<br />

Trabalhista Inglês, que movimentou membros, como Harold Wilson, James Callaghan, Ron Hayward e<br />

Ian Mikardo, resulta uma <strong>de</strong>claração conjunta a apelar ao governo inglês que cancele a visita e a<br />

expressar o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> enviar um observador às eleições portuguesas. A 17 <strong>de</strong> Julho, Harold Wilson<br />

<strong>de</strong>clara na Câmara dos Comuns que a visita <strong>de</strong> Marcelo Caetano não merecia felicitações, nem <strong>de</strong>veria<br />

consentir-se a presença <strong>de</strong> Portugal na NATO. Em plena visita <strong>de</strong> Marcelo Caetano, Soares participa<br />

numa sessão solene, organizada pelo padre Adrian Hastings, na qual são <strong>de</strong>nunciadas as atrocida<strong>de</strong>s da<br />

guerra colonial, e o núcleo londrino do PS participa numa manifestação contra a vinda do chefe <strong>de</strong><br />

governo português. 138<br />

Depois <strong>de</strong> constituído o PS, e <strong>de</strong> uma etapa <strong>de</strong> contactos e relações diplomáticas com a IS, <strong>de</strong><br />

conquistadas a confiança e credibilida<strong>de</strong>, Soares aplica-se em conseguir retorno disso, ou seja,<br />

135<br />

Destruir o Sistema, Construir uma Nova Vida, […] cit., pp. 69,70.<br />

136<br />

Ibi<strong>de</strong>m, p. 70.<br />

137<br />

Com o Partido Socialista Francês (PSF), a 4 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1973, subscreve um comunicado conjunto a con<strong>de</strong>nar o assento<br />

<strong>de</strong> Portugal na NATO e refutando a entrada do país no Mercado Comum. Dois dias <strong>de</strong>pois, os socialistas portugueses participam<br />

num encontro da IS, com o PSF, o Movimento Pan-Helénico <strong>de</strong> Libertação, o PSOE, a Unida<strong>de</strong> Popular do Chile, a Defesa<br />

Democrática Grega, o PS <strong>de</strong> San Marino e o PSI, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> sai nova <strong>de</strong>claração conjunta, a con<strong>de</strong>nar o regime português e<br />

comprometimentos <strong>de</strong> tentativas <strong>de</strong> expulsão <strong>de</strong> Portugal da NATO. O PSI manifesta interesse em enviar um observador a<br />

Portugal para acompanhar o <strong>de</strong>senvolvimento da campanha eleitoral. Os encontros continuam no ano seguinte, a 4 <strong>de</strong> Fevereiro<br />

<strong>de</strong> 1974, com o Partido Socialista Belga, a 20, ou 21, com o Partido Trabalhista Holandês, com o Partido Suíço, e com o Partido<br />

Social-<strong>de</strong>mocrata Alemão, a 24 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1974, um dia antes da Revolução. Ver Susana Martins, cit., pp. 220-222.<br />

138<br />

I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 221.<br />

32

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