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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

A sua presença nestes eventos políticos conferia também representativida<strong>de</strong> à ASP,<br />

projectando-a na política europeia, o que servia a sua estratégia <strong>de</strong> incrementar no estrangeiro a<br />

oposição socialista portuguesa ao Estado Novo e diminuir a base <strong>de</strong> apoio internacional a Marcelo<br />

Caetano. 118 Este insistente caminho, <strong>de</strong> Mário Soares, Tito <strong>de</strong> Morais e Ramos da Costa, torna a ASP,<br />

apesar <strong>de</strong> organicamente não o ser, na prática, como um partido a funcionar nos palcos da política<br />

europeia. Com o exílio <strong>de</strong> Soares, os contactos intensificam-se e com eles a i<strong>de</strong>ia dos principais<br />

mentores da ASP sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> integração na IS, sendo formalizado o pedido em 1972. 119<br />

Mas tal pedido instala um mau estar entre os membros do interior e do exterior da ASP, o que<br />

põe a <strong>de</strong>scoberto uma heterogeneida<strong>de</strong> <strong>de</strong> perspectivas na organização e uma mudança da posição <strong>de</strong><br />

Soares, fruto da sua vivência europeia. Os membros do interior revelam-se contra o pedido <strong>de</strong> entrada<br />

na IS, acusando Soares <strong>de</strong> se aliar à social-<strong>de</strong>mocracia, quando, anteriormente, havia recusado tal<br />

termo. Quando era responsável pelo núcleo do interior, Soares, que queria conquistar terreno ao PCP,<br />

tinha contrariado uma <strong>de</strong>finição i<strong>de</strong>ológica da ASP. Porém, a crescente consciencialização <strong>de</strong> que a<br />

oposição à ditadura se fará na Europa, <strong>de</strong>u-lhe a enten<strong>de</strong>r que era necessário a integração plena na<br />

social-<strong>de</strong>mocracia europeia. 120<br />

O pedido en<strong>de</strong>reçado a Hans Janitscheck é o culminar formal do esforço diplomático<br />

incrementado no exílio. 121 O resultado ficou à vista, em 28 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1972, no XII Congresso da IS,<br />

em Viena <strong>de</strong> Áustria, on<strong>de</strong> se formalizou a aceitação da ASP como membro, celebrizada com um<br />

discurso <strong>de</strong> Mário Soares à assembleia, no qual promove as suas i<strong>de</strong>ias socialistas para a Europa do<br />

futuro, tornando inerente a todas as <strong>de</strong>mocracias europeias o combate à ditadura portuguesa. 122<br />

Apesar da admissão da ASP na IS, o facto <strong>de</strong> a organização não ser um partido <strong>de</strong>ixava algo por<br />

consumar, não permitindo que os socialistas portugueses falassem “à mesma altura” com os congéneres<br />

europeus. À medida que Soares ia conhecendo melhor o funcionamento das estruturas partidárias<br />

118<br />

A intenção é expressa nos próprios escritos da ASP. “Contudo, o facto <strong>de</strong> não termos criado uma estrutura no estrangeiro não<br />

impediu que <strong>de</strong>senvolvêssemos, sobretudo, na Europa, uma acção importantíssima <strong>de</strong> esclarecimento da opinião pública<br />

internacional, que conquistássemos um apoio e uma solidarieda<strong>de</strong> efectiva da parte dos outros partidos políticos socialistas e <strong>de</strong><br />

criarmos sérios embaraços à política externa do governo, esclarecendo, <strong>de</strong>smistificando, con<strong>de</strong>nando a política reaccionária e<br />

anti-nacional dos governos <strong>de</strong> Salazar e Caetano.”, “Bases orgânicas da ASP”, in Para uma Democracia Socialista em Portugal,<br />

Textos ASP 1970, Centro <strong>de</strong> Documentação 25 <strong>de</strong> Abril, <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, 329 (469) “1960/1970” ACC.<br />

119<br />

Carta <strong>de</strong> Mário Soares a Hans Janitscheck, Secretário-geral da Internacional Socialista, Arquivo Fundação Mário Soares,<br />

pasta 2167 001, imagem 131.<br />

120<br />

“Quando repetidas vezes o socialista Mário Soares recusava a qualificação <strong>de</strong> „social-<strong>de</strong>mocrata‟, tudo parecia indicar que tal<br />

se <strong>de</strong>terminava pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se não confundir com o „socialismo <strong>de</strong>mocrático‟ da II Internacional. Quando o socialista<br />

Mário Soares procurava o diálogo com o falecido PSIUP ou com o convalescente PSU, tudo parecia indicar que se <strong>de</strong>terminava<br />

pela vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> se não confundir com o socialismo <strong>de</strong> centro e <strong>de</strong> direita, gerente leal do Estado capitalista servidor fiel do<br />

Imperialismo.” Carta <strong>de</strong> Fernando Piteira Santos a Mário Soares, 31 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 1972, Arquivo Fundação Mário Soares,<br />

pasta 0535 003, imagem 95.<br />

121<br />

“Essa a<strong>de</strong>são exigiu um trabalho diplomático imenso que foi realizado por 3 pessoas: Tito <strong>de</strong> Morais, Ramos da Costa e por<br />

mim (Mário Soares) junto <strong>de</strong> Willy Brandt, Harold Wilson, James Callaghan, Olof Palme e dos socialistas espanhóis no exílio,<br />

como Rudolfo Llopis.”, “Conservadores e Neoliberais não têm Soluções para o Futuro”, entrevista <strong>de</strong> Mário Mesquita a Mário<br />

Soares, Diário <strong>de</strong> Notícias, 19.04.1993; in Mário Soares, Intervenções 8, cit., pp. 513-538.<br />

122<br />

“Sicco Manshold perguntou ontem: que Europa <strong>de</strong>sejamos nós? E acentuou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma acção socialista europeia,<br />

quer dizer: a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma estreita cooperação entre os partidos socialistas europeus <strong>de</strong> forma a po<strong>de</strong>rem coor<strong>de</strong>nar os<br />

seus esforços para construir uma Europa Socialista por que todos aspiramos. Neste sentido, apresentou a sugestão da<br />

realização <strong>de</strong> um congresso socialista europeu, com vista a <strong>de</strong>finir uma política socialista comum para a Europa. Em nome dos<br />

socialistas portugueses apoio, sem hesitações, uma tal proposta e espero que um dos pontos a tratar seriamente nesse<br />

congresso seja o problema da subsistência dos fascismos europeus – ou, como disse o camarada Willy Brandt, o problema dos<br />

países da Europa do Sul (ou da Europa pobre), cujos governos são anti<strong>de</strong>mocráticos ou simples ditaduras militares.”, Mário<br />

Soares, “Na Internacional Socialista”, discurso pronunciado no XII Congresso da Internacional Socialista, realizado em Viena <strong>de</strong><br />

Áustria, 28.06.1972, in Mário Soares, Escritos do Exílio, cit., pp. 154-158. (Seja substituí a palavra original „será‟ da citação, o<br />

que se <strong>de</strong>duz tinha sido gralha).<br />

29

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