Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />
contactos estabelecidos pelo núcleo socialista no estrangeiro. Em 1971, discursa no Congresso dos<br />
Partidos Socialistas Europeus, <strong>de</strong>nunciando as falsas mudanças anunciadas por Marcelo Caetano e<br />
apelando à ajuda dos socialistas europeus, “que não po<strong>de</strong>m ser os confi<strong>de</strong>ntes dos regimes<br />
totalitários.” 110<br />
Ainda nesse ano, assistiu ao Congresso da União dos Socialistas franceses, 111 em Epinay-sur-<br />
Seine, no qual François Miterrand foi eleito lí<strong>de</strong>r do Partido Socialista francês, acontecimento que<br />
elogia. 112 Em 1972, 113 assistiu à Convenção Socialista <strong>de</strong> Suresnes, a convenção nacional do Partido<br />
Socialista francês, em que se perspectivavam as eleições <strong>de</strong> 1973, mais uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> convívio<br />
com dirigentes socialistas europeus, como o Secretário-geral da IS. Apesar <strong>de</strong> estar presente apenas<br />
como observador, experiências como esta dão-lhe a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ver <strong>de</strong> perto a i<strong>de</strong>ologia <strong>de</strong> centro<br />
esquerda europeia e a estratégia política a funcionar. São ocasiões que vão constituindo a sua auto-<br />
formação como político e uma forma <strong>de</strong> ir <strong>de</strong>mostrando um pensamento crítico acerca da política<br />
europeia, participando <strong>de</strong>la, opinando e promovendo-se a personalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> referência, como Willy<br />
Brandt e François Miterrand, “as duas gran<strong>de</strong>s figuras” que, à época, mais o “impressionaram.” 114<br />
Tentava também promover estas personalida<strong>de</strong>s no seu país, divulgando a social-<strong>de</strong>mocracia europeia,<br />
com o envio <strong>de</strong> artigos para publicações portuguesas.<br />
Estas andanças políticas, nomeadamente em França, repercutir-se-ão na arquitectura do seu<br />
pensamento político e, nomeadamente, na influência que o socialismo europeu terá na sua visão<br />
geopolítica do Oci<strong>de</strong>nte. Por exemplo, o discurso do Congresso <strong>de</strong> Suresnes – em que se aborda a<br />
questão <strong>de</strong> “um novo internacionalismo”, reflectindo-se sobre o futuro do Pacto do Atlântico e<br />
perspectivando-se “estabelecer um pacto <strong>de</strong> segurança colectiva, que implique a dissolução simultânea<br />
do Pacto do Atlântico e do <strong>de</strong> Varsóvia (…)” 115 – está na base do papel <strong>de</strong> estabilização que confere à<br />
Europa. A assiduida<strong>de</strong> em reuniões e contactos com lí<strong>de</strong>res europeus, 116 permite-lhe ir-se doutrinando<br />
sobre o sistema internacional <strong>de</strong> então, sobre a CEE e, igualmente, absorvendo práticas do<br />
funcionamento partidário em <strong>de</strong>mocracia, ensinamentos pertinentes para a sua actuação política futura.<br />
Willy Brandt, Olof Palme, Bruno Kreisky, François Miterrand, Pietro Nenni e De Martino foram<br />
personalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> frequente convivência, 117 que se tornaram referências.<br />
110 Discurso proferido por Mário Soares, no VIII Congresso dos Partidos Socialistas Europeus, 1971, Arquivo Fundação Mário<br />
Soares, pasta 00006.003, imagens 82-86.<br />
111 “Durante os dias 11, 12 e 13 <strong>de</strong> Junho, realizou-se, em Epinay sur Seine, nos arredores <strong>de</strong> Paris, o congresso dito <strong>de</strong> unida<strong>de</strong><br />
dos socialistas. A imprensa mundial <strong>de</strong>u um certo <strong>de</strong>staque ao acontecimento – que, efectivamente, o merece. Contudo,<br />
preocupada com as querelas pessoais, <strong>de</strong> mera circunstância, não <strong>de</strong>finiu, em termos políticos e com precisão, o alcance do<br />
congresso.”, Mário Soares, “O Congresso da Unida<strong>de</strong>”, artigo sobre o congresso <strong>de</strong> união dos socialistas franceses, 15.06.1971,<br />
Arquivo Fundação Mário Soares, pasta 000034 002, imagens 127-138.<br />
112 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m.<br />
113 Mário Soares, “A Convenção Socialista <strong>de</strong> Suresnes”, Arquivo Fundação Mário Soares, pasta 000034 002, imagens 153-160,<br />
(<strong>de</strong>sconhece-se <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> artigo ou discurso).<br />
114 In Maria João Avillez, Soares, Ditadura […] cit., p. 241.<br />
115 Mário Soares, “A Convenção Socialista <strong>de</strong> Suresnes”, Arquivo Fundação Mário Soares, pasta 000034 002, imagens 153-160,<br />
(<strong>de</strong>sconhece-se <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> artigo ou discurso).<br />
115 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m.<br />
116 “A partir dos anos 70-71, relacionei-me igualmente com De Martino, que lhe suce<strong>de</strong>u (a Pietro Nenni) na li<strong>de</strong>rança do Partido<br />
Socialista Italiano e a quem visitei, em Roma, várias vezes. E Miterrand, claro … A partir <strong>de</strong> Paris, passei a ir aos Congressos<br />
dos partidos socialistas ou social-<strong>de</strong>mocratas: a Inglaterra, à Suécia, à Alemanha, a Itália, à Áustria. Entretanto aprendia e fiquei<br />
a saber como era. Foi uma experiência única.” In Maria João Avillez, Soares, Ditadura […] cit., pp. 239-240.<br />
117 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 240.<br />
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