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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

O passo <strong>de</strong>terminante para alavancar a ASP e Mário Soares para as esferas do socialismo<br />

<strong>de</strong>mocrático europeu foi o seu discurso no Congresso <strong>de</strong> Eastbourne, da IS, em 1969, ainda antes do seu<br />

exílio. Com os camaradas Tito <strong>de</strong> Morais e Ramos da Costa, Soares assiste ao congresso para o qual<br />

tinha sido convidado e vive o seu primeiro gran<strong>de</strong> momento <strong>de</strong> exposição europeia, proferindo um<br />

discurso no qual divulga as suas i<strong>de</strong>ias, tenta construir a sua credibilida<strong>de</strong> e a da ASP. A mensagem<br />

centrou-se em dar a conhecer os socialistas portugueses e a <strong>de</strong>nunciar o Estado Novo, tendo causado<br />

bastante impressão nos presentes. 104<br />

Esta linha discursiva irá manter-se em intervenções posteriores, vincando a existência <strong>de</strong> uma<br />

oposição portuguesa inspirada na social-<strong>de</strong>mocracia. Ao <strong>de</strong>nunciar os atentados da ditadura à<br />

<strong>de</strong>mocracia, transpõe a causa da oposição portuguesa para a Europa, instigando-a a torná-la também<br />

como sua – “a luta pela <strong>de</strong>mocracia e pelo socialismo é indivisível.” 105<br />

Perante as suas palavras, “os <strong>de</strong>legados levantaram-se e aplaudiram-no durante vários<br />

minutos,” 106 um momento que, além <strong>de</strong> inaugurar a projecção da imagem <strong>de</strong> Soares e marcar o início da<br />

credibilização do movimento socialista português no estrangeiro, incitou os camaradas europeus à<br />

acção, com a aprovação <strong>de</strong> uma resolução que apelava à solidarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos os partidos membros<br />

para com a luta dos socialistas portugueses. “Isto foi claramente o momento da verda<strong>de</strong>”, pois a IS foi<br />

além da resolução ao <strong>de</strong>cidir “enviar uma equipa <strong>de</strong> observadores ao país, para seguir a última fase da<br />

campanha.” 107 Como já referido, a comitiva não chegou a presenciar o acto eleitoral português, tendo<br />

sido expulsa três dias após ter chegado ao país, o que fez ecoar novamente o nome <strong>de</strong> Soares nos<br />

“jornais <strong>de</strong> todo o mundo.” 108 Mas esta acabou por ter um lado positivo, o <strong>de</strong> atestar a veracida<strong>de</strong> da<br />

<strong>de</strong>núncia acerca do regime, com “os gran<strong>de</strong>s lí<strong>de</strong>res do socialismo <strong>de</strong>mocrático a chegarem à conclusão<br />

<strong>de</strong> que Mário Soares era o „seu homem‟”, com “milhões <strong>de</strong> membros partidários a acordarem para o<br />

<strong>de</strong>safio <strong>de</strong> Portugal.” 109 Por isso, quando parte para França, em 1970, Soares não vai como mais um<br />

exilado político anónimo, mas já como um socialista conhecido na Europa.<br />

A partir <strong>de</strong> Paris, as viagens e participações em eventos na Europa são frequentes, quer através<br />

<strong>de</strong> convites das organizações, quer <strong>de</strong> encontros com partidos socialistas europeus, promovidos por<br />

1966, começam os intentos <strong>de</strong> aproximação ao Partido Social Democrata alemão (SPD), com Ramos da Costa e Soares a<br />

<strong>de</strong>slocarem-se a Bona, para conferenciar com responsáveis do partido, mas a recepção é um pouco fria, mantendo-se assim o<br />

relacionamento até 1969, ano em que o SPD e a Fundação Friedich Ebert convidam Soares e Ramos da Costa para uma<br />

reunião, na qual seriam discutidas as formas <strong>de</strong> apoio à ASP, o que se concretiza com a concessão <strong>de</strong> bolsas <strong>de</strong> estudo. Ver<br />

Susana Martins, cit., pp.188-195. O próprio Soares reconhece o trabalho precursor dos amigos: “Nunca é <strong>de</strong>mais reconhecer o<br />

trabalho realizado por Francisco Ramos da Costa e por Manuel Tito <strong>de</strong> Morais: um autêntico trabalho pioneiro, <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iros<br />

cabouqueiros do socialismo <strong>de</strong>mocrático português. Foi Ramos da Costa quem entrou, primeiro em contacto com a Internacional<br />

Socialista e, <strong>de</strong>signadamente, com Willy Brandt e com Olof Palm. (…) Abriram-se as portas dos contactos internacionais, antes<br />

<strong>de</strong> eu chegar ao exílio, foram eles que me levaram ao Congresso <strong>de</strong> Eastbourne, em 1969, e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> me fixar em Paris, a<br />

partir do Verão <strong>de</strong> 1970.” In Maria João Avillez, Soares, Ditadura […] cit., p. 245.<br />

104 “No seu discurso, ele seguiu uma linha familiar: „Em Portugal, os socialistas têm vivido num gueto político. Isto explica a<br />

ausência <strong>de</strong> contactos internacionais entre os socialistas portugueses e os seus camaradas (…)‟ E, <strong>de</strong> seguida, começou a<br />

protestar contra a ditadura, chamando-lhe „um regime <strong>de</strong> terror e silêncio‟, como nunca o tinha feito antes, em frente a uma<br />

audiência majestosa. Terminou com um apelo emocionado para a eliminação do estado corporativo, o regresso às liberda<strong>de</strong>s<br />

civis, à auto-<strong>de</strong>terminação das colónias e a retoma das relações diplomáticas com o resto do mundo. Ele lançou um claro apelo<br />

a uma acção conjunta contra todos os ditadores fascistas europeus e avisou a audiência <strong>de</strong> que „a luta pela <strong>de</strong>mocracia e pelo<br />

socialismo é indivisível‟.” Hans Janitschek, cit., p 31.<br />

105 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m.<br />

106 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m.<br />

107 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m.<br />

108 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p.32.<br />

109 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m.<br />

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