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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

nem que possa poupar ao Povo Português tantos sacrifícios.” 92 Esta convicção baseia-se também na<br />

expectativa <strong>de</strong> que seja a própria proliferação do espírito europeu e dos seus valores um dos motores da<br />

mudança. 93<br />

No entanto, se é óbvia a admiração <strong>de</strong> Soares pelo mo<strong>de</strong>lo político da Europa Oci<strong>de</strong>ntal e a<br />

proposta <strong>de</strong> adopção do seu quadro <strong>de</strong> valores como solução para Portugal, não é explicitado em que<br />

termos ele a enten<strong>de</strong>. Até on<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ir essa abertura do país à Europa? Na década <strong>de</strong> 60, tudo fica no ar.<br />

Pressupõe-se uma integração apenas económica ou também política? Se Soares já tem estas respostas,<br />

não as revela, o que se <strong>de</strong>duz ser uma estratégia premeditada. Estaria a população portuguesa preparada<br />

para encarar uma tal proposta <strong>de</strong> transição <strong>de</strong> um regime ditatorial, que podia ser vista como uma nova<br />

subalternização? Terão sido estas as cautelas <strong>de</strong> Soares, que, perspicaz no diagnóstico à opinião pública,<br />

terá, tacticamente, guardado algumas i<strong>de</strong>ias para si?<br />

Concluímos que a década <strong>de</strong> 60 foi um crescendo <strong>de</strong> convicções no seu pensamento, o que<br />

coinci<strong>de</strong> com a consolidação do seu afastamento do PCP e a aproximação à i<strong>de</strong>ologia da Europa<br />

Oci<strong>de</strong>ntal. Foi uma espécie <strong>de</strong> solidificação <strong>de</strong> pensamento, <strong>de</strong> concretização <strong>de</strong> projectos, <strong>de</strong> abertura<br />

ao estrangeiro e da divulgação <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ia nova para o futuro <strong>de</strong> Portugal, que marca o início da sua<br />

profunda oposição à política externa <strong>de</strong> Salazar.<br />

É a partir da década <strong>de</strong> 70 que Soares será mais explícito e concreto na afirmação <strong>de</strong>stas i<strong>de</strong>ias.<br />

Por um lado, porque ele próprio as vai amadurecendo e, por outro, porque vai incrementando a sua<br />

estratégia <strong>de</strong> oposição, dirigindo-se a outros públicos, aos políticos europeus, para os quais é necessário<br />

promover, acima <strong>de</strong> tudo, a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que ele e a ASP têm planos para Portugal, que se encaixam no<br />

quadro político da Europa. O início dos anos 70 acolhem uma enxurrada <strong>de</strong> formação e <strong>de</strong> vivências<br />

políticas, que o levam a conviver com os principais lí<strong>de</strong>res europeus e também a acumular experiência<br />

nos palcos políticos da Europa. É essa fase que vamos <strong>de</strong>strinçar <strong>de</strong> seguida.<br />

4.3 – Uma nova oposição, na e pela Europa - uma política externa não oficial <strong>de</strong> Portugal<br />

O <strong>de</strong>sfecho das eleições <strong>de</strong> 1969 acarretou a perda <strong>de</strong> esperanças <strong>de</strong> mudar o regime <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

Portugal. Trouxe a percepção <strong>de</strong> que aí seria difícil fazê-lo, sem uma ASP bem estruturada, que pu<strong>de</strong>sse<br />

prosseguir para uma verda<strong>de</strong>ira organização partidária, capaz <strong>de</strong> ombrear com o PCP na oposição ao<br />

regime. Soares percebera que diante <strong>de</strong> si “estava uma travessia no <strong>de</strong>serto, e que no país, o horizonte se<br />

fechara,” e que os socialistas talvez estivessem “a ter pouca audição internacional (…).” 94<br />

92<br />

Mário Soares, “Resposta ao Inquérito do Diário <strong>de</strong> Lisboa”, 15.08.1969, Arquivo Fundação Mário Soares, pasta 00006 001,<br />

imagens 86,87.<br />

93<br />

“A evolução da Europa, o espírito da época, (que trabalha sectores importantes da inteligência e da tecnologia), a falta <strong>de</strong><br />

mão-<strong>de</strong>-obra provocada pelo êxodo migratório, a tomada <strong>de</strong> consciência das classes trabalhadoras, as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento em contradição com as exigências cada vez mais pesadas da guerra, a revolta da juventu<strong>de</strong>, a incapacida<strong>de</strong><br />

patente da equipa <strong>de</strong> Marcelo Caetano <strong>de</strong> formular uma política <strong>de</strong> alternativa para o imobilismo salazarista – tudo parece<br />

apostado em empurrar o regime para uma situação singularmente difícil, em que os pontos <strong>de</strong> rotura estão à vista.” Mário<br />

Soares, “As Eleições <strong>de</strong> Outubro e o Futuro Incerto <strong>de</strong> Portugal”, Arquivo Fundação Mário Soares, pasta 00006 001, imagens<br />

200-205. Desconhece-se o <strong>de</strong>stino do artigo ou discurso.<br />

94<br />

In Maria João Avillez, Soares, Ditadura […] cit., p. 228.<br />

24

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