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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

“Quando me encontrei pela primeira vez com Mário Soares, em 1969, ele tinha 44 anos. Dez anos mais<br />

novo do que eles, eu tinha acabado <strong>de</strong> ser eleito Secretário-geral da Internacional Socialista, que realizava<br />

o seu 11º Congresso, em Eastbourne, Inglaterra, ao qual estávamos a assistir. Ele foi com os seus<br />

companheiros, Tito <strong>de</strong> Morais e Ramos da Costa, como observadores. Os <strong>de</strong>legados prestaram-lhes pouca<br />

atenção, enquanto Andreas Papandreaou, lí<strong>de</strong>r da oposição contra o regime militar na Grécia, foi tratado<br />

como uma estrela. Mas, Mário Soares e os seus amigos actuaram nos bastidores, cumprimentando uma<br />

<strong>de</strong>legação após outra e pedindo a sua ajuda. (…) Quando o Mário Soares me foi apresentado, no recanto<br />

escuro do salão do Congresso (…) eu mal conseguia ver a sua cara. Mas, imediatamente senti a<br />

afabilida<strong>de</strong> da sua personalida<strong>de</strong> e a sincerida<strong>de</strong> do seu aperto <strong>de</strong> mão. (…) Ele convidou-me para ir a<br />

Portugal, o mais breve possível. „Precisamos da sua ajuda‟, disse ele. „Po<strong>de</strong>mos fazer gran<strong>de</strong>s coisas<br />

juntos‟.” 70<br />

Era preciso trilhar um caminho. Construir o nome <strong>de</strong> um lí<strong>de</strong>r credível para a oposição<br />

portuguesa, à luz da i<strong>de</strong>ologia política da Europa Oci<strong>de</strong>ntal, aceitável como alternativa ao regime<br />

vigente. Mas era, igualmente, necessário construir e divulgar uma i<strong>de</strong>ia política sobre o país e a<br />

Europa. 71 Era necessário <strong>de</strong>stronar a i<strong>de</strong>ia criada pela campanha estrangeira <strong>de</strong> Salazar <strong>de</strong> que a<br />

oposição em Portugal era dominada por comunistas.<br />

Soares per<strong>de</strong>u as eleições <strong>de</strong> 1969, mas ganhou a percepção <strong>de</strong> uma necessida<strong>de</strong> prometedora:<br />

<strong>de</strong>stronar a propaganda salazarista na Europa, sobre a inexistência <strong>de</strong> uma oposição não comunista. Já o<br />

havia começado a fazer no Congresso da IS, em Eastbourne, em Agosto, com um discurso revelador do<br />

regime opressivo português e da existência <strong>de</strong> “uma ampla corrente que se reclamava das i<strong>de</strong>ias do<br />

socialismo <strong>de</strong>mocrático” 72 , mas era preciso mais. O interesse da comunida<strong>de</strong> internacional, confirma-<br />

lhe também a tese da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>marcação do PCP, dá-lhe alento para continuar a estratégia <strong>de</strong><br />

cativar apoio europeu, lançando assim as bases para uma verda<strong>de</strong>ira campanha na e pela Europa. Era na<br />

Europa que era preciso começar a actuar e fazer a oposição que não era possível na sua terra natal.<br />

“Sempre pensei que uma das razões da longa permanência do salazarismo, resultou da situação <strong>de</strong><br />

isolamento internacional das forças <strong>de</strong>mocráticas (…). A oposição <strong>de</strong>mocrática, isolada <strong>de</strong> todos os<br />

contactos com a Europa, inteiramente <strong>de</strong>sconhecida no estrangeiro, viveu, até há muito pouco tempo,<br />

numa espécie <strong>de</strong> gueto político. (…) as únicas ligações, no plano político, que se foram estabelecendo<br />

entre a Oposição Portuguesa e os meios <strong>de</strong>mocráticos e progressistas europeus seguiam normalmente os<br />

canais comunistas ou para-comunistas.” 73<br />

Era preciso então quebrar esse isolamento, iniciando uma verda<strong>de</strong>ira campanha na e pela<br />

Europa. Na Europa, porque era aí que estavam as oportunida<strong>de</strong>s, os acontecimentos, os organismos e os<br />

lí<strong>de</strong>res que po<strong>de</strong>riam vir a apoiar os socialistas portugueses. Pela Europa, porque estava em causa, para<br />

a construção <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ia credível para Portugal, alternativa à do regime vigente, a i<strong>de</strong>ntificação com<br />

os valores políticos e sociais europeus. De modo que, também, ao longo <strong>de</strong>stes últimos anos, ainda<br />

70 Hans Janitschek, cit., p. 7.<br />

71 “Nessa altura, não havia muita gente fora <strong>de</strong> Portugal que soubesse muito sobre o país, excepto que tinha, juntamente com<br />

Espanha, ajudado a evitar a <strong>de</strong>rrota dos outros po<strong>de</strong>res fascistas, Alemanha e Itália, e que foi aceite na NATO, nas Nações<br />

Unidas e na EFTA. ” I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, pp. 6,7.<br />

72 In Maria João Avillez, Soares, Ditadura […] cit., p. 224.<br />

73 Mário Soares, Portugal […] cit., p. 534.<br />

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