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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

em Portugal. 48 Dando um novo dinamismo ao DDS, a RR li<strong>de</strong>ra a elaboração do Programa para a<br />

Democratização da República (PDR), lançado em 1960, que se assume como da oposição não<br />

comunista, ainda impregnado no espírito da I República. Mário Soares foi um dos principais redactores<br />

do referido programa, que, embora reunindo várias sensibilida<strong>de</strong>s não comunistas e veiculando ainda<br />

um certo conservadorismo republicano, <strong>de</strong>nota também a preocupação na projecção <strong>de</strong> uma imagem<br />

para o exterior, como se constata no capítulo XIII, sobre Política Externa:<br />

“A política externa portuguesa, tendo como primeiro objectivo a cooperação internacional, dará particular<br />

relevância à posição <strong>de</strong> Portugal como país membro da Organização das Nações Unidas e vincular-se-á ao<br />

acatamento das obrigações resultantes das regras estabelecidas na respectiva Carta.” 49<br />

Dá-se sinais <strong>de</strong> uma posição <strong>de</strong> abertura externa, contrária ao isolacionismo diplomático do<br />

Estado Novo e condicente com a política do bloco oci<strong>de</strong>ntal, em que a participação na ONU <strong>de</strong>ve ter<br />

como consequência o “estabelecimento <strong>de</strong> relações diplomáticas com todos os países nela integrados.” 50<br />

Este posicionamento <strong>de</strong> abertura ao exterior será uma tendência crescente em Soares.<br />

Com a dissolução do projecto <strong>de</strong> constituição da frente revolucionária e carente <strong>de</strong> massa<br />

humana, perante um contexto <strong>de</strong> in<strong>de</strong>finição, uma crescente visibilida<strong>de</strong> do socialismo <strong>de</strong>mocrático<br />

europeu e a pressão feita, essencialmente, pelos seus membros no exterior, a RR agrega o termo<br />

socialista, em 1963, passando a <strong>de</strong>nominar-se Resistência Republicana Socialista. Ostenta, assim, a sua<br />

tendência à esquerda e <strong>de</strong>marca-se do conservadorismo republicano, afirmando-se como aglutinadora<br />

dos socialistas e sociais-<strong>de</strong>mocratas da época, proclamando-se uma organização <strong>de</strong> centro-esquerda. 51<br />

Desta forma, o grupo fica mais capaz <strong>de</strong> praticar uma oposição alternativa à comunista, <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolver relações diplomáticas, que já vinham timidamente a acontecer <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1958, e <strong>de</strong> conquistar<br />

credibilida<strong>de</strong> internacional, cuja necessida<strong>de</strong> já se evi<strong>de</strong>nciara <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a candidatura <strong>de</strong> Delgado. Mário<br />

Soares, representante da RR no interior, enceta alguns contactos, nomeadamente com representantes<br />

diplomáticos dinamarqueses e americanos. 52 Enquanto isso, Piteira Santos, Ramos da Costa e Tito <strong>de</strong><br />

Morais, exilados em França e na Argélia, encetam contactos com partidos socialistas estrangeiros, na<br />

busca <strong>de</strong> apoio. Estão lançados os pilares que, brevemente, levarão à constituição da ASP e do PS e à<br />

<strong>de</strong>finitiva rendição <strong>de</strong> Soares a uma estratégia <strong>de</strong> oposição a Salazar, na e pela Europa.<br />

48 “A partir <strong>de</strong> 1958, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> múltiplos factores - a que não foi estranha a <strong>de</strong>silusão que o comunismo, na sua formação<br />

estalinista, tem suscitado entre nós -, o movimento socialista começou a tentar implantar-se <strong>de</strong> novo nos meios operários.” In<br />

“Sou Socialista <strong>de</strong> Formação Marxista”, entrevista <strong>de</strong> Mário Mesquita a Mário Soares, 1972, Arquivo Fundação Mário Soares,<br />

pasta 00008 001, imagens 211-239.<br />

49 Programa para a Democratização da República, 31 <strong>de</strong> Janeiro, 1961, Centro <strong>de</strong> Documentação 25 <strong>de</strong> Abril, <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Coimbra</strong>, 323.2 (469) PRO.<br />

50 Ibi<strong>de</strong>m, p. 38.<br />

51 Susana Martins, cit., pp. 86-93.<br />

52 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 92.<br />

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