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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

3 – A Europa Oci<strong>de</strong>ntal como referência<br />

3.1 – A <strong>de</strong>scoberta da “terceira via” – o socialismo <strong>de</strong>mocrático e a sedução pela Europa<br />

Oci<strong>de</strong>ntal<br />

Procurando um caminho alternativo às opções políticas que encontrava em Portugal, no período<br />

que entremeia o seu afastamento do PCP e os inícios da década <strong>de</strong> 60, Soares vive mais “para si” e para<br />

a sua formação intelectual. Começou “a estudar os problemas <strong>de</strong> Portugal”, para os quais procurava<br />

“uma solução exequível, ao nível português”, mas sem se “abstrair das limitações próprias da<br />

conjuntura internacional.” Tentava “ultrapassar os esquemas teóricos” que até aí o haviam amparado,<br />

“como bordões pré-elaborados, muitas vezes para situações diversas (…)” 37 Para isso, muito contribuiu<br />

a <strong>de</strong>scoberta do France-Observateur, que lhe apresentou uma linha neutralista, que influencia a<br />

construção <strong>de</strong> um pensamento autónomo e alterno ao então dominante na oposição política portuguesa.<br />

O jornal francês fizera-o reflectir sobre a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> abdicação das posições <strong>de</strong> Washington e<br />

Moscovo e da existência <strong>de</strong> um caminho alternativo. Num mundo bipolarizado, esta era uma posição<br />

política <strong>de</strong>safiadora e exigente <strong>de</strong> argumentação e análise social, mas que seduziu Soares e lhe abriu<br />

horizontes para o socialismo <strong>de</strong>mocrático. Embora <strong>de</strong>sgoste da expressão “terceira via” para classificar<br />

esta posição i<strong>de</strong>ológica, tratava-se, <strong>de</strong> facto, <strong>de</strong> uma nova opção perante aquelas duas dominantes. Tal<br />

implicava, por um lado, “<strong>de</strong>marcar uma fronteira clara entre a esquerda socialista e o totalitarismo<br />

comunista;” e, por outro, “o atlantismo anticomunista, à outrance (…)” 38 Assim se começa a <strong>de</strong>linear a<br />

sua formação política <strong>de</strong> centro-esquerda e <strong>de</strong> uma alternativa pacifista à rivalida<strong>de</strong> bipolar<br />

internacional, o que lança os alicerces para o seu entendimento da importância <strong>de</strong> mediação <strong>de</strong> uma<br />

zona política europeia.<br />

Nesta senda intelectual, o futuro lí<strong>de</strong>r do PS não <strong>de</strong>ixa, contudo, <strong>de</strong> ir tendo participação activa<br />

em grupos orientados para uma oposição mais cívica do que política, que resultam da reunião <strong>de</strong><br />

pessoas que faziam a mesma busca interior e não se i<strong>de</strong>ntificavam com o partido dominante da<br />

oposição. Com a comum <strong>de</strong>scrença do dogmatismo doutrinário do PCP, Fernando Piteira Santos,<br />

Ramos da Costa e Francisco Salgado Zenha abandonam o partido pela mesma altura e, juntando-se com<br />

antigos membros <strong>de</strong>siludidos da União Socialista, 39 formam, por volta <strong>de</strong> 1953 40 , a Resistência<br />

37 Mário Soares, Portugal Amordaçado […] cit., p. 193.<br />

38 In Maria João Avillez, Soares, Ditadura […] cit., p.104.<br />

39 Com a instauração da ditadura e os <strong>de</strong>sentendimentos dos membros do Partido Socialista, constituído em 1875, por Antero <strong>de</strong><br />

Quental e José Fontana, entre outros, os problemas agravam-se. Sem uma estratégia clara para fazer oposição no Estado Novo,<br />

o PS acaba mesmo por se dissolver. A União Socialista surge em 1944, como tentativa <strong>de</strong> reorganização das forças socialistas,<br />

com nomes como Mário Cal Brandão, José Magalhães Godinho, Gustavo Soromenho e António Macedo, entre outros. A União<br />

Socialista esteve na origem do MUNAF, com o PCP. Ver Fernando Rosas; J. M. Brandão <strong>de</strong> Brito (coord), Dicionário <strong>de</strong> História<br />

do Estado Novo, volume II, […], pp. 935-939; Cf. Susana Martins, Socialistas na Oposição ao Estado Novo, Cruz Quebrada,<br />

Casa das Letras, 2005, pp. 39-68.<br />

40 Nos vários documentos analisados, não foi possível encontrar uma data certa para a constituição da Resistência Republicana.<br />

É também o que constata Susana Martins, ibi<strong>de</strong>m.<br />

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