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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

Neste sentido, Soares volta a colocar o país, após o interregno do Estado Novo, no seu sistema<br />

contemporâneo <strong>de</strong> alianças. Des<strong>de</strong> o século XIX, o Reino Unido foi o tradicional aliado português, que<br />

coadjuvou Portugal em momentos conturbados da sua história, servindo simultaneamente os interesses<br />

britânicos. Com o Estado Novo, esta aliança <strong>de</strong>svanece-se, pela condução <strong>de</strong> uma política externa mais<br />

autónoma e <strong>de</strong> afastamento do sistema geopolítico oci<strong>de</strong>ntal - sendo que a relação luso-britânica é<br />

apenas tacitamente mantida, com algumas cedências conjunturais <strong>de</strong> Salazar aos interesses ingleses e<br />

oci<strong>de</strong>ntais (o que acabava também por ser do seu interesse perante a falta <strong>de</strong> alternativa), mas sem<br />

marcar uma opção estrutural da sua política. Com Soares, Portugal retorna à sua política <strong>de</strong> alianças<br />

oci<strong>de</strong>ntais, o que configura não só uma rendição às evidências da condição geográfica portuguesa,<br />

como também a percepção <strong>de</strong> que Portugal precisa <strong>de</strong> ajuda externa para sobreviver como país<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.<br />

No relacionamento e acção <strong>de</strong> Soares com a e na Europa, verificamos também uma<br />

continuida<strong>de</strong> do paralelismo histórico da importância que a posição geográfica portuguesa assume para<br />

a concretização <strong>de</strong> objectivos nacionais em momentos conturbados da história do país. Foi a<br />

importância da localização geográfica do país para a manutenção do satus quo geopolítico oci<strong>de</strong>ntal que<br />

incrementou o interesse dos lí<strong>de</strong>res europeus e, posteriormente, norte-americanos, a ajudar Soares e os<br />

mo<strong>de</strong>rados no seu combate contra as forças <strong>de</strong> esquerda. Verifica-se assim uma linha <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong><br />

histórica, pois a situação geográfica portuguesa tem sido a salvaguarda política para diferentes regimes<br />

e governantes portugueses, em momentos conturbados. Foi-o nas invasões francesas, com a ajuda dos<br />

britânicos impulsionada pelo seu interesse no controlo marítimo do Atlântico e da entrada do seu<br />

império naval no comércio brasileiro. A Inglaterra continua a prestar a mesma ajuda, no período <strong>de</strong><br />

instabilida<strong>de</strong> das lutas liberais, 1820 e 1850, perante os intentos <strong>de</strong> invasão espanhola. O Ultimaum<br />

inglês revela a permanência dos interesses <strong>de</strong> Londres em Portugal, mas apesar do orgulho ferido,<br />

Lisboa acaba por conseguir garantir o seu império colonial.<br />

Mesmo o Estado Novo, que conduz uma política externa mais autónoma, acaba por ce<strong>de</strong>r às<br />

pressões inglesas e norte-americanas na concessão <strong>de</strong> facilida<strong>de</strong>s nos Açores na II Guerra Mundial, o<br />

que lhe garante a sobrevivência do regime após o fim do conflito. Mais uma vez, a geografia<br />

portuguesa, enquanto fonte <strong>de</strong> interesse geoestratégico para o emergente sistema <strong>de</strong> aliança <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa<br />

oci<strong>de</strong>ntal, permitiu a Salazar a continuida<strong>de</strong> da ditadura, com a complacência das <strong>de</strong>mocracias<br />

europeias e dos EUA. Do mesmo modo, o valor geopolítico do país foi crucial para a estratégia <strong>de</strong><br />

Soares, particularmente durante o PREC. O interesse dos lí<strong>de</strong>res oci<strong>de</strong>ntais em Portugal incrementou o<br />

seu empenho em acções diplomáticas <strong>de</strong> ajuda aos intentos do PS após a Revolução. Mais. Com a<br />

coincidência histórica do fecho dos Acordos <strong>de</strong> Helsínquia, os lí<strong>de</strong>res europeus obtiveram maior po<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong> negociação com a URSS, para a salvaguarda do interesse oci<strong>de</strong>ntal em Portugal. Digamos que esta<br />

coincidência temporal potenciou a importância geoestratégica <strong>de</strong> Portugal.<br />

Neste sentido, tanto Soares como Salazar beneficiaram <strong>de</strong> momentos cruciais da história<br />

oci<strong>de</strong>ntal, para levar avante as suas intenções políticas. Para Salazar foi importante o sistema <strong>de</strong><br />

alianças que emergiu da II Guerra Mundial, com o surgimento da Guerra Fria, e para Soares foi<br />

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