Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />
Conclusão<br />
Até que ponto a relação <strong>de</strong> Mário Soares com a Europa, encetada no exílio, foi <strong>de</strong>terminante<br />
para o Portugal que temos hoje? Esta é a pergunta central a que se nos impõe respon<strong>de</strong>r na conclusão do<br />
trabalho <strong>de</strong>senvolvido ao longo <strong>de</strong>stas páginas. Se não foi <strong>de</strong>terminante, po<strong>de</strong>mos afirmar que foi o<br />
facto mais prepon<strong>de</strong>rante para o rumo europeu <strong>de</strong> Portugal e para a inserção do país na lógica<br />
económica, social e política contemporânea.<br />
Se após o 25 <strong>de</strong> Abril, Soares não tivesse ganhado as eleições legislativas e proposto a entrada<br />
<strong>de</strong> Portugal para a CEE, certamente o PPD, o maior partido seu rival, tê-lo-ia feito, uma vez que esse<br />
era também seu objectivo partidário. Mas Soares tinha a vantagem <strong>de</strong> ter um historial <strong>de</strong><br />
relacionamento com os principais lí<strong>de</strong>res europeus, um nome conhecido que conferia,<br />
instantaneamente, uma credibilida<strong>de</strong> ímpar ao projecto português <strong>de</strong> integração europeia.<br />
Questionamos, ainda, se Soares não tivesse vivido o exílio e feito os seus “amigos” na Europa, se o<br />
<strong>de</strong>sfecho da Revolução 25 <strong>de</strong> Abril teria permitido as condições políticas <strong>de</strong>mocráticas que levaram à<br />
eleição legislativa do PS em 1976. As amiza<strong>de</strong>s e a confiança que conquistou na Europa durante o<br />
exílio foram cruciais para o reforço da acção da ala mo<strong>de</strong>rada durante o PREC e para a dissuasão do<br />
PCP à acção – para o que contribuíram as pressões diplomáticas do Oci<strong>de</strong>nte sobre a URSS, para não<br />
interferência na situação portuguesa.<br />
Porém, a importância da vivência do exílio não se reduz a esta repercussão. Concluímos que o<br />
exílio foi, <strong>de</strong> longe, a experiência mais importante para a vida política e o pensamento <strong>de</strong> Mário Soares.<br />
Mais. As suas vivências do exílio, conjuntamente com as acções <strong>de</strong> Ramos da Costa e Tito <strong>de</strong> Morais,<br />
foram um dos episódios com mais repercussão para a história <strong>de</strong> Portugal, após o 25 <strong>de</strong> Abril. O exílio<br />
foi a base <strong>de</strong> tudo, o início, a partir do qual tudo foram repercussões. Foi a sedimentação <strong>de</strong> uma relação<br />
com a Europa que já o vinha seduzindo antes. Foi a celebração <strong>de</strong> um “casamento” i<strong>de</strong>ológico e político<br />
com a Europa, <strong>de</strong> que não mais se separará e que marcará <strong>de</strong>finitivamente o seu posicionamento como<br />
português no mundo, e <strong>de</strong> Portugal no mundo.<br />
Po<strong>de</strong>mos estabelecer, em Soares, dois níveis <strong>de</strong> relação com a Europa: um político (o<br />
pragmático) e outro i<strong>de</strong>ológico. Nestes dois níveis <strong>de</strong> relação, posicionamos a Europa em duas<br />
vertentes: ela foi, simultaneamente, um meio (nível <strong>de</strong> relacionamento político) e um fim (nível <strong>de</strong><br />
relacionamento i<strong>de</strong>ológico). A Europa foi um meio político para Soares fazer uma oposição renovada<br />
ao Estado Novo e <strong>de</strong> prosseguir a sua estratégia, cujo fim, o objectivo, se liga com o nível i<strong>de</strong>ológico do<br />
seu relacionamento com a Europa: instituir a social-<strong>de</strong>mocracia europeia em Portugal e concretizar a<br />
a<strong>de</strong>são do país à CEE. Portanto, na acção, na estratégia política e no pensamento <strong>de</strong> Soares, a Europa<br />
foi sempre o meio <strong>de</strong> Portugal atingir a própria Europa.<br />
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