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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

europeu, que seria o presi<strong>de</strong>nte da Comissão Europeia, portanto, o presi<strong>de</strong>nte da União Europeia. Mas,<br />

a existência do presi<strong>de</strong>nte impõe, para Soares, uma importante salvaguarda <strong>de</strong>mocrática da distinção<br />

fe<strong>de</strong>ral: saber como é eleito. Não pelo Conselho, porque aí acentuar-se-ia a intergovernamentalida<strong>de</strong>.<br />

“Preferia que fosse eleito pelo Parlamento Europeu ou mesmo, directamente, pelos eleitorados dos<br />

países membros. Acho que o Presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>ve ter força e essa força só lhe po<strong>de</strong> vir da sua<br />

representativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática.” 632 É o reforço do conceito <strong>de</strong>mocrático da União.<br />

Perante isto, surge a pergunta sobre a estratégia <strong>de</strong> implementação <strong>de</strong> um sistema fe<strong>de</strong>ral. Com<br />

uma alteração institucional radical, que efective todas estas transformações, ou gradualmente, através <strong>de</strong><br />

sucessivos tratados <strong>de</strong> revisão? Incitador, como é, à unida<strong>de</strong> política europeia, seria compatível com a<br />

sua real vonta<strong>de</strong> que o fe<strong>de</strong>ralismo tomasse conta da Europa o mais rápido possível, mas não é esse<br />

rumo que indicam as suas palavras. O seu sentido prático <strong>de</strong> político e profundo conhecedor da história<br />

da UE, leva-o a sugerir uma mudança gradual: “É <strong>de</strong>sejável, creio eu, começar com um mo<strong>de</strong>lo menos<br />

rápido e irmos caminhando para uma espécie <strong>de</strong> Governo Fe<strong>de</strong>ral.” 633 Uma Europa construída pelos<br />

pequenos passos sugeridos por Jean Monnet.<br />

Na iminência <strong>de</strong> haver vonta<strong>de</strong> para avançar com o projecto fe<strong>de</strong>ral, mas não existir consenso<br />

entre todos os países, o que é bastante possível, pois os novos Estados membros não <strong>de</strong>verão querer<br />

alienar já a sua soberania, Soares consi<strong>de</strong>ra que os que estão predispostos não <strong>de</strong>vem ficar num impasse<br />

à espera <strong>de</strong> unanimida<strong>de</strong>, mas partir para a Europa “a duas velocida<strong>de</strong>s,” 634 utilizando o instrumento da<br />

cooperação reforçada, criado em Maastricht. “A União encaminhar-se-á, necessariamente, para a<br />

criação <strong>de</strong> um núcleo duro, (ou <strong>de</strong> uma avant gar<strong>de</strong>, como lhe chama Delors), constituída pelos países<br />

dispostos a avançar mais rapidamente em sucessivas «cooperações reforçadas» <strong>de</strong> sentido<br />

fe<strong>de</strong>ralista.” 635<br />

Que países po<strong>de</strong>riam constituir este núcleo? Mário Soares não é explícito relativamente a isto,<br />

mas revela 636 concordância pela sugestão <strong>de</strong> Guy Verhofstadt. O antigo primeiro-ministro belga vê nos<br />

Estados membros a<strong>de</strong>rentes ao euro o grupo i<strong>de</strong>al para avançar com a cooperação reforçada na união<br />

política. Primeiro, porque este conjunto já “provou várias vezes dar frutos,” além <strong>de</strong> que na Zona Euro<br />

já existem critérios bem <strong>de</strong>finidos <strong>de</strong> défices orçamentais, inflação e dívida pública. 637 Esta<br />

concretização levaria a uma Europa constituída por dois grupos: “um núcleo político, os «Estados<br />

Unidos da Europa», correspon<strong>de</strong>nte à Zona Euro, e uma confe<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> Estados, uma «Organização<br />

<strong>de</strong> Estados Europeus»”, sendo que, pela perspectiva integracionista da Europa, o núcleo avançado<br />

estaria sempre aberto à entrada <strong>de</strong> novos países. “O objectivo final é que todos os Estados-membros<br />

adiram à nova Europa.” 638<br />

632<br />

Mário Bettencourt Resen<strong>de</strong>s, cit., p. 59.<br />

633<br />

Mário Soares, “Repensar a Europa”, in Diário <strong>de</strong> Notícias, 9.11.2003 e 11.05.2003, in Mário Soares, Um Mundo […] cit., p.<br />

174.<br />

634<br />

I<strong>de</strong>m, “Uma ambição europeia”, in Expresso, 23.11.2002, in Mário Soares, Um Mundo […] p. 215.<br />

635<br />

I<strong>de</strong>m, “A Gran<strong>de</strong> Europa”, in Mário Soares, Um Mundo […] cit., p. 154.<br />

636<br />

I<strong>de</strong>m, “Ser Europeu hoje; caminho para a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> entre o passado e o futuro”, discurso proferido a convite da Fundação da<br />

Câmara dos <strong>de</strong>putados <strong>de</strong> Itália no Colóquio Comemorativo dos 50 anos da assinatura dos Tratados <strong>de</strong> Roma.<br />

http://www.fundacao-mario-soares.pt/mario_soares/textos_ms/001/71.pdf , acedido em 25.09.2010.<br />

637<br />

Guy Verhofstadt, cit., pp. 86-88.<br />

638 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 88.<br />

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