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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

entrave à união política. 624 Daqui advém que, se a intergovernamentalida<strong>de</strong> continuar a impor-se, a UE<br />

volta “a uma espécie <strong>de</strong> CEE alargada, ou seja, a uma ampla área <strong>de</strong> livre comércio (…).” 625<br />

É assim justificada a necessida<strong>de</strong>, antes <strong>de</strong> mais, orgânica, <strong>de</strong> ser arquitectado um sistema<br />

<strong>de</strong>cisório autónomo para a União. Com o actual sistema institucional não é possível chegar à tomada <strong>de</strong><br />

políticas comuns, que sirvam os interesses comunitários gerais em <strong>de</strong>trimento dos nacionalistas,<br />

dotando a UE <strong>de</strong> instrumentos mais <strong>de</strong>mocráticos <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão. I<strong>de</strong>ntificado o problema, daí surge a<br />

proposta <strong>de</strong> constituir uma Fe<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> Estados Nação. E quais os mol<strong>de</strong>s em que se constituiria esta<br />

fe<strong>de</strong>ração? A partir do triângulo institucional governativo actual (Comissão Europeia, Parlamento<br />

Europeu e Conselho Europeu)? É o que vamos abordar <strong>de</strong> seguida.<br />

2.3.1 – Que mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> fe<strong>de</strong>ração?<br />

A necessária reforma das instituições comunitárias, ten<strong>de</strong>nte à união política, <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>sembocar<br />

numa “Europa Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Estados-nação.” 626 Neste âmbito, a Comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser dotada <strong>de</strong> um<br />

verda<strong>de</strong>iro governo, um governo fe<strong>de</strong>ral que <strong>de</strong>ve emanar da Comissão Europeia, através <strong>de</strong> uma<br />

transferência <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res do Conselho Europeu para a Comissão. 627 “Sou pelo reforço dos po<strong>de</strong>res da<br />

Comissão <strong>de</strong> forma a po<strong>de</strong>r transformar-se, no futuro, num governo Europeu (…).” 628 Ora, é portanto<br />

daqui que emerge o carácter fe<strong>de</strong>ralista, pois a comissão é o órgão menos nacionalista e mais<br />

comunitário da União, o que se traduziria na diminuição do po<strong>de</strong>rio dos Estados. Mas, sendo este<br />

processo <strong>de</strong> transferência consequente num esvaziamento <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res do Conselho, qual o <strong>de</strong>stino <strong>de</strong>ste<br />

órgão? “O Conselho <strong>de</strong> Ministros e o Conselho Europeu <strong>de</strong>vem apagar-se cada vez mais, reconhecendo<br />

espaço <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão à Comissão (…).” 629 O verbo apagar <strong>de</strong>ixa à mercê da ambiguida<strong>de</strong> o <strong>de</strong>stino final do<br />

Conselho, que tanto po<strong>de</strong>rá permanecer como órgão representativo dos Estados, se incluído como<br />

câmara no Parlamento, como <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> Guy Verhofstadt, 630 como <strong>de</strong>saparecer mesmo. Nos vários textos<br />

analisados, não é claro o <strong>de</strong>stino que Soares reserva a este órgão.<br />

Ainda na concepção soarista, sendo a Comissão investida <strong>de</strong> mais po<strong>de</strong>res, seria imperativo<br />

que fosse fiscalizada pelo Parlamento Europeu, sendo este complementado com um Senado, à<br />

semelhança do Americano, on<strong>de</strong> todos os países estariam representados em igualda<strong>de</strong>,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da sua dimensão geográfica e populacional, 631 o que realçaria o sentido <strong>de</strong><br />

igualda<strong>de</strong> e <strong>de</strong>mocraticida<strong>de</strong> da União. A completar o mo<strong>de</strong>lo, haveria o presi<strong>de</strong>nte do governo<br />

624 I<strong>de</strong>m, “A Europa em tormenta”, in Mário Soares, Um Mundo […] cit., p. 210.<br />

625 I<strong>de</strong>m, “Copenhaga, o alargamento e o resto”, artigo publicado no La Vanguardia, 12.12.2002, in Mário Soares, Um Mundo […]<br />

cit., p. 221.<br />

626 I<strong>de</strong>m, “O euro”, artigo publicado no Diário Económico, 02.01.2002, in Mário Soares, Um Mundo […] cit., p.161.<br />

627 Ver entrevista “Repensar a Europa”, in Diário <strong>de</strong> Notícias, <strong>de</strong> 9 e 11.05.2003, in Mário Soares, Um Mundo […] cit., pp. 165-<br />

191.<br />

628 Mário Soares, “Sobre a Convenção Europeia”, in Mário Soares, Um Mundo […] cit., p. 190.<br />

629 I<strong>de</strong>m, “Repensar a Europa”, Diário <strong>de</strong> Notícias, <strong>de</strong> 9 e 11.05.2003, in Mário Soares, Um Mundo […] cit., p. 174.<br />

630 Guy Verofstadt, Os Estados Unidos da Europa, Lisboa, Gradiva, 2006.<br />

631 Ver Entrevista “Repensar a Europa”, Diário <strong>de</strong> Notícias, <strong>de</strong> 9 e 11.05.2003, cit., pp. 165-191 e intervenção feita na reunião <strong>de</strong><br />

Bruges, em 26 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 2002, Mário Soares, “Sobre a Convenção Europeia”, in Mário Soares, Um Mundo […] cit., pp. 188-<br />

191.<br />

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