Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />
Doze,” torna-se necessário, para que assuma importância, que a sua unida<strong>de</strong> política seja “acelerada<br />
evoluindo para uma fe<strong>de</strong>ração.” 604<br />
2.2.3.1 - Uma Europa política é uma fe<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> estados nação<br />
A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> união política, que <strong>de</strong>verá evoluir para um mo<strong>de</strong>lo fe<strong>de</strong>rativo, é invocada<br />
também a propósito <strong>de</strong> outros contextos geopolíticos mais recentes, particularmente com a emergência<br />
do unilateralismo norte-americano, que Soares refuta vivamente e para cuja solução <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> uma<br />
Europa <strong>de</strong> contra-peso. Perante este cenário, o mundo precisa da União como projecto político, um<br />
projecto que se torna “tanto mais importante quanto, em tempos <strong>de</strong> globalização <strong>de</strong>sregulada, avultam,<br />
em política externa, o unilateralismo da potência dominante e o estranho conceito <strong>de</strong> «guerra<br />
preventiva», uma verda<strong>de</strong>ira bomba <strong>de</strong> subversão do Direito Internacional.” 605 Mas, para exercer esse<br />
equilíbrio no mundo, a Europa “tem <strong>de</strong> progredir em termos <strong>de</strong> União política efectiva, num sentido<br />
fe<strong>de</strong>ralista, mais ou menos explícito.” 606 Esta necessida<strong>de</strong> fe<strong>de</strong>ral é justificada não só pela necessida<strong>de</strong><br />
da Europa resistir, ela própria, ao pensamento único e fazer prevalecer internamente os seus valores<br />
ancestrais, como também pela necessida<strong>de</strong> do resto do mundo, para que não fique subjugado aos<br />
interesses norte-americanos<br />
Concluímos assim que o cumprimento <strong>de</strong> uma Europa dos Cidadãos, com um papel histórico,<br />
renovado em cada necessida<strong>de</strong> presente, está numa verda<strong>de</strong>ira unida<strong>de</strong> política. Por isso Soares aplau<strong>de</strong><br />
as iniciativas <strong>de</strong> reforço político da Comunida<strong>de</strong>, como o Tratado <strong>de</strong> Maastricht - cujos “avanços<br />
conseguidos (…) nos permitem prever uma Europa dos Cidadãos, uma Europa da Ciência e da Cultura<br />
e uma Europa Social” 607 - e a institucionalização da eleição dos <strong>de</strong>putados do Parlamento Europeu por<br />
sufrágio directo. Por outro lado, critica as reformas institucionais que consi<strong>de</strong>ra ser retrocessos. As<br />
reprimendas mais veementes suce<strong>de</strong>m-se ao Tratado <strong>de</strong> Nice, assinado em 2001, que fez <strong>de</strong>sabar a<br />
esperança <strong>de</strong> aprofundamento político da União, lançada em Maastricht, 608 e que não revolveu a<br />
604 Mário Soares, “Reforçar o Património Comum”, discurso proferido na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, em 19.03.1990, na<br />
cerimónia <strong>de</strong> doutoramento honoris causa, in Mário Soares, Intervenções 5 […] cit., p.83. Po<strong>de</strong> constatar-se a mesma i<strong>de</strong>ia na<br />
seguinte <strong>de</strong>claração: “Creio que todos teremos a ganhar em que a unificação das Alemanhas, no plano do Direito, ocorra sem<br />
dramatizações (…). Isso representa, naturalmente, um novo <strong>de</strong>safio para a Europa Comunitária. Tem que o saber ganhar. A<br />
resposta a essa situação nova, quanto a mim, resi<strong>de</strong> na aceleração da unida<strong>de</strong> europeia por forma a que a Comunida<strong>de</strong> se<br />
transforme numa verda<strong>de</strong>ira Fe<strong>de</strong>ração e no reforço da coesão económica entre os Doze.” Entrevista concedida por Mário<br />
Soares à revista Homem Magazine, em Abril <strong>de</strong> 1990, in Mário Soares, Intervenções 5 […] cit., p. 404.<br />
605 Mário Soares, “Copenhaga, o Alargamento e o resto”, artigo publicado no jornal La Vanguardia, 12.12.2002, in Mário Soares,<br />
Um Mundo […] cit., p. 221. Perante o domínio unilateral norte-americano, Soares não se contém na crítica a uma Europa com<br />
falta <strong>de</strong> voz no concerto internacional. Uma crítica que não é apenas recente, mas vem emergindo com a eclosão <strong>de</strong> conflitos<br />
internacionais que assolaram o mundo após a Guerra Fria, como se reflecte nesta <strong>de</strong>claração: “Os recentes acontecimentos<br />
internacionais, em especial a Guerra do Golfo, revelaram indubitavelmente ainda uma gran<strong>de</strong> fragilida<strong>de</strong> política da Comunida<strong>de</strong><br />
Europeia. (…) Nos domínios da <strong>de</strong>fesa e da Política Externa, revelou-se como absolutamente necessária uma harmonização<br />
política.”, Mário Soares, “A Criação <strong>de</strong> um Pólo Europeu”, discurso proferido na sessão inaugural do ciclo <strong>de</strong> conferências “O<br />
Futuro das Europa”, organizado pela Associação Portuguesa <strong>de</strong> Economistas, em 18.03.1991, in Mário Soares, Intervenções 6<br />
[…] cit., p. 233.<br />
606 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m.<br />
607 Mário Soares, “Uma Voz <strong>de</strong> Bom Senso”, texto publicado na revista Exame, em 18.12.1991, in Mário Soares, Intervenções 6<br />
[…] cit., p. 217. Cf. Mário Soares, “Prosseguir Decididamente a Construção da Europa”, discurso proferido em Londres, em<br />
28.04.1993, no almoço oferecido pelo Primeiro-ministro John Major, in Mário Soares, Intervenções […] cit., pp. 174,175.<br />
608 Compreen<strong>de</strong>r Maastricht. O Tratado da União Europeia, Secretariado Europa 1992, Gabinete da Comissão das Comunida<strong>de</strong>s<br />
Europeias, pp. 13-27. Além <strong>de</strong> ter consagrado uma verda<strong>de</strong>ira cidadania europeia, com o estabelecimento <strong>de</strong> direitos comuns<br />
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