Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />
é a União Política que implica a partilha <strong>de</strong> soberania: é a partilha <strong>de</strong> soberania, implícita na União<br />
Económica e Monetária, que nos obriga a pensar no aprofundamento da dimensão política da<br />
comunida<strong>de</strong>. (…). 600<br />
Não se trata assim <strong>de</strong> construir um projecto político do topo para as bases, mas precisamente ao<br />
contrário. Será a evolução <strong>de</strong> várias áreas <strong>de</strong> intervenção comunitária, como a questão do mercado<br />
comum e a convergência monetária, que apelará à união política. Serão diferentes necessida<strong>de</strong>s reais,<br />
advindas da prática <strong>de</strong> diferentes políticas comunitárias, que convergirão para a necessida<strong>de</strong><br />
institucional <strong>de</strong> união política. Nesse sentido, a Europa caminhará para a unida<strong>de</strong> através <strong>de</strong> pequenos<br />
passos - como <strong>de</strong>fendiam os fundadores do projecto europeu - pela exigência da realida<strong>de</strong> do seu dia a<br />
dia. “O reforço da dimensão política é, a meu ver, indispensável para assegurar uma estratégia orientada<br />
para a promoção da convergência real das economias dos Estados membros.” 601<br />
Não são só os anseios económicos da Europa que exigem o aperfeiçoamento <strong>de</strong> mecanismos<br />
institucionais, mas também o mapa geopolítico mundial, em vários momentos históricos. Primeiro o<br />
mundo bipolar, <strong>de</strong>pois o multipolar e posteriormente o unilateralismo norte-americano. Para exercer o<br />
papel <strong>de</strong> balança geopolítica do mundo, que Soares lhe advoga, urge um aprofundamento político da<br />
Comunida<strong>de</strong>. Já antes do prenúncio da cisão do bloco comunista, na crónica “Fogo Solto”, em 1964,<br />
Soares antevira que “os esquemas maniqueístas do tempo da guerra-fria (tão fáceis) se revelam hoje<br />
obsoletos e inúteis”, sendo necessário “encarar a construção Europeia a outra luz (…).” 602<br />
Esta antevisão confirma-se, pois perante a queda do muro <strong>de</strong> Berlim e o <strong>de</strong>smoronamento da<br />
União Soviética, o bipolarismo terminara. “Com a previsível unificação da Alemanha, a Europa saída<br />
<strong>de</strong> Yalta parece ter chegado ao seu termo” e com ela, <strong>de</strong>senha-se o movimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização do<br />
Leste Europeu, a unificação alemã, o próprio eventual alargamento da Comunida<strong>de</strong>,” que não po<strong>de</strong> pôr<br />
em causa o projecto comunitário. Perante este reposicionamento geopolítico da Europa <strong>de</strong> Leste, a<br />
resposta mais a<strong>de</strong>quada “consiste na intensificação e aceleração da construção comunitária, em termos<br />
<strong>de</strong> uma maior unida<strong>de</strong> política e no reforço da solidarieda<strong>de</strong> entre os seus Estados Membros.” 603 Se<br />
perante um ainda incógnito futuro mapa geopolítico, se perfila uma “Europa Comunitária, a Europa dos<br />
600 Mário Soares, “Portugal, Horizonte Ano 2000”, conferência proferido em Lisboa, a 5.12.1990, no ciclo <strong>de</strong> conferências<br />
organizado pelo semanário O Jornal, in Mário Soares, Intervenções 5 […] cit., pp. 51, 52. I<strong>de</strong>ia repetida noutros discursos, como<br />
é exemplo: “(…) a aprovação recente do Acto Único Europeu, veio relançar a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Europa Comunitária, quer através <strong>de</strong><br />
estabelecimento do gran<strong>de</strong> mercado europeu e do reforço da coesão económica e social do espaço comunitário, quer através da<br />
construção da Europa dos Cidadãos, uma Europa apoiada na solidarieda<strong>de</strong> e no respeito mútuo, como fonte <strong>de</strong> afirmação, <strong>de</strong><br />
progresso e <strong>de</strong> enriquecimento comuns.”, Mário Soares, “Preservar a I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>”, discurso proferido em Solothurn, em<br />
20.05.1988, por ocasião da visita oficial à Confe<strong>de</strong>ração Helvética, in Mário Soares, Intervenções 3 […] cit., p. 249. Cf. Mário<br />
Soares, “Uma Europa <strong>de</strong> Progresso Social”, discurso proferido no Palácio da Ajuda, em 27.11.1990, no banquete <strong>de</strong> honra aos<br />
soberanos dos Países Baixos, in Mário Soares, Intervenções 5 […] cit., p. 247.<br />
601 Mário Soares, “Portugal na Comunida<strong>de</strong> Europeia do Futuro”, discurso proferido em Lisboa, em 19.10.1990, na sessão <strong>de</strong><br />
abertura da Conferência organizada pelo Grupo Socialista do Parlamento Europeu, in Mário Soares, Intervenções 5 […] cit., p.<br />
230.<br />
602 Mário Soares, “Fogo Solto - Estados Unidos da Europa”, crónica escrita para o Jornal República, cortada pela censura,<br />
Arquivo Fundação Mário Soares, pasta 02263 003, imagens 116 -117.<br />
603 Mário Soares, “Reforçar a Solidarieda<strong>de</strong> Europeia”, discurso proferido no Palácio da Ajuda, em 26.03.1990, no banquete <strong>de</strong><br />
honra do Presi<strong>de</strong>nte da república Fe<strong>de</strong>ral Alemã, in Mário Soares, Intervenções 5 […] cit., p. 240. Outros exemplos <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>clarações que reforçam a i<strong>de</strong>ia: “(…) as vertiginosas transformações ocorridas a Leste da Europa estão a pôr em causa os<br />
equilíbrios geopolíticos, que têm estruturado a Europa nas quatro décadas que se seguiram à guerra mundial. Obrigam-nos, por<br />
outro lado, a repensar a nossa estratégia futura …”, Mário Soares, “A Europa dos Anos 90”, conferência realizada em 9.02.1990,<br />
no colóquio comemorativo dos 3 anos do Semanário Económico, in Mário Soares, Intervenções 5 […] cit., p 208.<br />
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