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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

política, <strong>de</strong>verá advir <strong>de</strong> uma consciência comum <strong>de</strong> cidadania europeia. Já Winston Churchill, num<br />

discurso consi<strong>de</strong>rado como o relançamento da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> europeia, valorizara o cidadão como<br />

motor do <strong>de</strong>stino comum da Europa - “E porque razão não po<strong>de</strong>rá existir um agrupamento europeu<br />

capaz <strong>de</strong> conferir um sentido <strong>de</strong> patriotismo alargado e cidadania comum aos povos aturdidos <strong>de</strong>ste<br />

continente po<strong>de</strong>roso e turbulento? E porque não haveria <strong>de</strong> ocupar o lugar a que tem direito, moldando<br />

os <strong>de</strong>stinos dos homens?” 591<br />

Se alcançada essa base <strong>de</strong> partilha, uma consciência europeia colectiva <strong>de</strong> cidadania, será o<br />

cidadão a exigir às elites políticas a construção <strong>de</strong> uma União Europeia política, social, cultural,<br />

solidária, igualitária, humanista. “(…) é preciso que se <strong>de</strong>senvolva a consciência europeia e se perceba<br />

que a Europa tem <strong>de</strong> ser, também, a Europa das regiões, dos cidadãos, do social, da cultura, da<br />

solidarieda<strong>de</strong>. O que é fundamental é que se crie um movimento <strong>de</strong> opinião pública que ultrapasse as<br />

fronteiras.” 592 Acima <strong>de</strong> tudo, porque, para ir ao encontro do seu carácter histórico humanista, como<br />

atrás se referenciou, a Europa Comunitária não po<strong>de</strong> ser “só um mercado comum <strong>de</strong> bens e serviços,<br />

mas um espaço <strong>de</strong> convivência cívica e <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>ira solidarieda<strong>de</strong> em termos políticos, culturais,<br />

científicos e tecnológicos.” 593<br />

O aprofundamento europeu <strong>de</strong>verá ser realizado com a contribuição das diferentes culturas e<br />

nacionalida<strong>de</strong>s, pois é essa particularida<strong>de</strong> que dá força à Comunida<strong>de</strong>. “A Europa dos Cidadãos, dos<br />

povos, das regiões – eis o que temos <strong>de</strong> consolidar e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver. A Europa será tanto mais criativa e<br />

fecunda quanto melhor assegurar a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s culturais e o pluralismo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias e<br />

projectos.” 594 Esta concepção vai ao encontro <strong>de</strong> um pensamento profundamente <strong>de</strong>mocrático, que<br />

pressupõe a construção <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo institucional com a participação <strong>de</strong> todos os países e das suas<br />

bases, pois a Comunida<strong>de</strong> Europeia é “uma criação colectiva, que aspira unida<strong>de</strong>, imposta não só pelas<br />

nações que a integram, mas também pelos seus cidadãos (…)” 595 É neste sentido que Soares realça a<br />

importância institucional do Parlamento Europeu, como um manifesto <strong>de</strong> aprofundamento <strong>de</strong>mocrático<br />

da Comunida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> representativida<strong>de</strong> dos seus cidadãos – uma “instituição plurinacional <strong>de</strong> ampla<br />

591 Winston Churchill, discurso pronunciado em Zurique, em 19.09.1946, in 50 Anos <strong>de</strong> Europa – os gran<strong>de</strong>s textos da<br />

construção europeia, 2ª edição, Parlamento Europeu, Portugal, 2001, p. 15.<br />

592 Entrevista concedida por Mário Soares, ao jornal Público, em 22 e 23 <strong>de</strong> Março, 1992, in Mário Soares, Intervenções 7 […]<br />

cit., p. 259. Encontram-se outros exemplos <strong>de</strong> <strong>de</strong>clarações conformes com esta i<strong>de</strong>ia, como: “(…) o relançamento do projecto <strong>de</strong><br />

construção europeia, <strong>de</strong>signadamente através da realização do gran<strong>de</strong> mercado interno, da Europa dos Cidadãos e da Europa<br />

das novas tecnologias são objectivos que importa atingir. (…) Confiamos no futuro da Europa Comunitária. O sonho <strong>de</strong> Robert<br />

Schuman e dos outros „pais fundadores‟ terá <strong>de</strong> ser prosseguido e concretizado.” Mário Soares, “O Exemplo <strong>de</strong> Schuman”,<br />

discurso proferido em 16.06.1987, em Estrasburgo, na cerimónia <strong>de</strong> entrega do Prémio Robert Schuman, in Mário Soares,<br />

Intervenções 2 […] cit., p. 235.<br />

593 Mário Soares, “Cooperação e Respeito Mútuo”, discurso proferido em Madrid, em 14.12.1987, no banquete oferecido pelos<br />

Reis <strong>de</strong> Espanha, in Mário Soares, Intervenções 2 […] cit., p. 302.<br />

594 Mário Soares, “Os Diálogos Renascentes”, discurso proferido na cerimónia <strong>de</strong> atribuição da Medalha <strong>de</strong> Reconhecimento<br />

Académico, pelos Studi di Firenze, em Florença, a 8.04.1991, in Mário Soares, Intervenções 6 […] cit., p.166.<br />

595 Mário Soares, “Votar em Liberda<strong>de</strong> e Consciência” comunicação feita ao País, em 18.07.1987, na véspera <strong>de</strong> eleições<br />

legislativas antecipadas, in Mário Soares, Intervenções 2 […] cit., p. 79. A mesma i<strong>de</strong>ia encontra-se noutras <strong>de</strong>clarações, como:<br />

“(…) a construção da Europa dos Cidadãos - uma das metas mais promissoras da construção europeia – só se po<strong>de</strong>rá realizar<br />

quando os povos se conhecerem bem, trocando regularmente experiências e i<strong>de</strong>ias e cooperando a fundo no domínio do<br />

intercâmbio científico, cultural, artístico e universitário.” Mário Soares, “Recuperar o Tempo Perdido”, discurso proferido em<br />

Bona, em 18.04.1988, no banquete oferecido ao presi<strong>de</strong>nte da República Fe<strong>de</strong>ral da Alemanha, in Mário Soares, Intervenções 3<br />

[…] cit., p. 186; “Pelo nosso lado, queremos uma Europa <strong>de</strong> cidadãos livres, em que os homens, i<strong>de</strong>ias e bens possam circular<br />

sem entraves e estejam ao serviço <strong>de</strong> uma política comum <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, que tem <strong>de</strong> assentar na solidarieda<strong>de</strong> e assumir<br />

uma clara dimensão <strong>de</strong> justiça social.” Mário Soares, “Uma Europa mais Solidária”, discurso proferido no Funchal, em<br />

29.11.1988, na sessão <strong>de</strong> encerramento da Região da Europa, in Mário Soares, Intervenções 3 […] cit., p. 222.<br />

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