Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />
humano”, o que implica repensar a <strong>de</strong>mocracia e as actuações dos estados. “Os <strong>de</strong>safios globais<br />
tremendos que o mundo hoje enfrenta (…) só po<strong>de</strong>m resolver-se com terapêuticas globais.” 586<br />
Mais uma vez, neste novo contexto, em que as ameaças à estabilida<strong>de</strong> mundial já não são só<br />
geopolíticas, mas económicas, ambientais e sociais, em que a guerra, após o 11 <strong>de</strong> Setembro, adopta<br />
uma forma encapotada e um extremismo religioso, é preciso “a coragem <strong>de</strong> um novo humanismo.” 587<br />
Uma política <strong>de</strong> rosto humano que “<strong>de</strong>ve ser o antídoto <strong>de</strong> todos os fundamentalismos, evitando, in<br />
extremis, o regresso às guerras religiosas, que representariam um recuo civilizacional tremendo.” 588 E<br />
também neste aspecto, Soares recusa a hegemonia norte-americana como solução, não só por discordar<br />
da estratégia <strong>de</strong> Washington, com a guerra preventiva em <strong>de</strong>trimento da abertura e diálogo, mas, mais<br />
não seja porque a história já ensinou que os gran<strong>de</strong>s impérios “nunca foram compreendidos nem<br />
amados pelos Povos submetidos ao seu po<strong>de</strong>r, económico, político ou cultural” e, assim, continua a ser,<br />
pois nem hoje o mundo “se compa<strong>de</strong>ce com um só e único po<strong>de</strong>r imperial, ainda que seja a gran<strong>de</strong><br />
República imperial americana.” É colhendo os ensinamentos da história, que a Europa precisa <strong>de</strong><br />
exercer o seu papel <strong>de</strong> contrabalanço. “Por isso, também uma União Europeia forte faz falta - direi<br />
mesmo indispensável – para um melhor equilíbrio planetário.” 589<br />
Urge, por isso, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> maior abrangência da influência europeia, pois já não se trata<br />
apenas <strong>de</strong> promover o diálogo norte-sul, no sentido originário <strong>de</strong> ajuda aos países do terceiro mundo, <strong>de</strong><br />
fazer face a um bipolarismo frágil imposto pela cortina <strong>de</strong> ferro, nem <strong>de</strong> contrabalançar o imperialismo<br />
norte-americano, mas sim <strong>de</strong> dar resposta a uma multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> problemas, quer internos, quer<br />
externos. Soares quer mais Europa pela necessida<strong>de</strong>, tal como <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ram os pais da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> unida<strong>de</strong><br />
europeia. “Defendo um projecto europeu, empenhado no combate pelas gran<strong>de</strong>s causas do progresso<br />
humano, aberto ao Mundo e solidário, capaz <strong>de</strong> dar à Europa uma voz audível na cena internacional e<br />
<strong>de</strong> ter um peso que lhe permita exercer o papel <strong>de</strong>cisivo na resolução dos conflitos e na construção <strong>de</strong><br />
uma nova fase da vida dos homens, a que a sua longa história lhe dá jus.” 590 Soares quer uma Europa<br />
humanista, <strong>de</strong> e para os homens, que cultive a igualda<strong>de</strong> e coesão interna e externa. Uma “Europa dos<br />
Cidadãos.”<br />
2.2.3 – Uma “Europa dos Cidadãos” é uma Europa Política<br />
A “Europa dos Cidadãos”, inspirada nos propósitos dos pais fundadores da Comunida<strong>de</strong><br />
Europeia, tem, na i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Soares, uma lógica bilateral: ela não só praticará políticas e valores que<br />
tenham o bem do cidadãos como objectivo último, como também a sua evolução, em termos <strong>de</strong> unida<strong>de</strong><br />
586<br />
Mário Soaeres, “Um Mundo Dividido”, ensaio inédito, Fevereiro 2002, in Mário Soares, Porto Alegre e Nova Iorque, […] cit.,<br />
pp. 15-17.<br />
587<br />
Mário Soares, “A Coragem <strong>de</strong> um Novo Humanismo”, artigo publicado no Expresso, 11.09.2004, in Mário Soares, A crise […]<br />
cit., pp. 87-90.<br />
588<br />
I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 89.<br />
589<br />
Mário Soares, “O futuro do futuro”, in Mário Soares, Porto Alegre e Nova Iorque: um mundo dividido […] cit., p. 75.<br />
590<br />
Mário Soares, “Fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> ao 25 <strong>de</strong> Abril”, discurso proferido em 25.04.1993, em Braga, in Mário Soares, Intervenções 8 […]<br />
cit., p. 52.<br />
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