16.04.2013 Views

Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

Então, como po<strong>de</strong> haver parceria? Por exclusão <strong>de</strong> partes. Na sua concepção, a UE só se alia<br />

aos EUA se houver partilha e prática dos mesmos valores políticos. Caso contrário, Soares é pela cisão,<br />

como <strong>de</strong>notam os elogios que tece, pela “luci<strong>de</strong>z e coragem política dos governos da França e da<br />

Alemanha ao con<strong>de</strong>narem a guerra contra o Iraque, sem a autorização prévia das Nações Unidas.”<br />

Mostrando-se “orgulhoso por pertencer à «Velha Europa»”, consi<strong>de</strong>ra que “é dizendo a verda<strong>de</strong> que<br />

mostramos a nossa amiza<strong>de</strong> e o nosso apreço pelos Estados Unidos – a uma América do i<strong>de</strong>alismo e do<br />

pioneirismo e não dos interesses e negócios sórdidos.” 582 Palavras assim não evi<strong>de</strong>nciam um atlantista<br />

i<strong>de</strong>alista, no sentido <strong>de</strong> uma partilha mútua <strong>de</strong> valores. Levam sim a crer num atlantismo prático e<br />

estratégico, quando há predomínio dos i<strong>de</strong>ais europeus. Caso os EUA partilhem dos valores da “Velha<br />

Europa”, então Mário Soares <strong>de</strong>fine uma estratégia atlantista. Quando a acepção i<strong>de</strong>ológica não<br />

coinci<strong>de</strong>, a vertente prática do seu atlantismo esvai-se. É precisamente pela não comunhão dos valores<br />

políticos do imperialismo norte-americano que Soares nega uma subalternida<strong>de</strong> atlantista da Europa,<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo como necessida<strong>de</strong> primordial a afirmação da Europa “como um centro autónomo, em<br />

diálogo, e igualda<strong>de</strong> com o outro centro, que se chama Estados Unidos-Canadá, e o outro ainda, que se<br />

chama Japão, a li<strong>de</strong>rar os chamados „Dragões Económicos do Extremo Oriente.” 583<br />

2.2.2.2 – Uma resposta ao mundo globalizado<br />

Esta i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> uma União Europeia como centro autónomo promotor <strong>de</strong> equilíbrio e <strong>de</strong> soluções<br />

para os problemas mundiais, torna-se mais premente com a emergência dos problemas da globalização,<br />

com o mundo a já não se resumir a uma bipolarização política, mas a uma miscelânea <strong>de</strong> interesses e<br />

conflitos. Uma das soluções para as novas dificulda<strong>de</strong>s será o “alargamento da intervenção da Europa<br />

no Mundo, o que implica o prosseguimento do processo conducente à sua plena integração, reforçando<br />

a coesão interna em todas as direcções (…).” 584<br />

Nos últimos anos, a globalização tem sido um tema predominante nos seus discursos. 585 Os<br />

capitais circulam rapidamente, a expansão empresarial também, com ela a exploração económica e a<br />

<strong>de</strong>struição ambiental. Os problemas sociais agravam-se, acarretando tensões políticas. Conseguir<br />

estabilida<strong>de</strong> social e política exige agora muito mais do que o mero aumento <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> e <strong>de</strong><br />

índices económicos, como foi, em parte, a priorida<strong>de</strong> da criação da CECA. É necessário corrigir<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s e injustiças que o mercado global gera. Os problemas passam a ser mais complexos e<br />

também as relações internacionais. Parafraseando Mary Robinson, Soares consi<strong>de</strong>ra que os problemas<br />

da globalização só po<strong>de</strong>m ter uma resposta também ela global, “uma globalização ética”, “<strong>de</strong> rosto<br />

582 In I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 93.<br />

583 Entrevista concedida por Mário Soares ao Diário <strong>de</strong> Notícias, em 6.11.1990, in Mário Soares, Intervenções 5 […] cit., p. 539.<br />

584 Mário Soares, “Uma Nova Or<strong>de</strong>m Económica e Social”, discurso proferido na EXPONOR, Porto, em 29.10.1992, na sessão<br />

<strong>de</strong> homenagem ao Empresário Português, in Mário Soares, Intervenções 7 […] cit., p. 125.<br />

585 Vários artigos publicados em imprensa portuguesa e estrangeira. Cf. Mário Soares, Um Mundo Inquietante […] cit., pp. 19-97;<br />

Mário Soares, A crise a agora? […] cit., Mário Soares, Porto Alegre e Nova Iorque, um mundo dividido?, Ca<strong>de</strong>rnos<br />

Democráticos, 14, Colecção Fundação Mário Soares, Gradiva, 2002.<br />

130

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!