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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

iniciativa individual 18 <strong>de</strong> Soares não se coadunava com as regras partidárias comunistas, mas, em vez <strong>de</strong><br />

o repreen<strong>de</strong>r, o partido aproveitou para o encarregar <strong>de</strong> missões no movimento, pois a possibilida<strong>de</strong><br />

estratégica <strong>de</strong> o PCP aí ganhar peso político seria uma compensação da eminente perda <strong>de</strong><br />

representativida<strong>de</strong> do MUNAF, 19 já com indícios óbvios <strong>de</strong> <strong>de</strong>sintegração.<br />

Depois <strong>de</strong> Mário Soares, outros afectos ao comunismo entram para o MUD, “reforçando-se<br />

assim a representação do PCP” 20 naquela estrutura, <strong>de</strong> tal modo que o partido vem, posteriormente, a<br />

hegemonizar a nova comissão central do movimento, a qual Soares chega a integrar. 21 É o grupo <strong>de</strong><br />

comunistas do MUD que irá criar, sob a li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong> Soares, o MUD Juvenil, que resulta da<br />

autonomização <strong>de</strong> um movimento académico nascido no MUD, evi<strong>de</strong>nciando uma certa busca <strong>de</strong><br />

iniciativas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes por parte dos jovens comunistas. Soares nunca chega a consi<strong>de</strong>rar o MUD<br />

Juvenil uma “pura emanação do Partido Comunista,” 22 e o próprio Gustavo Soromenho, um dos<br />

fundadores do MUD, realça a autonomia do movimento. “Eles faziam o que <strong>de</strong>viam e não o que o<br />

Partido mandava.” 23<br />

É através do MUD que Soares se aproxima da candidatura <strong>de</strong> Norton <strong>de</strong> Matos à Presidência da<br />

República. Sendo nomeado secretário da candidatura e sem revelar que é comunista, vai agindo por<br />

iniciativa própria e contribuindo para o sucesso da campanha. O incremento <strong>de</strong>ste sentido <strong>de</strong><br />

in<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> acção aumenta o mau estar no PCP, que prezava a continuação do MUD Juvenil, em<br />

discórdia com Soares, que não via sentido em continuar a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r um movimento filho daquele cuja<br />

ilegalização se tinha aceitado. Além disso, Soares sentia-se “<strong>de</strong>masiado „adulto‟ para continuar a<br />

participar, como até ali, em movimentos <strong>de</strong> juventu<strong>de</strong>” 24 , afastando-se assim do MUD Juvenil.<br />

Após uma primeira reacção <strong>de</strong> negação às exigências do PCP <strong>de</strong> revelar a Norton <strong>de</strong> Matos que<br />

era comunista, Soares ce<strong>de</strong> às directrizes do partido, mas esta será a sua última obediência, o que lhe<br />

trouxe a reacção negativa do general, a sua perda <strong>de</strong> credibilida<strong>de</strong> e o afastamento da campanha. Será o<br />

próprio general a <strong>de</strong>sistir das eleições, por consi<strong>de</strong>rar que “não estavam reunidas as condições mínimas<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocraticida<strong>de</strong>.” 25 Os vinte anos <strong>de</strong> Soares trazem-lhe novamente a prisão, a emergência <strong>de</strong><br />

dúvidas relativamente ao comunismo e <strong>de</strong> certezas <strong>de</strong> que o regime português não mudaria pela via<br />

<strong>de</strong>mocrática. O clima internacional era propício a Salazar, com o esboço da Guerra Fria e com ela o<br />

18 “Quando me apercebi do alcance que estava a ter a movimentação <strong>de</strong> a<strong>de</strong>sões don<strong>de</strong> resultou o MUD, <strong>de</strong>cidi integrar-me. Fui<br />

ao escritório do Lima Alves, na Rua do Ouro, para me inscrever, oferecendo-me para ajudar. Ninguém me conhecia, apresenteime<br />

como estudante <strong>de</strong> Letras, sem dizer <strong>de</strong> quem era filho.” In Maria João Avillez, Soares, Ditadura […] cit., p. 54.<br />

19 O MUNAF – Movimento <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong> Nacional Antifascista – foi uma organização clan<strong>de</strong>stina, surgida em 1943, que aglutinava<br />

diversos sectores da oposição ao Estado Novo, com o objectivo <strong>de</strong> criar um consenso <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> antifascista, que propusesse<br />

uma alternativa política ao Governo <strong>de</strong> Salazar. A presidência do Conselho Executivo do MUNAF pertencia ao general Norton <strong>de</strong><br />

Matos. Embora abrangesse praticamente todos os movimentos da oposição, a presença do PCP era hegemónica e controladora<br />

do movimento. No entanto, em 1945, as divergências levam à <strong>de</strong>sintegração <strong>de</strong> alguns sectores oposicionistas e o movimento<br />

vai per<strong>de</strong>ndo a sua pujança, à medida que emergia o MUD. O restante fôlego do MUNAF ainda apoiará a candidatura <strong>de</strong> Norton<br />

<strong>de</strong> Matos à Presidência da República, em 1948. Ver Fernando Rosas; J.M. Brandão <strong>de</strong> Brito (dir.), Dicionário <strong>de</strong> História do<br />

Estado Novo, volume II, Venda Nova, Bertrand Editora, 1996, pp. 637-639.<br />

20 “Há 50 Anos no Café Portugal - Fundação do MUD recordada por Gustavo Soromenho”, in Público Magazine, nº 291,1995, pp.<br />

36-46.<br />

21 Mário Soares, “Um Mestre <strong>de</strong> Civismo”, discurso proferido no funeral do Prof. Mário <strong>de</strong> Azevedo Gomes, em 1965, in Mário<br />

Soares, Escritos Políticos, Lisboa, Editorial Inquérito, 4ª edição, 1969, pp. 19-22.<br />

22 In João Ma<strong>de</strong>ira, “O PCP e o MUD Juvenil”, História, Lisboa, Nova Série, nº 28, 1997, pp.35.<br />

23 “Há 50 anos no Café Portugal – Fundação do MUD recordada por Gustavo Soromenho”, in Público Magazine, nº 291,1995, pp.<br />

36-46.<br />

24 Mário Soares, Portugal Amordaçado […] cit., p. 177.<br />

25 Fernando Rosas; J.M. Brandão <strong>de</strong> Brito (dir.), Dicionário <strong>de</strong> História do Estado Novo, volume II, cit., pp. 553-555.<br />

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