Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />
<strong>de</strong>sfavorecidos, que Portugal sente com mais equida<strong>de</strong> os dramas do Sul, o que o legitima para<br />
fomentar na Comunida<strong>de</strong> Europeia uma política <strong>de</strong> abertura, que sempre <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>rá, com “a necessida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> relançar o diálogo Norte-Sul.” 565<br />
É encarnando esta missão que a Europa po<strong>de</strong> colher benefícios da integração portuguesa e da<br />
sua situação geopolítica. Esta é, contudo, uma vantagem multilateral, tanto <strong>de</strong> Portugal para a Europa,<br />
como da Europa para Portugal, e <strong>de</strong> ambos para os países sub<strong>de</strong>senvolvidos. Por um lado, alavancando<br />
este diálogo para a Europa, Portugal abre uma via para a sua valorização política europeia e afirmação<br />
perante os seus parceiros <strong>de</strong> relacionamento histórico. É nesta senda que Soares chega a propor Portugal<br />
“para ser uma das se<strong>de</strong>s <strong>de</strong> dinamização <strong>de</strong>sse diálogo.” 566 Por outro lado, ao aproveitar a situação<br />
geopolítica portuguesa para esse fim, a Europa vê facilitado o seu percurso para se afirmar como<br />
protagonista das relações com o Terceiro Mundo, po<strong>de</strong>ndo emergir como pólo geopolítico <strong>de</strong>terminante<br />
para o equilíbrio e paz mundiais. É assumindo esse papel que a Europa po<strong>de</strong> suplantar-se como mero<br />
espaço económico e ir ao encontro do objectivo basilar da fundação da CECA, constituir uma<br />
comunida<strong>de</strong> política europeia tão vasta quanto possível.” 567<br />
2.2.2 – Europa – balança geopolítica Mundial<br />
Soares pressupõe então a manutenção da estabilida<strong>de</strong> geopolítica mundial através do equilíbrio<br />
<strong>de</strong> várias influências económicas, políticas e culturais, o que recai na rejeição <strong>de</strong> um domínio unilateral.<br />
Será pela manutenção <strong>de</strong> um equilíbrio <strong>de</strong> influências que se po<strong>de</strong>rá iniciar uma nova política nas<br />
relações Norte-Sul e edificar uma nova or<strong>de</strong>m internacional, baseada na complementarida<strong>de</strong>, na<br />
solidarieda<strong>de</strong> e numa repartição mais equitativa <strong>de</strong> recursos e rendimentos. O predomínio mundial <strong>de</strong><br />
superpotências sempre foi negado, com críticas enquadradas nos vários contextos políticos da sua<br />
carreira.<br />
Ainda o Muro <strong>de</strong> Berlim estava longe da sua queda, Soares já concebia “a divisão do mundo<br />
em dois blocos fechados e hostis” como “cada vez mais, um espectro do passado,” rejeitando a<br />
concepção “maniqueísta do planeta” <strong>de</strong> qualquer uma das duas potências antagónicas da Guerra Fria. Já<br />
em 1964, conjectura que “só a Europa po<strong>de</strong>rá ser um factor <strong>de</strong> estabilização política essencial num<br />
565 Mário Soares, “Reencontro com a Índia”, discurso proferido durante a recepção oferecida pelo Presi<strong>de</strong>nte da União Indiana,<br />
em Nova-Delhi, em 25.01.1992, in Mário Soares, Intervenções 6 […] cit., p. 200. Esta i<strong>de</strong>ia po<strong>de</strong> ser constatada noutros<br />
discursos. Cf. “Os Americanos têm interesse em consolidar a <strong>de</strong>mocracia em Lisboa”, entrevista concedida por Mário Soares a<br />
Marcel Nie<strong>de</strong>rgangm para o jornal Le Mon<strong>de</strong>, publicada em 24.12.1974, in Mário Soares, Democratização […] cit., pp. 241-248.<br />
Cf. Mário Soares, “Uma Figura Ímpar <strong>de</strong> Europeu”, discurso proferido em Lausana, em 16.06.1987, na Fundação Jean Monnet e<br />
“Contribuir para Uma Cidadania <strong>de</strong> Diálogo e Confiança”, discurso proferido em Moscovo, em 23.11.1987, in Mário Soares,<br />
Intervenções 2 […] cit., pp. 237-242, 323-328; Cf. Mário Soares, “Garantir a Coesão Interna da Comunida<strong>de</strong>”, discurso proferido<br />
em Bona, em 18.04.1988, no almoço oferecido pelo Chanceler da República Fe<strong>de</strong>ral da Alemanha, in Mário Soares,<br />
Intervenções 3 […] cit., pp. 187-190; Cf. Mário Soares, “A Coragem da Mudança”, discurso proferido no Palácio da Ajuda, em<br />
14.05.1990, no banquete <strong>de</strong> honra do Presi<strong>de</strong>nte da África do Sul, in Mário Soares, Intervenções 5 […] cit., pp. 283-287, 295-<br />
299.<br />
566 Mário Soares, “Cooperar: Uma Exigência para Bem <strong>de</strong> Todos”, discurso proferido no I Congresso da Cooperação, em<br />
20.12.1988, in Mário Soares, Intervenções 3 […] cit., p. 265.<br />
567 “Criação da Comunida<strong>de</strong> Política Europeia, Resolução Adoptada pelos Seis, em 10.09.1952, no Luxemburgo, in “Recueil <strong>de</strong>s<br />
documents institutionels <strong>de</strong> la Communauté <strong>de</strong> 1950-1982”, Parlament européen, Commission instituttionelle, Luxemburgo, p. 45,<br />
in 50 Anos <strong>de</strong> Europa, os gran<strong>de</strong> stextos da construção europeia, 2ª edição, Parlamento Europeu, Portugal, Lisboa, 1997, p. 29.<br />
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