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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

política lusa com um i<strong>de</strong>al europeu, fazendo do futuro da Europa também uma responsabilida<strong>de</strong><br />

nacional. “Portugal tudo fará para incentivar e racionalizar o diálogo Norte-Sul. Razões históricas e<br />

culturais, para além da proximida<strong>de</strong> geográfica, impõem-nos que estejamos particularmente atentos aos<br />

anseios dos países da margem sul do Mediterrâneo.” 558<br />

Soares vai concretizando o que aconselha aos políticos portugueses, consi<strong>de</strong>rando que Portugal<br />

não <strong>de</strong>ve ficar a assistir passivamente à construção europeia, <strong>de</strong>vendo impor a sua i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Europa,<br />

valorizando a sua singularida<strong>de</strong>. Trata-se <strong>de</strong> apelar ao entendimento comunitário sobre a importância<br />

portuguesa para a construção <strong>de</strong> uma Europa aberta e solidária, que <strong>de</strong>ve ver “África e América Latina”<br />

como “áreas geopolíticas <strong>de</strong> cooperação i<strong>de</strong>ais”, a “incluir prioritariamente no seu campo <strong>de</strong> acção<br />

futura.” 559 É aqui que Portugal po<strong>de</strong> dar um contributo insubstituível.<br />

Há uma certa i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> “missão” neste papel activo que Portugal <strong>de</strong>ve conferir à Europa na<br />

promoção do diálogo com o Sul, que advém da atribuição <strong>de</strong> uma responsabilização histórica ao país.<br />

“Temos uma responsabilida<strong>de</strong> – que não enjeitamos – em relação a África, <strong>de</strong>signadamente a África<br />

Lusófona (…). Temos uma diáspora repartida pelos cinco continentes (…)”, o que vocaciona o país<br />

para ser “um dos gran<strong>de</strong>s agentes <strong>de</strong>fensores do diálogo Norte/Sul.” 560<br />

Fica, assim, implícita uma inevitabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>stino, no cumprimento da condição histórica<br />

portuguesa, o que se efectiva numa contribuição i<strong>de</strong>ológica para a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> da Comunida<strong>de</strong>, pela<br />

“vocação universalista e atlântica” 561 <strong>de</strong> Portugal. Daqui, infere-se também uma concepção <strong>de</strong> unida<strong>de</strong><br />

na diversida<strong>de</strong>, sendo que a Europa <strong>de</strong>ve ser una, incorporando as diferentes singularida<strong>de</strong>s nacionais.<br />

Assim se justifica que a Europa encarne como sua a própria missão portuguesa. “E a nossa particular<br />

sensibilida<strong>de</strong> para as questões que afectam os povos <strong>de</strong>ste lado do Atlântico (América Latina), vem<br />

vincar ainda mais a predisposição da Europa comunitária para cumprir a sua vocação e o seu legado <strong>de</strong><br />

espaço <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> abertura e <strong>de</strong> intercâmbio.” 562<br />

Transparece também uma certa autorida<strong>de</strong> moral portuguesa para reivindicar da Europa uma<br />

<strong>de</strong>terminada visão e actuação. “Portugal, pela sua história, pelo humanismo universalista da sua cultura,<br />

(…) tem autorida<strong>de</strong> e po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve exercer um papel importante no combate por essa Europa que<br />

esperemos marque o próximo século.” 563 Há uma experiência do passado que confere ao país um<br />

entendimento único e uma partilha dos problemas dos países do terceiro mundo – “ninguém melhor do<br />

que nós po<strong>de</strong>rá compreen<strong>de</strong>r a importância e a urgente necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prosseguir, com realismo e<br />

eficácia, o diálogo Norte-Sul (…)” 564 - e que o habilitam para ser o melhor interlocutor nesse diálogo.<br />

É nos valores universalistas e humanistas portugueses e nos laços históricos com os países<br />

558 Mário Soares, “A Importância do Diálogo Euro-Árabe”, discurso proferido no banquete oferecido em honra do Presi<strong>de</strong>nte da<br />

República Árabe do Egipto, em 9.04.1992, no Palácio da Ajuda, in Mário Soares, Intervenções 7 […] cit., pp. 166, 167.<br />

559 Mário Soares, “Comunida<strong>de</strong> Aberta ao Mundo”, discurso proferido no Instituto <strong>de</strong> <strong>Estudo</strong>s Estratégicos Internacionais, em<br />

3.11.1988, no Seminário “A Europa e o Brasil no Limiar do Ano 2000”, in Mário Soares, Intervenções 3 […] cit., p. 231.<br />

560 Mário Soares, “A Minha Ambição: Servir Portugal na Mo<strong>de</strong>rnização, na Participação e na Solidarieda<strong>de</strong>”, comunicação à<br />

Comissão <strong>de</strong> Honra, no cinema Tivoli, em 28.12.1990, in Mário Soares, Intervenções 5 […] cit., p 659.<br />

561 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 232.<br />

562 Mário Soares, “Um Novo Rosto à Ligação Europa-América Latina”, discurso proferido em Guadalajara, em 17.07.1991,<br />

durante a 1ª Conferência Ibero-americana, in Mário Soares, Intervenções 6 […] cit., p. 181.<br />

563 Mário Soares, “Dar à Europa um Contributo Criador”, <strong>de</strong>poimento concedido à revista Visão, em Junho <strong>de</strong> 1995, sobre os <strong>de</strong>z<br />

anos da integração <strong>de</strong> Portugal na CEE, in Mário Soares, Intervenções 10 […] cit., p. 135.<br />

564 Mário Soares, “Não Banalizar a Revolução”, discurso proferido na sessão comemorativa do 17º aniversário do 25 <strong>de</strong> Abril, em<br />

25.04.1991, in Mário Soares, Intervenções 6 […] cit., p. 69.<br />

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