Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />
num maior equilíbrio económico. Para a Europa, promover esse diálogo, trata-se não só <strong>de</strong> um <strong>de</strong>ver<br />
ético, como também <strong>de</strong> um “imperativo <strong>de</strong> sobrevivência, em especial para os países <strong>de</strong>senvolvidos do<br />
Norte.”<br />
Por isso, não é só pela necessida<strong>de</strong> externa, mas também interna da própria Comunida<strong>de</strong>, que a<br />
construção europeia "não po<strong>de</strong> constituir um pretexto para erigir novas concepções proteccionistas e<br />
novos isolacionismos – mesmo que supranacionais.” 555 Também porque essa atitu<strong>de</strong> seria contrária à<br />
índole humanista dos primórdios da civilização europeia, que os problemas actuais exigem agora mais<br />
do que nunca. Nesse sentido, a Europa não po<strong>de</strong> ser vista só como “um gran<strong>de</strong> espaço económico”, mas<br />
também “<strong>de</strong> generosida<strong>de</strong> criadora e abertura solidária ao exterior.” 556 Sendo esta uma característica<br />
comum ao universalismo português, para conseguir exercer o seu papel político <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong><br />
mundial, a Europa encontra em Portugal um coadjuvante primordial.<br />
a) Portugal – alavanca europeia para o “diálogo Norte-Sul”<br />
Portugal tem uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> universalista e uma relação histórica com os continentes do Sul,<br />
condição valorizada pelo pensamento <strong>de</strong> Soares para conferir um papel singular à sua Pátria na Europa.<br />
A sua geografia euro-atlântica, confere-lhe uma dotação única, como já vimos, para se <strong>de</strong>stacar e<br />
afirmar politicamente na Comunida<strong>de</strong> Europeia e no mundo. Tais características <strong>de</strong>vem ser<br />
instrumentos usados na política externa portuguesa, que valorizem a ponta oci<strong>de</strong>ntal da Península<br />
Ibérica como o centro nevrálgico do triângulo Europa/África/América Latina. Este conteúdo discursivo,<br />
além <strong>de</strong> ser dirigido aos políticos portugueses, é-o também aos europeus, com intenção <strong>de</strong> transmitir a<br />
perspectiva lusa <strong>de</strong> um i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> Europa do futuro e <strong>de</strong> afirmar a condição histórico-geográfica <strong>de</strong> Lisboa<br />
como vantagem para a afirmação da Europa como protagonista no diálogo Norte/Sul e,<br />
consequentemente, como pólo político imprescindível para o equilíbrio mundial.<br />
A i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> portuguesa é invocada como <strong>de</strong>terminante para a visão particular <strong>de</strong> Portugal<br />
sobre a Europa, estabelecendo-se um paralelo entre os valores tradicionais dos lusíadas e os da<br />
civilização europeia. É a sua situação geográfica que leva os portugueses a não ter “da Europa uma<br />
visão estreita”, sendo a favor “<strong>de</strong> uma Europa aberta ao mundo.” 557 Aqui se reforça uma i<strong>de</strong>ia<br />
portuguesa sobre a Europa, uma das intenções <strong>de</strong> Soares com os seus discursos na Presidência da<br />
República, dirigidos para a ribalta política comunitária, nas várias visitas <strong>de</strong> estado que realiza. Assim,<br />
acompanhamos a evolução do seu discurso adaptado às circunstâncias históricas. Se, por um lado,<br />
enquanto estava no exílio, se dirigia aos lí<strong>de</strong>res europeus promovendo o seu pensamento sobre a Europa<br />
e, inerentemente, a sua figura, agora, quer promover uma i<strong>de</strong>ia portuguesa <strong>de</strong> Europa, fundindo a<br />
555<br />
Mário Soares, “Os diálogos Renascentes”, discurso proferido na cerimónia da atribuição da Medalha <strong>de</strong> reconhecimento<br />
Académico, pelos Studi di Firenze, em Florença, em 8.04.1991, in Mário Soares, Intervenções 6 […] cit., p. 165.<br />
556<br />
Mário Soares, “Construir a Nova Europa”, discurso proferido na Suécia, em 9.10.1990, durante a visita <strong>de</strong> Estado àquele país,<br />
in Mário Soares, Intervenções 5 […] cit., p. 256.<br />
557<br />
Mário Soares, “Uma Velha Aliança para um Futuro Novo”, discurso proferido em Londres, em 27.04.1993, no banquete<br />
oferecido pela Rainha Isabel II, por ocasião da visita <strong>de</strong> Estado ao Reino Unido, in Mário Soares, Intervenções 8 […] cit., p.170.<br />
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