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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

imperativo moral e político,” 548 persistindo, por isso, “a necessida<strong>de</strong> da Europa não se <strong>de</strong>sinteressar dos<br />

problemas” 549 que afectam o terceiro mundo.<br />

Com o cada vez maior <strong>de</strong>sfasamento entre o mundo <strong>de</strong>senvolvido e sub<strong>de</strong>senvolvido,<br />

intensifica-se o discurso <strong>de</strong> Soares pelo estabelecimento do diálogo Norte-Sul, “tão necessário para<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a nossa casa comum”, atribuindo à “Comunida<strong>de</strong> Europeia” o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> estar “na linha da<br />

frente <strong>de</strong>sse combate.” 550 Se nos inícios da construção europeia a acção política da Europa estava mais<br />

virada para o continente, e mesmo o discurso <strong>de</strong> Soares incidia nesse sentido - na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

manutenção da paz pelo apaziguamento das relações entre o oci<strong>de</strong>nte e o oriente - o fim do sistema <strong>de</strong><br />

equilíbrio bipolar traz a emergência <strong>de</strong> uma visão global sobre novos problemas sociopolíticos e<br />

ambientais. “O fim do mundo bipolar, que durante décadas consi<strong>de</strong>rámos a raiz <strong>de</strong> vários males e<br />

conflitos, não trouxe por si só soluções por que a Humanida<strong>de</strong> ansiava.” 551 Antes pelo contrário. A<br />

Guerra Fria canalizou as atenções para o oci<strong>de</strong>nte, enquanto os problemas latentes do hemisfério sul se<br />

agravavam. A responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ajuda cabe a todos os países <strong>de</strong>senvolvidos, a Europa. Pelo quadro<br />

i<strong>de</strong>ário que a compõe, tem uma responsabilida<strong>de</strong> moral acrescida. Os <strong>de</strong>safios que se lhe colocam “não<br />

são essencialmente diferentes dos que se colocam aos outros continentes, mas o facto <strong>de</strong> a Europa ter<br />

sido o berço dos valores da chamada „civilização do universal‟” acarretam “um acréscimo <strong>de</strong><br />

responsabilida<strong>de</strong> a que nós, europeus, na União Europeia ou ainda fora <strong>de</strong>la, teremos <strong>de</strong> saber<br />

correspon<strong>de</strong>r.” 552<br />

Trata-se <strong>de</strong> um imperativo ético, mas também <strong>de</strong> “sobrevivência humana”, como diz, citando o<br />

companheiro da IS, um dos autores do relatório Norte-Sul: Assegurar a sobrevivência. Embora a <strong>de</strong>fesa<br />

<strong>de</strong> uma actuação global e solidária da Comunida<strong>de</strong> já venha dos primórdios do seu pensamento, é na<br />

Presidência da República e após a publicação do referido relatório que o tema do diálogo Norte-Sul se<br />

torna uma marca discursiva. “Sem haver uma correcta reformulação do diálogo entre o Norte e o Sul <strong>de</strong><br />

que falava Willy Brandt (…) o Mundo <strong>de</strong>senvolvido não po<strong>de</strong> continuar a <strong>de</strong>senvolver-se nos termos<br />

em que o tem feito até aqui.” 553 Não se trata apenas <strong>de</strong> “uma dádiva dos países ricos aos países pobres”,<br />

mas sim “pressupor um fluxo bilateral <strong>de</strong> interesses,” 554 pois a globalização dos problemas exige novas<br />

respostas para o equilíbrio geopolítico mundial, que assentam na distribuição equitativa <strong>de</strong> riqueza e<br />

548 Mário Soares, “A Europa dos Cidadãos”, discurso proferido em Berna, em 18.05.1988, por ocasião da visita oficial à Suíça, in<br />

Mário Soares, Intervenções 3 […] cit., p. 243.<br />

549 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m.<br />

550 Mário Soares, “Portugal: abertura ao mundo”, cumprimentos ao corpo diplomático em 7.01.1992, in Mário Soares,<br />

Intervenções 6 […] cit., p. 55.<br />

551 Mário Soares, “Espírito Crítico e Tolerância”, discurso proferido em Rabat, em 28.11.1994, na cerimónia <strong>de</strong> recepção como<br />

membro da aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Marrocos, in Mário Soares, Intervenções 9 … ob. […] cit., p. 200. Nos discursos dos seus mandatos<br />

como Presi<strong>de</strong>nte da República, estas i<strong>de</strong>ias são constantes. Cf. Mário Soares, “O Desígnio Humanista da Europa”, conferência<br />

proferida em Bruxelas, em 15.03.1993, a convite das Gran<strong>de</strong>s Conferências Católicas”, in Mário Soares, Intervenções 7 […] cit.,<br />

pp. 95-107; Cf. Mário Soares, “Uma Velha Aliança para um Futuro Novo”, discurso proferido em Londres, em 27.04.1993, no<br />

banquete oferecido pela rainha Isabel II, por ocasião da visita <strong>de</strong> Estado ao Reino Unido, in Mário Soares, Intervenções 8 […]<br />

cit., pp. 169-175; Cf. Mário Soares, “Valores Comuns do Humanismo”, discurso proferido em Guildhall, em 28.04.1993, no jantar<br />

oferecido pelo Lord Mayor <strong>de</strong> Londres, durante a visita <strong>de</strong> Estado ao Reino Unido, in Mário Soares, Intervenções 8 […] cit., p.<br />

177-182;<br />

552 Mário Soares, “Não à i<strong>de</strong>ia da Europa fortaleza”, <strong>de</strong>poimento prestado em Fevereiro <strong>de</strong> 1994, ao jornal turco Cumhuriyet, in<br />

Mário Soares, Intervenções 8 […] cit., p. 194.<br />

553 Mário Soares, “Ambiente e Cidadania”, palavras proferidas <strong>de</strong> improviso na Conferência „Eco-92 – Um Ano Depois – Que<br />

Perspectivas‟, realizada na Fundação Calouste Gulbenkien, in Mário Soares, Intervenções 8 […] cit., p. 146.<br />

554 In Comissão In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte sobre os Problemas do Desenvolvimento Internacional, Norte-Sul: assegurar a sobrevivência,<br />

Moraes Editores, Lisboa, 1981, pp. 13-23.<br />

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