Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />
pensa assim o presente <strong>de</strong>sencanto não só não é uma surpresa, como <strong>de</strong> certo modo benéfico, se<br />
comporta a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> sonhar melhor.” 535 E Soares sonha! Sonha, embora consciente <strong>de</strong> uma realida<strong>de</strong><br />
adversa, com uma Europa humanista e solidária, o que se traduz numa Europa internamente igualitária e<br />
não eurocêntrica.<br />
2.2 – A Europa do futuro e a necessida<strong>de</strong> fe<strong>de</strong>ral<br />
2.2.1 – Uma Europa não eurocêntrica<br />
Nunca o i<strong>de</strong>al europeu <strong>de</strong> Soares se esgotou numa dimensão económica, uma i<strong>de</strong>ia que ganha<br />
gradualmente mais força com a evolução da política mundial, que dá razão a uma Europa “também <strong>de</strong><br />
generosida<strong>de</strong> criadora e abertura solidária ao exterior.” 536 A negação <strong>de</strong> uma Europa exclusivamente<br />
económica, confere-lhe um objectivo externo a si própria. Expoente do seu pensamento humanista, a<br />
Europa <strong>de</strong> Soares tem um papel a <strong>de</strong>sempenhar, não apenas internamente mas também no mundo, e é<br />
sobre esta i<strong>de</strong>ia que dirige o seu foco político enquanto Presi<strong>de</strong>nte da República e mesmo após o fim da<br />
sua carreira política. Os apelos dirigem-se tanto para Portugal, que <strong>de</strong>ve ter papel activo na construção<br />
da Europa do futuro, como para a própria Europa, clamando uma fusão <strong>de</strong> objectivos, “porque acima <strong>de</strong><br />
tudo acreditamos no nosso comum <strong>de</strong>stino Europeu nos valores humanistas da Europa.” 537<br />
Uma das concretizações do humanismo europeu está no exercício <strong>de</strong> um papel <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>,<br />
que ultrapassa as próprias fronteiras da Comunida<strong>de</strong>. O diálogo é necessário <strong>de</strong>ntro da Europa, mas<br />
“tem <strong>de</strong> se intensificar e alargar à outra Europa,” 538 aquela que emerge com o fim da Guerra Fria. A<br />
construção da Europa do futuro tem <strong>de</strong> se ir alinhando com as diferentes necessida<strong>de</strong>s históricas,<br />
<strong>de</strong>correntes da evolução da política mundial, que vai exigindo da Comunida<strong>de</strong> novas respostas.<br />
2.2.1.1 – A Queda do Muro <strong>de</strong> Berlim e a expansão das fronteiras da Comunida<strong>de</strong><br />
Com a queda do muro <strong>de</strong> Berlim e o prenúncio do fim da Guerra Fria, a questão do alargamento<br />
da Comunida<strong>de</strong> passa a estar na or<strong>de</strong>m do dia, com a perspectiva <strong>de</strong> consolidação das <strong>de</strong>mocracias a<br />
Leste, fruto da <strong>de</strong>cadência da União Soviética. A gestão do equilíbrio geopolítico mundial assente no<br />
domínio antagónico <strong>de</strong> duas potências chegara ao fim e, com isso, requestiona-se o papel da Europa no<br />
mundo. É neste momento histórico que Soares reforça o seu discurso sobre a Europa do futuro, como<br />
535 Eduardo Lourenço, A Europa Desencantada. Para uma mitologia europeia, Lisboa, Gradiva, 2005, p. 8.<br />
536 Mário Soares, “Construir a Nova Europa”, discurso proferido na Suécia, em 09.10.1990, durante a visita <strong>de</strong> Estado àquele<br />
país, in Mário Soares, Intervenções 5 […] cit., p. 256.<br />
537 Mário Soares, “O <strong>de</strong>stino europeu <strong>de</strong> Portugal”, discurso proferido em Estrasburgo, em 9.07.1986, no Parlamento Europeu, in<br />
Mário Soares, Intervenções […] cit., p. 132.<br />
538 Mário Soares, “Uma Europa mais solidária”, discurso proferido no Funchal, em 29.11.1988, na sessão <strong>de</strong> encerramento da<br />
Região da Europa, in Mário Soares, Intervenções 3 […] cit., p. 219.<br />
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