Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />
ao socialismo, fundamenta-se na prática <strong>de</strong> “valores essenciais,” como “a <strong>de</strong>fesa das liberda<strong>de</strong>s<br />
públicas, dos direitos do homem, da <strong>de</strong>mocracia a todos os níveis”, o que se concretizará com a<br />
evolução europeia para a unida<strong>de</strong> política. Neste sentido, Soares manifesta o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> “contribuir para<br />
<strong>de</strong>senvolver esta Europa política, que se dirige para o socialismo.” 520<br />
É após o 25 <strong>de</strong> Abril, já liberto das preocupações em <strong>de</strong>rrubar uma ditadura, que encontra<br />
espaço político para mais frequentemente projectar a sua i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Europa numa dimensão mais global,<br />
inerente ao seu sentido humanista. Uma Europa dos e virada para os cidadãos, o que exige <strong>de</strong>la<br />
profundas transformações institucionais, uma aspiração que tem dominado o seu discurso dos últimos<br />
anos. Pedagogo da <strong>de</strong>mocracia, Mário Soares prega uma futura “Europa Política com a activa<br />
participação dos cidadãos,” 521 enaltecendo a paz não apenas como mero objectivo político, “mas como<br />
cultura, a melhor forma <strong>de</strong> dirimir conflitos.” 522 Soares ergue os direitos fundamentais do homem como<br />
pilar <strong>de</strong> qualquer construção política, fazendo da paz um fim e um meio. A paz através da paz. Nas<br />
várias crónicas e discursos públicos dos últimos anos, os apelos aos lí<strong>de</strong>res europeus e aos EUA para<br />
concertações políticas com um propósito humanitário global são constantes. “Porque eu penso que a<br />
Europa po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar um papel consi<strong>de</strong>rável na tranquilida<strong>de</strong> mundial.” 523 Num sentido mais lato,<br />
a sua concepção europeia expressa um pensamento que privilegia o diálogo inter-nações, <strong>de</strong><br />
solidarieda<strong>de</strong> mundial.<br />
Estamos perante um pensamento humanista, que continua a aclamar os valores ancestrais da<br />
civilização europeia como conduta política. Estamos perante um humanismo no que o seu conceito tem<br />
<strong>de</strong> “interesse que confere ao elemento humano, como objecto <strong>de</strong> observação e fundamento <strong>de</strong> acção.” 524<br />
Encontramos também um humanista na acção própria <strong>de</strong> Soares, com um discurso profundamente<br />
argumentativo e racional, analisando o mundo e propondo-lhe soluções através da “humana<br />
inteligência.” 525 É um homem que se revê nos valores das Luzes, favorecido por sensibilida<strong>de</strong>s<br />
históricas e filosóficas, consciente <strong>de</strong> que a razão é a arma <strong>de</strong> resistência, fundada na preservação “dos<br />
valores morais, aprendidos na nossa Europa <strong>de</strong> tradição judaico-cristã e do iluminismo.” 526 Tal como a<br />
sua i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Pátria emana <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> histórico-filosófica portuguesa, também a <strong>de</strong> Europa se<br />
inspira em valores fundadores da civilização do velho continente.<br />
Soares vê “a Europa fiel ao <strong>de</strong>sígnio humanista que lhe dá sentido, como um continente aberto<br />
aos outros, ao enriquecimento plural das culturas e ao contributo <strong>de</strong> povos bem diferenciados mas<br />
unidos na riqueza da sua enorme diversida<strong>de</strong>.” A união das nações na sua diferença só será possível<br />
através da assumpção da filosofia humanista, que levará à prática da solidarieda<strong>de</strong>. A recuperação<br />
520<br />
Entrevista a Mário Soares, realizada por André Pautard, para o semanário francês L’Express, e publicada em 17.02.1975, in<br />
Mário Soares, Democratização e […] cit., p. 269.<br />
521<br />
Mário Soares, “Bush na Europa”, artigo publicado no Expresso, 16.06.2001, in Mário Soares, Um Mundo Inquietante, Lisboa,<br />
Temas e Debates, 2003, p. 281.<br />
522<br />
I<strong>de</strong>m, “Ser europeu hoje, caminho para a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> entre o passado e o futuro”, discurso proferido a convite da Fundação da<br />
Câmara <strong>de</strong> Deputados <strong>de</strong> Itália, no Colóquio Comemorativo dos 50 anos da assinatura do Tratado <strong>de</strong> Roma, em 9.02.2007,<br />
http://www.fmsoares.pt/ms/textos/001/71.pdf (acedido em 16.02.2010).<br />
523<br />
Entrevista a Mário Soares, realizada por André Pautard, para o semanário francês L’Express, e publicada em 17.02,1975, in<br />
Mário Soares, Democratização e […] cit., p. 270.<br />
524 “Humanismo”, Gran<strong>de</strong> Enciclopédia Portuguesa Brasileira, Lisboa, Editorial Enciclopédia, 1992.<br />
525 Ibi<strong>de</strong>m.<br />
526 Mário Soares, “Aquela Trágica Terça-Feira”, artigo publicado no Expresso, 15.09.2001, in Mário Soares, Português e<br />
Europeu, […] cit., pp. 263-268.<br />
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