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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

contribuição que <strong>de</strong>mos à civilização do universal.” 514 Como temos vindo a explicar, trata-se <strong>de</strong><br />

recuperar uma herança histórica e uma condição geográfica para evi<strong>de</strong>nciar o país na política externa<br />

contemporânea.<br />

O i<strong>de</strong>al da Mensagem <strong>de</strong> Pessoa, um Portugal com expressão no mundo, dinamizador e<br />

influenciador <strong>de</strong> um espírito próprio, esse “Quinto Império”, cumprir-se-á, na óptica <strong>de</strong> Soares, através<br />

da Europa. O seu i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> Europa é a sua expressão política do Quinto Império, que nasceria, na<br />

literatura pessoana, através <strong>de</strong> um ímpeto novo, personalizado por um “Super-Camões” que<br />

“encabeçaria „uma nova Renascença (…) que <strong>de</strong> Portugal se <strong>de</strong>rramará para a Europa, como da Itália<br />

para a Europa se <strong>de</strong>rramou a outra Renascença.‟” 515 A Europa, enquanto força geopolítica no mundo,<br />

está para a afirmação portuguesa contemporânea como o mar esteve para os <strong>de</strong>scobridores portugueses.<br />

Por isso, teria sido um erro, após o <strong>de</strong>rrube do Estado Novo, colocar o futuro do país em termos<br />

paradigmáticos. A Europa não é apenas vista por Soares como a guarida económica <strong>de</strong> Portugal, mas<br />

acima <strong>de</strong> tudo como integrante da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> portuguesa, veículo para o exercício <strong>de</strong> uma política<br />

universalista, que, <strong>de</strong> outro modo, isoladamente, na tendência para a aglomeração <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s blocos<br />

geopolíticos, Portugal não conseguiria afirmar. É assim que vamos ao encontro da i<strong>de</strong>ia inicial <strong>de</strong>ste<br />

capítulo, a <strong>de</strong> que a Europa é o futuro <strong>de</strong> Portugal e o complemento à sua i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Pátria. E se Portugal<br />

retira vantagens da Europa, também esta encontra na i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> lusa um complemento à sua missão <strong>de</strong><br />

mediadora política global, o que se revela numa perfeita simbiose.<br />

2 – Portugal – o complemento à i<strong>de</strong>ia da Europa do futuro<br />

Se a Europa ajuda a projectar a tradição universalista portuguesa como via futura <strong>de</strong> exercício<br />

político, também ao contrário se estabelece uma relação <strong>de</strong> complementarida<strong>de</strong>. Portugal ajuda a<br />

projectar a Europa do futuro, que, na i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Soares, não <strong>de</strong>ve quedar-se sobre si, não ser eurocêntrica,<br />

mas perfilhar <strong>de</strong> valores humanistas, quer interna, quer externamente. Neste aspecto, a Europa <strong>de</strong>ve<br />

assumir um papel importante <strong>de</strong> mediadora política no mundo. Para isso, terá <strong>de</strong> ter a coragem para<br />

encetar uma reforma institucional, para se dotar <strong>de</strong> uma estrutura <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão assente numa verda<strong>de</strong>ira<br />

unida<strong>de</strong> política. Só assim terá capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exercer influência no mundo e praticar os seus ancestrais<br />

valores humanistas. Iremos novamente constatar a historicida<strong>de</strong> do pensamento <strong>de</strong> Soares, que bebe <strong>de</strong><br />

uma gran<strong>de</strong> influência <strong>de</strong> pensadores e construtores da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Europa unida.<br />

514<br />

Mário Soares, “O Universalismo da liberda<strong>de</strong>”, discurso proferido na Covilhã, em 10.06.1988, in Mário Soares, Intervenções 3<br />

[…] cit., p. 44.<br />

515<br />

Primeiros poemas publicados por Fernando Pessoa, em 1912, citado por Richard Zenith, Prefácio, Fernando Pessoa,<br />

Mensagem, Oficina do Livro, Cruz Quebrada, 2006, p. 12.<br />

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