16.04.2013 Views

Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

Abril e a subsequente <strong>de</strong>scolonização terem anunciado o fim do império, na generalida<strong>de</strong> do<br />

pensamento português pairaria ainda, durante alguns anos, a incógnita sobre o futuro político <strong>de</strong><br />

Portugal, a ousar um certo arrependimento do abrupto abandono dos territórios coloniais. Como já<br />

vimos, mesmo com a estabilização política após o PREC, não era claro, na generalida<strong>de</strong> do espírito<br />

político português, a viabilida<strong>de</strong> da opção europeia, instalando-se alguns receios <strong>de</strong> incompatibilida<strong>de</strong><br />

da vocação atlântica portuguesa com a continental. De modo que, só após a a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> Portugal à CEE e<br />

alguns anos <strong>de</strong>pois, as evidências do tempo foram consolidando nas mentalida<strong>de</strong>s e política portuguesa<br />

o fim do ciclo do império.<br />

O 25 <strong>de</strong> Abril permitiu as condições políticas <strong>de</strong> preparação <strong>de</strong>mocrática necessárias para a<br />

integração europeia <strong>de</strong> Portugal, que representou “um virar <strong>de</strong> página na sua história multissecular,” 506<br />

em que o país <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> se afirmar pelo seu império colonial e inicia uma futura partilha <strong>de</strong> soberania,<br />

integrando um novo sistema económico, enfim, uma mudança nos vários sectores da socieda<strong>de</strong><br />

portuguesa. A a<strong>de</strong>são significa a viabilida<strong>de</strong> da sobrevivência do país ao fim do ciclo do império,<br />

consolidando, politicamente, a sua nova vertente europeia, representando “o contraponto natural da<br />

<strong>de</strong>scolonização” 507 e tudo o que isso implicava.<br />

Componente estruturante da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Soares para o futuro <strong>de</strong> Portugal, a integração europeia<br />

representa a concretização da sua política antagonista à do Estado Novo. Além <strong>de</strong> uma alternativa ao<br />

colonialismo, a a<strong>de</strong>são à CEE foi sempre vista como “um modo <strong>de</strong> reforçar o nosso sistema<br />

<strong>de</strong>mocrático, <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnizar as nossas estruturas e <strong>de</strong> alargar o campo da nossa convivência externa.” 508<br />

Tendo sido a alternativa a um vazio político após o 25 <strong>de</strong> Abril, a integração não se esgota nesta<br />

resposta histórica, sendo antes, enquanto pilar da i<strong>de</strong>ia soarista <strong>de</strong> Pátria, a inauguração <strong>de</strong> uma nova<br />

forma <strong>de</strong> fazer política em Portugal e <strong>de</strong> Portugal estar no mundo, alterando as políticas internas do<br />

Estado e introduzindo-o “no sistema <strong>de</strong> relações internacionais (…).” 509<br />

É a integração europeia <strong>de</strong> Portugal que permite a inserção plena do país na geopolítica<br />

mundial, o auge do antagonismo ao isolacionismo ditatorial. Enquanto Salazar advogava uma soberania<br />

política emanada do estado nação, com a integração europeia <strong>de</strong> Portugal, inaugura-se uma nova forma<br />

do país exercer a sua soberania, que será tão mais plena quanto mais aprofundamento político fizer a<br />

Comunida<strong>de</strong>.<br />

A União Europeia apresenta-se a Soares como “a única maneira <strong>de</strong> Portugal ter voz audível no<br />

mundo <strong>de</strong> hoje – e, em consequência, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r eficazmente os seus interesses nacionais.” 510 Por isso,<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a solução fe<strong>de</strong>ral para a evolução institucional da União, como a forma mais <strong>de</strong>mocraticamente<br />

participativa dos estados membros. Este é um assunto que tem dominado frequentemente os seus<br />

506<br />

Mário Soares, “Uma Socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna, humana e <strong>de</strong> progresso”, conferência proferida no Wilson Center (Washington), em<br />

18.05.1987, integrada no Colóquio “Portugal: Ancient Country, Young Democracy”, in Mário Soares, Intervenções 2 […] cit., p.<br />

43.<br />

507<br />

Mário Soares, “A i<strong>de</strong>ia europeia”, conferência proferida na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Salamanca, em 16.01.1987, in Mário Soares,<br />

Intervenções 2 […] cit., p. 220.<br />

508<br />

Mário Soares, “Coor<strong>de</strong>nar o Esforço Europeu”, discurso proferido em 6.04.1987, por ocasião da visita oficial a Portugal do<br />

Presi<strong>de</strong>nte da República Francesa, in Mário Soares, Intervenções 2 […] cit., p. 244.<br />

509<br />

Mário Soares, “Mais solidarieda<strong>de</strong> e mais liberda<strong>de</strong>”, discurso proferido em 3.12.1986, na Conferência Nacional da<br />

Associação Portuguesa dos Economistas, in Mário Soares, Intervenções […] cit., p. 121.<br />

510<br />

In Mário Bettencourt Resen<strong>de</strong>s, A Incerteza dos Tempos, entrevista a Mário Soares, Lisboa, Editorial Notícias, 2003, p. 59.<br />

115

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!