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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

conjunturas históricas, mas sim uma i<strong>de</strong>ia estruturante do seu pensamento sobre a Pátria. A a<strong>de</strong>são não<br />

foi uma <strong>de</strong>cisão “ditada(s) por meras circunstâncias conjunturais: são opções estratégicas, <strong>de</strong> longo<br />

prazo, em absoluto convergentes com os interesses permanentes da Nação e com os eixos fundamentais<br />

da sua inserção externa (…).” 500<br />

É neste sentido que Portugal tem <strong>de</strong> realçar a sua geopolítica, assumindo-se com um papel<br />

específico, insubstituível e <strong>de</strong>terminante para o futuro do projecto europeu, influenciando a Europa no<br />

exercício <strong>de</strong> um papel humanista e universalista. 501 O Atlântico é para a Europa a via <strong>de</strong> diálogo com os<br />

países do Sul, sendo Portugal a porta europeia para essa via. Como “um dos Estados comunitários<br />

historicamente mais ligado aos Povos das duas margens do Atlântico Sul”, Portugal, erguendo a voz da<br />

sua tradição universalista na Europa, <strong>de</strong>ve continuar a assumir-se “como um legítimo arauto e um<br />

garante intransigente do espírito <strong>de</strong> abertura da Europa aos povos dos outros continentes.” 502 E porque<br />

também tem responsabilida<strong>de</strong>s na construção do i<strong>de</strong>al europeu, Portugal “po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve exercer um papel<br />

importante no combate por essa Europa que esperemos marque o próximo século.” 503<br />

Esta i<strong>de</strong>ia da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diálogo da Europa com outros continentes, nomeadamente <strong>de</strong><br />

diálogo Norte/Sul, será melhor <strong>de</strong>senvolvida no capítulo 2. É neste i<strong>de</strong>ário europeu que Soares contraria<br />

um papel passivo <strong>de</strong> Portugal, sendo por uma iniciativa diplomática activa que o país po<strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciar-<br />

se politicamente na construção da nova or<strong>de</strong>m mundial, que começa a <strong>de</strong>senhar-se após a queda do<br />

muro <strong>de</strong> Berlim. Integrado na Europa, Portugal sobredimensiona politicamente o seu território<br />

geográfico, pois é assim que se encontra, “pelo menos em teoria, particularmente bem posicionado para,<br />

com as limitações próprias <strong>de</strong> um pequeno país, (…) po<strong>de</strong>r participar <strong>de</strong> forma muito positiva na<br />

realização da nova or<strong>de</strong>m mundial.” 504 Soares inaugurou e, com a sua insistência neste assunto, ajudou<br />

a consolidar a política externa actual <strong>de</strong> Portugal, que quebrou com o ciclo do império e inseriu o país<br />

na política global contemporânea.<br />

1.3 – Integração Europeia – a consolidação do fim do ciclo do império<br />

“A a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> Portugal às Comunida<strong>de</strong>s Europeias (…) resultou <strong>de</strong> uma opção nacional e foi<br />

como que um virar <strong>de</strong> página da nossa história multissecular, após o encerramento do ciclo do<br />

império.” 505 Diríamos mais. Que a integração europeia <strong>de</strong> Portugal marcou o início da consolidação do<br />

fim do ciclo do império. Diga-se o início da consolidação do fim porque, apesar <strong>de</strong> formalmente o 25 <strong>de</strong><br />

500 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, pp.233.<br />

501 “Esta posição geoestratégica confere-nos potencialida<strong>de</strong>s que procuramos, naturalmente, <strong>de</strong>senvolver, constituindo<br />

igualmente o trunfo valioso para a União Europeia, no seu conjunto.” Mário Soares, “O <strong>de</strong>sígnio humanista da Europa”,<br />

conferência proferida em Bruxelas, em 15.03.1993, a convite das “Gran<strong>de</strong>s Conferências Católicas”, in Mário Soares,<br />

Intervenções 7 […] cit., p. 106.<br />

502 Mário Soares, “Um novo rosto à ligação Europa-América Latina”, discurso proferido em Guadalajara, em 19.07.1991, durante<br />

a 1ª Conferência Ibero-ameriana, in Mário Soares, Intervenções 6 […] cit., p. 180.<br />

503 Mário Soares, “Dar à Europa um contributo criador”, <strong>de</strong>poimento concedido à revista Visão, em Junho <strong>de</strong> 1995, sobre os <strong>de</strong>z<br />

anos da integração <strong>de</strong> Portugal na CEE, in Mário Soares, Intervenções 10 […] cit., p. 135.<br />

504 Mário Soares, “Uma nova or<strong>de</strong>m económica e social”, discurso proferido na EXPONOR, Porto, em 29.10.1992, na sessão <strong>de</strong><br />

homenagem ao empresário português, in Mário Soares, Intervenções 7 […] cit., p. 128.<br />

505 Mário Soares, “A Europa em Diálogo”, discurso proferido em 21.06.1987, na VIII Conferência Interparlamentar da<br />

Comunida<strong>de</strong> Europeia – América Latina, em Lisboa, in Mário Soares, Intervenções 2 […] cit., p. 259.<br />

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