Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />
histórica, cultural e geográfica, do que o enaltecimento do “humanismo universalista dos portugueses” é<br />
exemplo constante, numa recuperação da historicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste conceito.<br />
Enquanto opositor ao regime <strong>de</strong> Salazar, Primeiro-ministro ou Presi<strong>de</strong>nte da República, a táctica<br />
pautou, frequentemente, o seu discurso político, mas sempre lhe esteve subjacente uma profunda<br />
teorização dos seus projectos para Portugal e a Europa, em que o liberalismo, o humanismo e o<br />
socialismo se conjugam como elementos estruturantes do seu pensamento.<br />
Os seareiros, entre outros vultos das letras portuguesas, como Antero <strong>de</strong> Quental, Fernando<br />
Pessoa e Alexandre Herculano, foram influências da formação intelectual e moral <strong>de</strong> Mário Soares, o<br />
que <strong>de</strong>terminou os princípios do homem cidadão e político. Ao longo das próximas páginas, teremos a<br />
oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhar a sua acção e pensamento, que atestarão a transversalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stas influências à<br />
sua vida. “Em geral, as posições sociopolíticas do lí<strong>de</strong>r socialista, que se formaram nos anos 50 e têm a<br />
ver com os princípios, não evoluíram significativamente e, mesmo que tenham sofrido algumas<br />
modificações, foi antes sob influência das causas externas e não em resultado <strong>de</strong> uma reformulação<br />
interior.” 13<br />
Já fruto <strong>de</strong> uma profunda reformulação interior foi a troca da admiração efémera pelo<br />
comunismo para a adopção permanente do socialismo <strong>de</strong>mocrático. Tendo exercido uma militância<br />
activa no PCP, terá Mário Soares chegado a perspectivar o comunismo como i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> organização e<br />
governação <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong>? Terá ele chegado a teorizar uma i<strong>de</strong>ia para o futuro <strong>de</strong> Portugal e da<br />
Europa estruturada na acepção comunista? Como se explica esta incursão pelo partido, ao qual mais<br />
tar<strong>de</strong> vem a ser acérrimo opositor? No próximo capítulo, vamos tentar perceber como se suce<strong>de</strong>ram<br />
estas opções partidárias e questionamentos i<strong>de</strong>ológicos <strong>de</strong> Soares, que <strong>de</strong>terminaram o futuro do<br />
político e a contribuição que teve para a História <strong>de</strong> Portugal, nomeadamente, na opção pela<br />
europeização da nação.<br />
2 – A Europa a Leste – a alternativa credível na luta oposicionista<br />
Foi no PCP que o jovem Soares iniciou um forte activismo político contra o Estado Novo, tendo<br />
chegado a ser um proeminente dirigente das Juventu<strong>de</strong>s Comunistas (JC) e chamado a atenção <strong>de</strong><br />
Álvaro Cunhal.<br />
A sua entrada na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Lisboa, em 1941, para cursar Ciências Histórico-Filosóficas,<br />
proporcionou-lhe o exercício <strong>de</strong> uma oposição mais organizada. No meio estudantil, foi conhecendo<br />
pessoas ligadas ao partido comunista e estabelecendo contactos. Através <strong>de</strong> Borges <strong>de</strong> Macedo, é<br />
apresentado a Barradas <strong>de</strong> Carvalho, que o integra nas JC.<br />
Assim se vê o jovem Soares a promover campanhas do PCP, a penetrar nas suas estruturas<br />
partidárias e a conviver com os seus activistas, como Fernando Piteira Santos, que o leva a proferir<br />
13 Sergei Yastrzhembskiy, cit., p. 102.<br />
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