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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

regime português, pelo menos na sua forma actual.” 457 Condição imprescindível para uma integração<br />

europeia era a <strong>de</strong>mocratização e a <strong>de</strong>scolonização. Foi nesse sentido que incidiu a sua política na pasta<br />

dos Negócios Estrangeiros nos Governos Provisórios, que teve como linha condutora a <strong>de</strong>mocratização<br />

do país, “um imperativo <strong>de</strong> salvação nacional e condição para a reintegração <strong>de</strong> Portugal na Europa.” 458<br />

A integração europeia revela-se como a contraposição à política externa do Estado Novo. Com o fim do<br />

regime, Portugal encontraria a viabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sobrevivência política e económica na integração<br />

europeia, o que acarretará uma reestruturação do país. 459<br />

A política “orgulhosamente só” <strong>de</strong> Salazar era adversa a qualquer tipo <strong>de</strong> cooperação com a<br />

CEE. Mesmo a entrada na NATO, como já vimos, foi “tirada a ferros.” Virado para o além-mar, o<br />

governo salazarista insistia numa política colonial que se repercutia num crescente mau estar<br />

internacional. O fim do Estado Novo permitiria assim inaugurar um novo projecto político para<br />

Portugal, no qual a Europa se constituía como estruturante. “O resultado é inelutável: Portugal tem <strong>de</strong><br />

reestruturar o seu futuro nacional nos limites do território europeu. O que nos obriga a todos a<br />

repensar Portugal, como nação.” 460 Repensar a pátria tem sido um exercício permanente <strong>de</strong> Soares. A<br />

partir <strong>de</strong> meados da década <strong>de</strong> 60, a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que o futuro <strong>de</strong> Portugal está na integração europeia jamais<br />

se ausentará do seu discurso, sendo este um pensamento evolutivo, consoante as necessida<strong>de</strong>s dos<br />

diferentes contextos políticos do país e do mundo.<br />

A sedimentar esta i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a oposição a Salazar, não admira que a voz <strong>de</strong> Soares se tenha<br />

singularizado com um projecto claro para o futuro do país, entre a in<strong>de</strong>finição que pairava no<br />

pensamento português sobre o rumo <strong>de</strong> Portugal, após o 25 <strong>de</strong> Abril, época em que, apesar <strong>de</strong> parte<br />

significativa dos pensadores conceberem que se estava perante o encerramento <strong>de</strong> um ciclo “e que era<br />

necessário, por isso, repensar Portugal”, não ousavam “apontar um caminho claro e objectivo (…).” 461<br />

Soares preencheu esse vazio político, apontando esse caminho claro e objectivo, primeiramente como<br />

arma <strong>de</strong> oposição, <strong>de</strong>pois com tímidas manifestações, enquanto Ministro dos Negócios Estrangeiros,<br />

nos Governos Provisórios, e, assumidamente, com a campanha política pela Europa, que foi ban<strong>de</strong>ira da<br />

sua candidatura às eleições <strong>de</strong> 1976. “Foi o contraponto necessário da <strong>de</strong>scolonização. Um<br />

acontecimento importantíssimo para o futuro <strong>de</strong> Portugal,” 462 que veio não só alinhar todos os governos<br />

constitucionais seguintes numa acção política pela a<strong>de</strong>são à CEE, consumada em 1985, como também<br />

contagiar alguns intelectuais portugueses com a opção europeia, ainda que com recatadas<br />

manifestações. 463<br />

457 Destruir o Sistema, Construir uma Nova Vida”, relatório do secretário-geral do PS, discutido, lido e aprovado no Congresso <strong>de</strong><br />

Maio <strong>de</strong> 1973, na Alemanha, in Mário Soares, Escritos do Exílio […] cit., pp. 325.<br />

458 Mário Soares, Conferência <strong>de</strong> Imprensa no Overseas Press Club, em Nova Iorque, em 1.04.1970, organizada por iniciativa da<br />

Revista Ibérica, in Mário Soares, Escritos do Exílio […] cit., p. 33.<br />

459 “Na perspectiva da perda <strong>de</strong> colónias e <strong>de</strong> uma associação mais íntima com a Europa, há que reestruturar toda a vida<br />

nacional em novas bases (…).” Mário Soares, Portugal […] cit., p. 718.<br />

460 Destruir o Sistema, Construir uma Nova Vida”, relatório do secretário-geral do PS, discutido, lido e aprovado no Congresso <strong>de</strong><br />

Maio <strong>de</strong> 1973, na Alemanha, in Mário Soares, Escritos do Exílio […] cit., pp. 317.<br />

461 António Martins da Silva, “Portugal no Caminho da Europa: atitu<strong>de</strong>s e posicionamento perante a opção e o mo<strong>de</strong>lo<br />

institucional europeus no pós 25 <strong>de</strong> Abril (1974-2004), in Norberto Cunha (coord), cit., pp. 130, 131.<br />

462 Mário Soares, “25 <strong>de</strong> Abril: Portugal e o futuro”, conferência <strong>de</strong> encerramento do ciclo ‟30 anos do 25 <strong>de</strong> Abril: Portugal e o<br />

futuro‟, proferida no auditório Almeida Garret, a convite do presi<strong>de</strong>nte da Câmara Municipal <strong>de</strong> Porto, 18.11.2004, in Mário<br />

Soares, A Crise e Agora, Lisboa, Temas e Debates, 2005, p. 24.<br />

463 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, pp. 134,135.<br />

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