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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

veículo para outras formas <strong>de</strong> cooperação, que se revela no domínio “da ciência e das tecnologias,” e<br />

na “or<strong>de</strong>m económica, empresarial e até política.” 447<br />

Estes novos âmbitos <strong>de</strong> relações, só possíveis com o 25 <strong>de</strong> Abril, graças à “in<strong>de</strong>pendência dos<br />

países africanos lusófonos”, inserem-se no ciclo do pensamento soarista <strong>de</strong> recuperação do exemplo<br />

histórico como conduta <strong>de</strong> acção presente, <strong>de</strong>lineando uma visão estruturante da política externa<br />

nacional. O fim da atitu<strong>de</strong> parasitária <strong>de</strong> relação colonial, ditado pelo 25 <strong>de</strong> Abril, e já antes praticado<br />

dos sécs. XVI ao XVIII, reuniu as condições <strong>de</strong> regresso à alma humanista que impulsionou as<br />

Descobertas Portuguesas, que “representam o momento <strong>de</strong> encontro <strong>de</strong> Portugal com a História do<br />

Universal.” Soares não as exalta “com espírito passadista”, mas sim futurista, “procurando hoje, como<br />

aconteceu em Quinhentos, acertar o passo com os avanços e as inovações da ciência e tecnologia.” 448<br />

Valorizando a expansão marítima, transporta para a política sua contemporânea o canto camoniano,<br />

tornando-se uma voz reminiscente do enaltecimento literário das Descobertas, que <strong>de</strong>ram “novos<br />

mundos ao mundo” 449 Vemos até, como em Pessoa, um certo paternalismo português, quando assume<br />

que “a visão” que motivou os Descobridores portugueses “e o espírito universalista a que <strong>de</strong>ram origem<br />

são hoje património <strong>de</strong> toda a humanida<strong>de</strong>.” 450 O universalismo é visto como ferramenta da política<br />

actual, do “Portugal mo<strong>de</strong>rno, <strong>de</strong>mocrático, europeu e solidário que procuramos construir.” 451 É na<br />

concepção <strong>de</strong> país mo<strong>de</strong>rno, a par com outras <strong>de</strong>mocracias europeias, que “falta cumprir Portugal.” 452 A<br />

paráfrase pessoana revela a inquietu<strong>de</strong> do pensamento soarista relativamente à sua Pátria.<br />

Não abdicar da lição do passado e da herança atlântica, representada pela ligação histórica a<br />

África e América Latina, não significa ficar refém da história, mas projectá-la numa conduta futura.<br />

Mas não se consegue “cumprir Portugal” apenas com uma política externa atlântica, sendo necessário<br />

também uma integração europeia. Não ficará Portugal dividido entre a diplomacia marítima e<br />

continental? Não será isto incompatível? Não! A integração europeia <strong>de</strong> Portugal insere-se na<br />

recuperação histórica <strong>de</strong> Soares com uma concepção futurista, como iremos compreen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> seguida.<br />

1.2. – Integração Europeia - cumprir uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> euro-atlântica<br />

“Portugal país euro-atlântico. A expressão encerra em si mesma uma evidência geográfica, que,<br />

além disso, tem o peso <strong>de</strong> uma história <strong>de</strong> quase nove séculos. Portugal é, obviamente, um país europeu<br />

447<br />

Mário Soares, “Falar a linguagem da verda<strong>de</strong>”, mensagem <strong>de</strong> Ano Novo, dirigida aos Portugueses, em 1.01.1995, in Mário<br />

Soares, Intervenções 9 […] cit., p. 65.<br />

448<br />

Mário Soares, ”Uma comemoração virada para o futuro”, discurso proferido na cerimónia <strong>de</strong> con<strong>de</strong>coração realizada em<br />

10.06.1987, no Palácio da Ajuda, por ocasião do início da comemoração dos Gran<strong>de</strong>s Descobrimentos Portugueses, in Mário<br />

Soares, Intervenções 2 […] cit., p. 169.<br />

449<br />

Mário Soares, “Uma Pequenina Luz Bruxuleante”, discurso proferido no Palácio <strong>de</strong> Queluz, em 6.01.1988, na cerimónia <strong>de</strong><br />

saudação ao Corpo Diplomático, in Mário Soares, Intervenções 2 […] cit., p. 330.<br />

450<br />

Mário Soares, “Uma Afirmação do Espírito Mo<strong>de</strong>rno”, discurso proferido em 16.03.1987, em Brasília, no acto oficial <strong>de</strong><br />

associação <strong>de</strong> Brasil às comemorações das Gran<strong>de</strong>s Descobertas Portuguesas, in Mário Soares, Intervenções 2 […] cit., p. 175.<br />

451<br />

Mário Soares, “Uma Aventura que mudou a Face da Terra” discurso proferido junto à Torre <strong>de</strong> Belém, em 10.06.1987, dia <strong>de</strong><br />

Camões e das Comunida<strong>de</strong>s Portuguesas, in Mário Soares, Intervenções 2 […] cit., p. 167.<br />

452<br />

Mário Soares, “O Universalismo da Liberda<strong>de</strong>”, discurso proferido na Covilhã, em 10.06.1988, no Dia <strong>de</strong> Portugal, <strong>de</strong> Camões<br />

e das Comunida<strong>de</strong>s, in Mário Soares, Intervenções 3 […] cit., p. 43.<br />

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