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Capítulo I - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Mário Soares e a Europa – pensamento e acção<br />

coragem”, reconhecendo que exerceu sobre si uma “<strong>de</strong>terminada influência,” 8 levando-o à militância no<br />

Partido Comunista Português (PCP), que, apesar <strong>de</strong> efémera, o fez <strong>de</strong>scobrir o marxismo. Embora não<br />

tenha adoptado a i<strong>de</strong>ologia <strong>de</strong> Marx através da via partidária, reclama-a durante toda a vida como um<br />

pilar <strong>de</strong> formação, subjacente à sua prática política, como instrumento <strong>de</strong> pensamento, uma “formação<br />

filosófica <strong>de</strong> base”, que assume, sobretudo, como “um método <strong>de</strong> investigação da realida<strong>de</strong>” e não um<br />

dogma. 9<br />

A este <strong>de</strong>svio à acepção dogmática da corrente <strong>de</strong> Karl Marx não terá sido alheia a influência <strong>de</strong><br />

figuras republicanas, liberais e socialistas que vieram a predominar no seu pensamento. Por volta <strong>de</strong><br />

1953, Soares é um dos fundadores da Resistência Republicana, grupo que tentava ser uma alternativa à<br />

esquerda comunista, juntamente com Piteira Santos, Gustavo Soromenho e Magalhães Godinho, entre<br />

outros nomes, alguns dos quais igualmente <strong>de</strong>sligados do PCP, que realizavam uma busca idêntica à<br />

sua, a <strong>de</strong> re<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ais políticos. É em representação da Resistência Republicana que integra, o<br />

Directório Social Democrata, no qual conhece os seareiros António Sérgio, Jaime Cortesão e Mário <strong>de</strong><br />

Azevedo Gomes, <strong>de</strong> uma geração mais velha, que se tornou referência permanente no seu pensamento<br />

político, polvilhado assim do espírito opositor da Seara Nova.<br />

Estas heranças político-i<strong>de</strong>ológicas dotam Soares <strong>de</strong> uma permanente atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> reformismo da<br />

mentalida<strong>de</strong> portuguesa, <strong>de</strong> combate pela mudança e <strong>de</strong> uma marcada i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> patriótica, confiante <strong>de</strong><br />

que é a formação da opinião pública que po<strong>de</strong>rá exigir reformas à hierarquia política. Tal espírito<br />

doutrinário rege o seu estilo discursivo na política, aprimorando uma capacida<strong>de</strong> oratória para persuadir<br />

e formar, não só enquanto opositor ao Estado Novo, mas também, e principalmente, na sua saga pela<br />

integração europeia <strong>de</strong> Portugal e pelo aprofundamento da União Europeia.<br />

Consi<strong>de</strong>ra, na longa entrevista a Maria João Avillez, algumas personalida<strong>de</strong>s seareiras “como<br />

mestres da acção cívica”, com “uma moralida<strong>de</strong> sem mácula, um i<strong>de</strong>alismo e <strong>de</strong>sinteresse pessoal <strong>de</strong><br />

excepção, humanistas e patriotas. Eram cidadãos do mundo (…).” 10 Também Soares o é, não só pela<br />

sua experiência política internacional, mas também <strong>de</strong>vido a uma visão global das problemáticas e<br />

respectivas soluções sociopolíticas, sobre as quais se <strong>de</strong>bruça.<br />

De todos, Jaime Cortesão foi a personalida<strong>de</strong> mais admirada e que mais marcou o seu<br />

pensamento. “O mais completo, o humanista no melhor sentido (…).” 11 Tal como Cortesão patenteia<br />

nas suas obras a importância do conhecimento da história para esboçar o futuro da socieda<strong>de</strong>, 12 também<br />

Soares adquire essa noção, fundamentando, nos seus discursos, as soluções que propõe para o futuro <strong>de</strong><br />

Portugal e da Europa em raízes históricas, com uma constante conexão <strong>de</strong> futuro e passado. Soares<br />

procurou contribuir, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre, para a consciência cívica dos cidadãos sobre a sua condição<br />

8<br />

In Portugal – Quelle révolution? Entretiens avec Dominique Pouchin, Paris, Calmann-Lévy, 1976, citado por Sergei<br />

Yastrzhembskiy, Mário Soares e a Democracia Portuguesa Vistos da Rússia, Lisboa, Temas e Debates, 2008, p. 29.<br />

9<br />

“Consi<strong>de</strong>ro-me um Socialista <strong>de</strong> Formação Marxista”, entrevista <strong>de</strong> Mário Mesquita a Mário Soares, Arquivo Fundação Mário<br />

Soares, pasta 00008001, imagens 211-239.<br />

10<br />

In Maria João Avillez, Soares, Ditadura […] cit., pp. 108,109.<br />

11<br />

In Isabel Soares (compilação), Mário Soares, O Homem e o Político, Lisboa, Perspectivas e Realida<strong>de</strong>s, 1976, citado por<br />

Sergei Yastrzhembskiy, cit., p.108.<br />

12<br />

José Manuel Garcia, O Essencial sobre Jaime Cortesão, Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1987.<br />

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