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<strong>ITAÚ</strong> <strong>CULTURAL</strong><br />
O simples e o complexo<br />
jul 2008 | itaucultural.org.br .<br />
12
Da cibernética para a arte e a cultura<br />
Ao comemorar seu primeiro ano, a Continuum Itaú Cultural faz uma abordagem poética do<br />
tema emergência. Comumente relacionado a urgência, o termo, contudo, evoca um significado<br />
maior: realidades complexas (e imprevisíveis) que surgem da combinação de regras simples.<br />
Um prato cheio, portanto, para a criação de matérias que trazem assuntos como acaso, caos,<br />
estética e organicidade, caros ao universo da arte, da cultura, da biologia e da cibernética. Sob<br />
o título O simples e o complexo, mostra de que forma a emergência se faz presente, seja em<br />
uma enciclopédia virtual aberta à colaboração de todos, seja nas artes visuais, na música ou<br />
em atos cotidianos.<br />
Entrevista com Dr. Wires, ciberneticista britânico que carrega a generosa (e corajosa) ambição<br />
de popularizar a ciência, revela que paradigmas aparentemente “duros” estão bem mais<br />
próximos de nós do que imaginamos. Perfil do artista americano naturalizado brasileiro John<br />
Howard, por sua vez, mostra como a trajetória<br />
de uma pessoa transformou a arte da grande<br />
cidade. E a história em quadrinhos criada pelo<br />
ilustrador Júlio Brilha desmistifica o conceito<br />
de emergência: ele está em todas as partes,<br />
em tudo o que fazemos – é só uma questão<br />
de ponto de vista.<br />
Na Área livre, Dimitre Lima se utiliza do<br />
software livre Processing para criar trabalho<br />
de arte geracional cujo tema é o primeiro<br />
ano da Continuum. O artista escolheu<br />
como material as mil palavras mais usadas<br />
nos primeiros números da publicação. Elas emprestam sua forma à construção<br />
de uma imagem, e o tamanho de cada uma é proporcional à quantidade de<br />
vezes em que apareceu nesse período. Um detalhe: a palavra “individual”<br />
foi a menos utilizada (nove vezes) em todas as edições. É uma<br />
prova do caráter da revista: uma construção coletiva. Na<br />
versão virtual (itaucultural.org.br/revista) conheça<br />
outros resultados dessa obra.<br />
Continuum Itaú Cultural Projeto Gráfico Jader Rosa Redação André Seiti, Érica Teruel Guerra, Marco Aurélio Fiochi, Mariana Lacerda, Thiago Rosenberg<br />
Colaboraram nesta edição Cia de Foto, Daniel Daibem, Dimitre Lima, Júlio Brilha, Mariana Sgarioni Agradecimentos Carla Nejm, Celso Gitahy, Chris<br />
Holvorcem, Claudio Schapochnik, Guilherme Kujawski, Marcos Cuzziol, Mauro Copelli, Paul Pangaro, Ricardo Tayra, Riccardo Fanucchi<br />
capa a complexidade expressa na simplicidade das instalações elétricas clandestinas | imagem: Cia de Foto<br />
ISSN 98 -8084 Matrícula 55.08 (dezembro de 007)<br />
Tiragem 10 mil – distribuição gratuita Sugestões e críticas devem ser encaminhadas ao Núcleo de Comunicação e Relacionamento<br />
. atendimento@itaucultural.org.br Jornalista responsável Ana de Fátima Sousa MTb 13.554<br />
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sumário<br />
A lição das formigas<br />
<strong>ITAÚ</strong> <strong>CULTURAL</strong><br />
De que forma a emergência está presente na arte contemporânea<br />
2 +2 = 5<br />
Multidão, interação e caos: a imprevisível vida das cidades<br />
Conectado por um fio<br />
Em entrevista, Dr. Wires fala sobre fenômenos emergentes em nosso cotidiano<br />
Que som é esse que não me sai da cabeça?<br />
Daniel Daibem explica a simplicidade do complexo improviso do jazz<br />
John não quer mais sujar as mãos<br />
A trajetória nada previsível de um dos pais do grafite paulistano<br />
História 3<br />
A fantasia interage com a realidade em quadrinhos do ilustrador Júlio Brilha<br />
Continuum on-line<br />
O conteúdo exclusivo da revista na internet<br />
Área livre<br />
Obra de arte geracional de Dimitre Lima ilustra o primeiro ano da revista<br />
12 jul 008
A lição das formigas<br />
Como a emergência, conceito da cibernética, encontra eco na arte contemporânea<br />
Por Mariana Sgarioni<br />
reportagem<br />
Uma coreografia que se refere à organização das formigas. Músicas baseadas em poesias<br />
rimadas de improviso. Uma piscina com peixes que, ao nadar livremente, alteram o som.<br />
Cada vez mais o conceito de emergência, que abrange a física, a biologia, a engenharia,<br />
está presente no campo das artes. A teoria estuda o processo de formação de modelos<br />
complexos com base em regras simples. Seu resultado geralmente é imprevisível.<br />
Um exemplo bem corriqueiro são as sensações humanas, que vêm do cérebro. Para que elas<br />
ocorram, muitas vezes é preciso apenas que alguns poucos neurônios interajam. Ou seja, a<br />
regra é bem simples. Só que sua conseqüência é geralmente complexa ou inesperada – podem<br />
aparecer sentimentos profundos como ansiedade, angústia, euforia, prazer. Por isso é que se<br />
diz que o cérebro produz fenômenos emergentes.<br />
E tem mais. Uma estrutura emergente não é criada por um único evento ou por uma única<br />
regra. Não existe um comando ou um líder que organize o que vai ser feito. O resultado se dá<br />
por interações de cada parte com o ambiente externo. Elas é que fazem o resultado do evento<br />
ficar organizado.<br />
Quer ver outro exemplo? Pense no software livre Linux e na enciclopédia on-line Wikipedia. Eles<br />
só são possíveis de acontecer porque são descentralizados e contam com um grande número<br />
de participantes ou voluntários. Todos atuam sozinhos, mas sabem que estão participando de<br />
uma grande estrutura – essa união é que faz os fenômenos emergentes serem tão complexos.<br />
“Emergência é quando uma parte é mais inteligente do que a soma de todas as partes. É o<br />
que acontece quando você tem um sistema de componentes relativamente simples e eles<br />
interagem de formas simples”, explica Steven Johnson, autor do livro Emergência – Dinâmica<br />
de Rede em Formigas, Cérebros, Cidades e Softwares (Jorge Zahar Editor, 00 ). “E, então, alguma<br />
coisa acontece fora desta interação, e o resultado são sistemas complexos de estrutura e de<br />
inteligência, normalmente sem planejamento algum.”<br />
.4 .5<br />
O comportamento das formigas é um exemplo comum de emergência | imagem: Stock Xchng
Siba e A Fuloresta: músicas criadas com base em conceitos simples da poesia rimada | imagem: divulgação<br />
Rimas de improviso<br />
Outro exemplo bem fácil para entender o<br />
conceito de emergência é uma colônia de<br />
formigas. Cada uma delas age de forma autônoma<br />
com base em estímulos químicos<br />
– a rainha não dá as ordens. Ou seja, é um<br />
sistema descentralizado que resulta num<br />
comportamento bastante complexo. É só<br />
imaginar que elas sobrevivem no planeta há<br />
milhões de anos – inclusive estão aqui há muito<br />
mais tempo do que nós, seres humanos.<br />
Foi pensando nesses insetos que a dupla de<br />
bailarinos Ângelo Madureira e Ana Catarina<br />
Vieira montou o espetáculo O Nome Científico<br />
das Formigas, que estreou em junho passado<br />
no Teatro Sesc Anchieta, em São Paulo.<br />
Tudo começou quando, em um bate-papo<br />
com o público, uma menina perguntou aos<br />
bailarinos por que eles faziam movimentos<br />
tão pequenos, dançando com os cotovelos<br />
e os dedos. Madureira respondeu que os<br />
movimentos eram pequenos, mas fortes:<br />
como a formiga, que carrega dez vezes o<br />
próprio peso, sendo o mais forte animal do<br />
mundo. Ana Catarina ficou com essa idéia<br />
na cabeça e quis saber mais sobre as formigas<br />
e sua organização. Conversou com<br />
Madureira e juntos resolveram pesquisar o<br />
tema. Até que o conceito de emergência<br />
caiu nas mãos da dupla. “Essa teoria condiz<br />
com a nossa pesquisa das danças populares:<br />
com passos básicos, primitivos<br />
e de fácil memorização, criamos<br />
uma linguagem de dança”,<br />
diz o bailarino.<br />
A emergência também<br />
pode ser encontrada na<br />
música. O poeta, compositor e instrumentista<br />
Siba Veloso, ex-integrante<br />
do grupo Mestre Ambrósio, é um bom<br />
exemplo. Ao desligar-se da banda, resolveu<br />
morar na pequena cidade de Nazaré<br />
da Mata, interior de Pernambuco, onde formou<br />
um grupo com músicos tradicionais<br />
da região: A Fuloresta. Os músicos são mestres<br />
em ciranda, coco e maracatu de baque<br />
solto (ou maracatu rural). Siba e A Fuloresta<br />
fazem rimas de improviso embaladas por<br />
sopros e percussões. “Meu trabalho parte<br />
das três dimensões simples da poesia rimada<br />
(rima, métrica e oração) para estabelecer<br />
relações com a parte musical, que também<br />
vem de elementos simples, como os ritmosbase”,<br />
diz. Segundo ele, não há uma estrutura<br />
complexa. São três ou quatro instrumentos<br />
que giram em torno de uma melodia,<br />
um texto e um ritmo – essa é sua referência<br />
de trabalho, que oferece uma múltipla exploração<br />
de resultados. “O cerne é esse, do<br />
qual não abro mão. Com ele, procuramos<br />
fazer combinações completamente diferentes<br />
entre si. A rima pode aliar as palavras<br />
ao som. Nós combinamos a maneira como<br />
elas são pronunciadas – imagine, então, a<br />
infinidade de possibilidades.”<br />
Fator imprevisível<br />
A emergência pode estar tanto no trabalho<br />
poético e musical de Siba quanto na obra<br />
Canções Submersas, da artista visual Vivian<br />
Caccuri. Nessa instalação, é apresentada<br />
uma piscina climatizada, que contém quatro<br />
carpas. Até aí, tudo bem simples. Quem<br />
as observa é convidado a escolher uma música<br />
em aparelhos iPod ou MP . As músicas<br />
selecionadas são colocadas em um gravador.<br />
Por meio de um software especial, o<br />
nado dos peixes modifica as canções. “Em<br />
geral, a proposta do iPod é a de você controlar<br />
aquilo que quer ouvir. Nesse caso, os<br />
peixes interferem como uma segunda comunidade.<br />
Seu nado é aleatório, ninguém<br />
controla”, diz Vivian. “A música nunca sairá de<br />
baixo da água da maneira como ouvimos e<br />
também não surtirá o efeito esperado.”<br />
A artista e pesquisadora em arte eletrônica,<br />
formada no ano passado pela Universidade<br />
Estadual Paulista (Unesp), é simpatizante da<br />
proposta da emergência há algum tempo.<br />
Seu primeiro trabalho resultou em uma performance<br />
em que mergulhava diversos objetos<br />
na água. Eram brinquedos, eletrodomésticos,<br />
utensílios de cozinha. Conforme<br />
manipulados, uma gama de sons inusitados<br />
aparecia. “Cada objeto dentro do<br />
tanque adquiria outro significado:<br />
um peão ganhava o som de<br />
um aspirador de pó.”<br />
A simples interação entre neurônios pode gerar sensações complexas | ilustração: Jader Rosa<br />
Lidar com o inusitado também é a proposta<br />
de Sandro Canavezzi, arquiteto e mestre em<br />
poéticas digitais. Sua instalação I/VOID/O é<br />
uma espécie de caixa-preta. Ou melhor,<br />
a olho nu, ela é uma esfera cilíndrica toda<br />
espelhada. Mas dentro dela sons, imagens<br />
reais e virtuais se misturam, o que acaba<br />
criando uma realidade obscura. Quem a<br />
olha não tem a menor idéia do que vai encontrar<br />
dentro. “É a história de uma observação<br />
impossível. Ao tentar ver algo dentro de<br />
uma esfera espelhada, você acaba se observando”,<br />
diz ele, que atualmente dirige o Laboratório<br />
Aberto de Interatividade para Disseminação<br />
do Conhecimento Científico e<br />
Tecnológico na Universidade Federal de São<br />
Carlos (LAbI/UFSCar). Segundo Canavezzi, o<br />
principal aspecto do conceito de emergência,<br />
mais do que o imprevisto, é abrir a arte a<br />
todos, torná-la mais participativa, sobretudo<br />
a arte eletrônica, com a qual trabalha. Mas<br />
como tornar isso realidade? Steven Johnson<br />
dá o caminho: com uma base de organização<br />
e com a colaboração de todos. Como as<br />
formigas. Essa é a chave.<br />
.6 .7
+ = 5<br />
A dança das cidades pode ir além da simples soma dos fatores<br />
Por Mariana Lacerda<br />
São 50 mil pessoas que se entrecruzam na Estação da Luz, centro histórico de São Paulo. Elas<br />
vêm do norte e do sul, do leste e do oeste da região metropolitana da cidade. Mais de 70%<br />
desse contingente se esbarra entre 6 e 8 horas da manhã e da noite para, ao se encontrar por<br />
menos de dois minutos, sumir apressado da plataforma. Os passageiros seguem dali para seus<br />
destinos na capital: fazem baldeação entre os trens ou acessam a linha de metrô, que passa ali<br />
por baixo, tomam ônibus ou as calçadas a pé.<br />
E então a Estação da Luz fica deserta para, após exatos sete minutos, tudo se repetir: com a<br />
chegada dos trens simultaneamente, a plataforma se enche e se esvazia numa dança diária<br />
que acontece na terceira estação mais movimentada de São Paulo. E, em meio a esse balé de<br />
milhares de participantes, registram-se, em média, apenas dois acidentes por dia: de gente<br />
que tropeça na fenda entre a plataforma e a entrada do trem durante o entra-e-sai apressado<br />
e apertado. É pouco. Embora a administração da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos<br />
(CPTM) tenha a expectativa de que algum dia nenhum acidente seja registrado.<br />
Mas não são necessariamente as normas de segurança da CPTM que garantem a ordem de suas<br />
plataformas, embora elas ajudem, e muito. O funcionamento das entradas e saídas dos trens<br />
é dado pela ordem estabelecida por aqueles que os acessam. Um acordo tácito, uma espécie<br />
de democracia intuitiva que ajuda a criar leis para que os trens não parem, muito menos nos<br />
horários em que a maioria está começando ou terminando seu dia. Uma ordem complexa,<br />
feita por muitos, mas ditada por regras bem simples: alcançar seus postos de trabalho e voltar<br />
deles, todos os dias.<br />
.8 .9<br />
Os milhares de fluxos cotidianos dão vida à cidade| imagens: Cia de Foto<br />
reportagem<br />
Pode até não ser nada confortável enfrentar<br />
uma multidão nas horas (geralmente várias)<br />
que antecedem uma jornada de trabalho.<br />
Mas, para que a locomoção não seja mais um<br />
impeditivo do ganha-pão, “o único referente<br />
que ainda funciona é o da maioria silenciosa”,<br />
escreveu Jean Baudrillard em seu livro À Sombra<br />
das Maiorias Silenciosas (Brasiliense, 985)<br />
– um ensaio sobre quanto somos resilientes<br />
a qualquer forma de organização social, não<br />
raro mais do que somos às regras e ditados<br />
expressos de conduta.<br />
É essa a ordem que parece também reinar<br />
na calçada das cidades, onde as interações<br />
quietas – trocas de olhares, pedidos de licença<br />
ou passos firmes e apressados – dão<br />
vida ao lugar. Pois uma rua deserta ou sem<br />
diversidade não transmite segurança. Esta<br />
vem da reunião informal, sem hora marcada,<br />
ao sabor do improviso das pessoas<br />
que acessam as ruas – ou as<br />
linhas de trem e de metrô,<br />
por exemplo.<br />
É por questões<br />
assim que os urbanistas<br />
se dão conta de que a história<br />
das cidades também é feita de sinais<br />
mudos. Pois, apesar de as metrópoles<br />
atuais tentarem se organizar por<br />
leis de zoneamento, por exemplo, não são<br />
estas que, necessariamente, traduzem sua<br />
boa funcionalidade. “Não raro temos situações<br />
distintas que, ao se aproximar, geram<br />
uma terceira realidade que significa bem<br />
mais que a conjugação das duas primeiras”,<br />
explica a arquiteta e urbanista Regina<br />
Meyer, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo<br />
da Universidade de São Paulo (FAU/<br />
USP). Ela cita um exemplo: a proibição, em<br />
997 e 006, da ocupação das margens das<br />
represas de São Paulo.<br />
A clara intenção da lei era proteger os mananciais<br />
que abastecem a capital e sua região<br />
metropolitana. Mas, ao contrário do<br />
que se previu, os terrenos à beira d’água<br />
foram, aos poucos e incansavelmente, tomados<br />
por ocupações irregulares, que surgiram<br />
de um tipo de consenso silencioso<br />
– entre os moradores, entre a administração<br />
pública – e mostraram que as normas são<br />
impostas devido à necessidade mais do que<br />
aos tijolos colocados uns sobre os outros<br />
em desenhos lógicos.<br />
.9
A “complexidade organizada” de uma comunidade não se restringe à soma de seus integrantes | imagem: Cia de Foto<br />
Pois, como escreveu a jornalista norte-americana<br />
Jane Jacobs ( 9 6- 006) no livro Morte<br />
e Vida de Grandes Cidades (Martins Fontes,<br />
96 ): “As cidades com vitalidade têm maravilhosas<br />
e inatas habilidades para compreender,<br />
comunicar, arquitetar e inventar o que<br />
for preciso para combater suas dificuldades”.<br />
Ou, em outras palavras, uma comunidade<br />
não é apenas a soma de seus participantes,<br />
mas, sim, algo maior. Uma “complexidade<br />
organizada”, diz Steven Johnson sobre um<br />
dos mais caros conceitos de emergência em<br />
seu livro Emergência – Dinâmica de Rede em<br />
Formigas, Cérebros, Cidades e Softwares (Jorge<br />
Zahar Editor, 00 ). Johnson explica que<br />
cada um dos participantes de uma cidade<br />
reconhece os padrões de comportamento<br />
da comunidade e, de alguma forma, se assegura<br />
neles, mesmo quando os padrões a<br />
que reagem não são, nem de longe, os mais<br />
adequados – como é o caso da ocupação<br />
das margens dos mananciais paulistas ou<br />
mesmo o vai-e-vem tumultuado das plataformas<br />
de trem.<br />
Cidades e células<br />
Sobre o funcionamento da cidade, a biologia<br />
talvez tenha muito a explicar e fazer refletir.<br />
Para formar um embrião humano, por<br />
exemplo, as células, por meio de suas junções,<br />
transmitem sinais moleculares. “Esse é<br />
o segredo da automontagem: células coletivas<br />
emergem porque cada uma delas olha<br />
para a vizinha procurando dicas de como<br />
se comportar”, escreveu Johnson. São dicas<br />
daquilo que especialistas chamam de “expressões<br />
genéticas”, espécie de “cola” que<br />
permite às estruturas celulares se dar conta<br />
de qual segmento de DNA deve consultar<br />
para ter suas instruções. “Uma célula olha<br />
em volta para as vizinhas e vê que todas<br />
estão empenhadas na criação de uma<br />
válvula para o coração.” O que a leva,<br />
por sua vez, a começar a trabalhar<br />
na mesma tarefa.<br />
Contudo, uma importante distinção deve<br />
ser feita entre o funcionamento das células<br />
e a dinâmica das cidades. Se é verdade<br />
que as cidades podem ser comparadas aos<br />
organismos vivos, a massa silenciosa não<br />
necessariamente é levada por comportamentos<br />
semelhantes às trocas de informações<br />
celulares. “Nossos padrões tendem a<br />
ser bem mais complexos”, diz Regina Meyer,<br />
acrescentando que nem sempre a analogia<br />
entre as leis do urbanismo e da biologia é<br />
bem-vista em sua área de trabalho.<br />
A advertência da arquiteta faz sentido. O<br />
que as células, as calçadas (e as plataformas<br />
de trem) têm a nos dizer são exemplos da<br />
mesma idéia, de atividades realizadas com<br />
base em pressupostos simples de um material<br />
variado. O comportamento humano<br />
trabalha em duas escalas: a sobrevivência<br />
cotidiana, que mantém, por sua vez, outra<br />
ordem maior, a da economia, da geração de<br />
renda, da circulação de valores, do conhecimento,<br />
do desenvolvimento. Ou seja, dirigir<br />
um carro pode ter uma conseqüência em<br />
curto prazo: chegar ou não ao lugar que se<br />
deseja. Em longo prazo, no entanto, dirigir<br />
carros pode pôr abaixo prédios antigos para<br />
fazer surgir vias expressas, pode aquecer a<br />
temperatura do planeta.<br />
Ao decidir ir dali para cá, não nos damos<br />
conta das conseqüências. Todo esse pensamento<br />
deve pertencer ao coletivo, à<br />
cidade, que progride, cresce e aprende<br />
em seus ciclos de vida, suas histórias e<br />
pequenas tragédias − como a ocupação<br />
irregular nas margens dos reservatórios<br />
que abastecem<br />
a cidade.<br />
. 0 .<br />
A formação de células pode ser comparada à dos ambientes urbanos | imagem: Cia de Foto
Conectado por um fio<br />
Por André Seiti<br />
entrevista<br />
Eles estão em todos os lugares. Em casa, no trabalho, na rua. Sem eles, provavelmente,<br />
viveríamos na escuridão, o trânsito seria um caos ainda maior, diversos computadores e<br />
aparelhos telefônicos não funcionariam, muitas ligações e conexões estariam abaladas. O<br />
poder, tanto literal quanto metafórico, que os fios exercem é a obsessão do ciberneticista Dr.<br />
Wires. “Sem conexão, somos nada”, acredita. Nascido, “muitos anos atrás”, em uma “pequena<br />
ilha do norte da Inglaterra”, atualmente vive em Nova York, cidade da qual retira inspiração para<br />
explicar, de maneira simples, teorias complexas. Divulgador e defensor de uma ciência mais<br />
acessível, Wires mantém o site www.drwires.com. Ele acredita que a ciência não se tornará<br />
popular a menos que as pessoas se dêem conta de que necessitam dela em seu cotidiano<br />
“para viver melhor e mais facilmente, para estar mais conectados com os outros, para ter uma<br />
existência social maior”.<br />
E por falar em conexão, parece haver uma entre os trabalhos dele e de outro ciberneticista, o<br />
também britânico Paul Pangaro. Segundo Wires, ambos sabem reconhecer uma boa teoria;<br />
mas as semelhanças não acabam por aí: a aparência só não os torna a mesma pessoa devido à<br />
gravata borboleta, aos cabelos grisalhos despenteados e aos óculos fundo de garrafa de Wires.<br />
Nesta entrevista, ele evidencia a emergência presente em nossa vida, lembrando sempre a<br />
importância dos fios em tempos de tecnologia wireless.<br />
Seu nome, Wires, transmite a idéia de conexão<br />
e de interação. Por que é tão importante<br />
estar sempre conectado e interagir<br />
com outros elementos?<br />
Meu pai era cantor, um tenor da Toscana,<br />
Itália. Minha mãe era telefonista. Eles não se<br />
davam bem. Então, tive de aprender sozinho<br />
o que é importante para viver, como estar<br />
conectado com as pessoas. Wire [cabo/fio<br />
em inglês] é uma conectividade elétrica,<br />
um canal criado, um meio de dar energia à<br />
outra pessoa, uma forma de dizer algo, um<br />
jeito de ouvir o outro. Essas interações para<br />
nós, seres humanos, são a base para estar<br />
e permanecer vivo. Somos criaturas sociais,<br />
precisamos viver em conectividade. É isso o<br />
que significa ser humano. A mensagem do<br />
Dr. Wires é sobre a energia e a vibração de<br />
ser humano na presença da tecnologia.<br />
O senhor costuma abordar assuntos<br />
complicados de uma maneira acessível.<br />
Qual seria a explicação mais simples<br />
para o conceito de emergência?<br />
Emergência é um termo científico recente.<br />
Ele tenta descrever como sistemas – biológicos,<br />
tecnológicos, sociológicos – possuem<br />
regras simples das quais emergem<br />
comportamentos complexos, daí a palavra<br />
emergência. Vejamos a minúscula criatura<br />
chamada formiga. Elas não são muito inteligentes,<br />
mas a sociedade na qual vivem é<br />
muito complexa: vivem em colônias, constroem<br />
formigueiros, atacam seus inimigos,<br />
buscam alimento. Isso mostra uma variedade<br />
extraordinária de comportamentos<br />
complexos para uma criatura que tem um<br />
sistema nervoso e um cérebro tão pequenos.<br />
Você já viu aquelas linhas com formigas<br />
se movimentando muito rapidamente<br />
em ambas as direções, algumas correndo<br />
para buscar alimento e outras trazendo<br />
comida para o formigueiro? Isso é surpreendente,<br />
mas por que acontece? Se fosse<br />
um sistema humano, você diria “Bom, deve<br />
haver um guarda de trânsito que diz: ‘Ok,<br />
pessoal, vamos todos para o sul, viramos à<br />
direita e aí para a esquerda e lá vocês encontrarão<br />
um pouco de queijo e, quando o<br />
pegarem, cortem um pedaço grande, voltem<br />
para o formigueiro, deixem-no aqui e<br />
saiam novamente’”. Claro que não é o que<br />
acontece numa colônia de formigas. Elas<br />
têm regras muito simples. O que fazem é<br />
se movimentar de forma aleatória, devagar,<br />
sem destino, tentando encontrar alimento<br />
e, ao encontrar, dizem “Oh, que maravilha” e<br />
voltam para o formigueiro. É aí que começa<br />
a mágica. Quando elas retornam ao formigueiro,<br />
deixam um rastro, um odor. São os<br />
feromônios, que criam uma trilha atrás das<br />
formigas, e quanto maior o número delas<br />
mais forte fica o cheiro, e quanto mais forte<br />
o cheiro mais ele atrai outras formigas<br />
e mais outras encontram o queijo e o<br />
trazem de volta, e, dessa forma, você<br />
tem uma extraordinária rodovia<br />
de formigas indo e vindo.<br />
. .<br />
Dr. Wires: “Sem conexão, somos nada” | imagens: Dennis Letbetter/studioletbetter.com
De que forma a emergência está presente<br />
em nossa vida, em nosso dia-a-dia, em<br />
contextos político, social e cultural?<br />
No mundo físico – da energia, da massa, dos<br />
átomos e assim por diante –, as forças agem<br />
levando a uma evolução no sentido darwiniano,<br />
à evolução de um sistema, à complexidade<br />
e, claro, à vida, à emergência da vida.<br />
É necessário dizer que a emergência é um<br />
nome dado a alguns processos evolucionários<br />
atuantes à medida que os sistemas vão<br />
do simples ao complexo. E o Dr. Wires criou<br />
esse pano de fundo como contexto, porque<br />
é exatamente esse tipo de emergência e<br />
evolução que ocorre nos contextos político,<br />
social e cultural. A rotina vem diretamente<br />
do que pode ser descrito como a emergência,<br />
não no decorrer de anos, nem de uma<br />
vida toda, mas em milênios de mudanças<br />
culturais, desde as culturas consideradas<br />
mais primitivas até as chamadas sofisticadas.<br />
Mas é claro que o Dr. Wires não gosta<br />
de toda essa terminologia porque ela<br />
vem de um ponto de vista externo. A<br />
natureza da política, da sociedade e<br />
da cultura está toda enraizada no<br />
fenômeno da emergência.<br />
E quanto à sua vida, o senhor se lembra<br />
de algum episódio que pode ser relacionado<br />
ao conceito de emergência?<br />
Episódio vem do grego e significa na estrada,<br />
quer dizer a criação do caminho, da experiência,<br />
da sensação. Há quem pense que o<br />
tempo exista na forma de segundos e horas<br />
e dias... O Dr. Wires considera o tempo como<br />
algo que ocorre e é percebido. Podemos<br />
ficar sentados por horas e horas e acreditar<br />
que só se passaram cinco minutos, podemos<br />
viver uma experiência terrível de dez<br />
segundos e achar que durou 0 minutos.<br />
Um episódio é algo memorável e uma novidade,<br />
porque é inesperado, é uma surpresa.<br />
Qualquer surpresa que aconteça pode ser<br />
atribuída a um tipo de emergência, e um<br />
episódio ocorre no momento em que eu me<br />
surpreendo com o que aconteceu. Encontrei<br />
alguém e tivemos uma conversa ótima, ou<br />
olhei para fora e notei as pessoas andando,<br />
uma criança gritando, e tudo isso se transformou<br />
em algo memorável. Então, na verdade,<br />
a emergência está por toda parte. É decorrente<br />
de algo que aconteceu antes e que<br />
de certa forma era simples, e o que emergiu<br />
foi surpreendente, novo. Nesse sentido, a<br />
emergência é um fenômeno do observador.<br />
Quando penso sobre os episódios da minha<br />
vida, eu diria que todos aqueles que foram<br />
importantes para mim – portanto, aqueles<br />
de que eu me lembro – resultaram de um<br />
comportamento emergente.<br />
Emergência pode ser entendida pela formação<br />
de eventos complexos com base<br />
em regras simples. O senhor poderia nos<br />
dar algum exemplo do processo inverso,<br />
ou seja, regras complexas que resultam<br />
em eventos simples?<br />
Sim, apaixonar-se. Na verdade, apaixonar-se<br />
é algo muito, muito simples, quando você se<br />
satisfaz nessa experiência. Porém, isso vem<br />
de precedentes muito complexos. Bom,<br />
você tem um sistema elétrico chamado sistema<br />
nervoso em um corpo, que está sentindo<br />
e interagindo com o chamado mundo<br />
externo. Você tem um sistema químico, que<br />
é todo composto de hormônios e proteínas,<br />
e toda essa mágica acontece no fluxo<br />
sangüíneo. Isso tem a ver com a emoção e<br />
a regulação dos aspectos internos do corpo.<br />
Os sistemas elétrico e químico são extremamente<br />
complexos, são muito, muito difíceis<br />
de descrever. É impossível saber, num dado<br />
instante, o que está acontecendo nesses<br />
sistemas e, mesmo assim, ao nos apaixonarmos,<br />
o êxtase, a unidade com o outro, a universalidade<br />
do sentimento, o estar conectado<br />
e inteiro com outro ser humano é o mais<br />
simples possível.<br />
O que faz uma regra ser simples e um resultado<br />
ser complexo? Quem determina o tipo<br />
de classificação e qual é o critério para classificar<br />
regras e resultados dessa forma?<br />
Uma regra, ou situação, ou um sistema não<br />
é inerentemente simples ou complexo. Somos<br />
nós que, como observadores, criamos,<br />
dependendo de como reagimos à situação,<br />
a complexidade ou a simplicidade. Pode-se<br />
dizer que o objetivo do sistema nervoso é<br />
colocar ordem na experiência. Se a cada instante<br />
de cada momento do dia tivéssemos<br />
de processar tudo o que está sendo sentido,<br />
não teríamos muito tempo livre, não é? O<br />
que ocorre é que temos uma visão geral do<br />
mundo. Dizemos “Isso é um objeto e ele não<br />
vai mudar, portanto, posso ignorá-lo. Aquele<br />
som é repetitivo, não vai mudar, posso ignorá-lo.<br />
Aqui vem o predador, ele está prestes<br />
a cortar minha cabeça, é melhor eu fazer<br />
algo rápido”; essa é uma diferença que<br />
faz a diferença. Todo esse ordenamento<br />
de ocorrências faz com que, com o<br />
tempo, a gente construa uma linguagem,<br />
e é ela que expressa<br />
a complexidade.<br />
. 4 . 5
O senhor já afirmou que a inteligência não<br />
surge do previsível. Sabendo que a imprevisibilidade<br />
é uma marca dos fenômenos<br />
emergentes, poderíamos, então, dizer que<br />
a inteligência é uma forma de emergência?<br />
A definição de inteligência que o Dr. Wires<br />
gosta é a de que ela ocorre numa interação<br />
entre um sistema que tem uma meta e o<br />
ambiente. Algumas formas de inteligência<br />
são comportamentos emergentes. Se eu<br />
visse uma criança de 5 anos andando pela<br />
rua e essa criança sentasse e tocasse Mozart<br />
perfeitamente, eu me surpreenderia.<br />
Agora, poderíamos dizer que a inteligência<br />
do Mars Rover, um robô que foi enviado ao<br />
espaço, pousou na superfície de Marte, se<br />
moveu, se adaptou e fez várias coisas interessantes<br />
é emergente? Não, porque ele foi<br />
programado para isso. Algumas formas de<br />
inteligência não são emergentes, porque as<br />
compreendemos e não ficamos surpresos<br />
como o comportamento emerge.<br />
A arte em geral pode ser considerada um<br />
fenômeno emergente?<br />
De uma forma resumida, sim. A arte luta<br />
para criar experiências e faz isso numa mídia<br />
específica. Na opinião do Dr. Wires, a essência<br />
da arte é dizer algo original, algo que<br />
seja uma novidade, é expressar talvez uma<br />
necessidade humana característica da época<br />
ou do sentimento humano. Mas deve-se<br />
fazer isso de uma forma nova, porque se for<br />
repetitivo, se Bach escreve algo e o Dr. Wires<br />
escreve a mesma coisa, qual é a razão para<br />
isso? A arte, como a expressão do original,<br />
produz experiências, e elas são, para um observador,<br />
o emergente. Nem todos os fenômenos<br />
emergentes são arte. Mas eu diria que<br />
toda arte é emergente, caso contrário, não é<br />
novidade, portanto, não é uma boa arte.<br />
Como transformar esta entrevista em<br />
um fenômeno emergente?<br />
Não podemos. Ela já é isso. Você não pode<br />
transformar uma coisa em algo que ela já é.<br />
Na verdade, poderíamos transformá-la num<br />
fenômeno não-emergente, eu poderia me<br />
repetir e me repetir e continuar me repetindo,<br />
isso seria um fenômeno não-emergente.<br />
A entrevista tem a ver com a conversação,<br />
um fenômeno emergente.<br />
O que é ser Dr. Wires na era da tecnologia<br />
wireless?<br />
É uma alegria para o Dr. Wires trazer sua<br />
mensagem sobre conectividade na era do<br />
wireless. A mensagem se torna mais importante.<br />
Há uma ilusão de que não há problemas<br />
em estarmos separados. Ilusão de que<br />
estar longe de alguém, ser capaz de enviar<br />
um torpedo e dizer “Oi, mãe, estou em casa”<br />
é suficiente para se conectar. Mas isso não é<br />
verdade. Nos tempos do wireless, não estamos<br />
conectados por um sistema físico, um<br />
fio, um cabo ou um corpo físico. No entanto,<br />
para sermos verdadeiramente wireless,<br />
para estarmos desconectados no sentido<br />
metafórico, implicaria sermos não-humanos.<br />
Na distinção de Heinz Von Foerster<br />
[ciberneticista austríaco], você pode viver<br />
de duas maneiras: à parte e desconectado<br />
do mundo, o que o leva a fazer declarações<br />
do tipo “Você deveria agir assim” e “As minhas<br />
idéias são melhores do que as suas”.<br />
Ou você pode conscientizar-se de que faz<br />
parte dessa condição de contribuição, na<br />
qual o que pode emergir ao estar conectado<br />
é mais ético, mais justo. Podemos evoluir<br />
juntos, concordando uns com os outros – e,<br />
claro, discordando algumas vezes –, pois<br />
ao manter a conexão estaremos cientes<br />
desses desacordos e os entenderemos,<br />
em vez de sacar nossas armas. Devemos<br />
é sacar nossos cabos e<br />
fazer uma conexão.<br />
. 6 . 7<br />
Segundo Wires, a paixão nasce na complexidade e torna-se simples | imagem: Dennis Letbetter/studioletbetter.com
Que som é esse que não<br />
me sai da cabeça?<br />
A receita simples de fazer música e seus inesperados resultados<br />
Por Daniel Daibem<br />
Há quatro anos apresento um programa na Rádio Eldorado FM, de São Paulo, chamado Sala<br />
dos Professores. Nele, tento compartilhar com os ouvintes coisas das quais, geralmente, só os<br />
músicos têm consciência. São preceitos que, se usados intencionalmente e com bom gosto,<br />
geram todas as sensações possíveis em quem ouve uma canção: alegria, melancolia, vontade<br />
de dançar, de relaxar, de sair chutando tudo…<br />
Existem regras simples para esse resultado aparentemente complexo. Improvisar, por exemplo.<br />
No Brasil, a palavra improvisar ganhou a conotação “fazer as coisas de qualquer jeito”. É aí que<br />
começa a confusão. A maioria das pessoas, mesmo as que curtem jazz há bastante tempo,<br />
pensa que o conceito de improviso na música é mais ou menos assim: o tema é apresentado<br />
e na hora de tocar... liberdade total, vale tudo!<br />
Liberdade, sim, mas dentro de algumas normas. É exatamente como em uma conversa.<br />
Quando se está discutindo algo, obrigatoriamente se usa um idioma. As ferramentas são as<br />
palavras desse idioma. Pode-se até contar a mesma história de formas diferentes, mas, para ser<br />
entendido, devem-se usar palavras que já existam nessa língua.<br />
Na música também é assim. Pode-se dizer que o idioma é o ritmo: baião, jazz, samba, bolero, funk...<br />
Para cada um deles existe um vocabulário de melodias e divisões rítmicas. A melodia é a parte<br />
emotiva da música. Quando o músico improvisa, usa seqüências melódicas já existentes, que<br />
podem ser um trecho de um tema conhecido, uma frase de blues... Então o músico não cria?<br />
Cria, sim, mas com o que já foi inventado. E quem inventou? Para não parecer uma opinião<br />
arrogante, vai aqui um exemplo, uma frase dita por um dos maiores gênios da música<br />
contemporânea, o maestro Antônio Carlos Jobim. Numa entrevista à televisão, perguntaram<br />
a ele:<br />
– E aí, Tom, como é ser um dos maiores compositores do mundo, com mais de mil músicas<br />
e tal…?<br />
Ele respondeu:<br />
– É, a gente vai fazendo umas coisinhas aí, imitando os passarinhos…<br />
artigo<br />
Ele sabia que tudo já fora inventado, que só<br />
se brinca com o que já existe. E disse mais,<br />
que ouvindo a obra de Heitor Villa-Lobos<br />
conseguia dizer qual era exatamente o pássaro<br />
que estava sendo imitado em determinada<br />
melodia. Villa-Lobos era outro que<br />
também sabia que tudo já havia sido inventado<br />
e, no meio da noite, se enfiava na mata<br />
para ouvir a “sinfonia da natureza” e colecionar<br />
movimentos rítmicos e melódicos.<br />
A ranhura que faz a diferença<br />
A melodia solta no espaço, sem um ritmo,<br />
não é nada. É como a água sem um recipiente.<br />
Qual é o recipiente que dá forma às<br />
melodias? É o ritmo. A parte “esportiva” da<br />
música. Além dele, há também o groove. Para<br />
brincar com as melodias deve haver um groove,<br />
uma levada, uma célula rítmica que servirá<br />
de alicerce para qualquer seqüência tocada<br />
ou cantada. Os jazzistas são os músicos que<br />
mais dominam essa prática porque estudaram<br />
os ritmos; podem, então, tocar<br />
qualquer música na levada que quiserem,<br />
claro que com o mínimo<br />
de bom gosto.<br />
Há liberdade de improvisar no jazz, mas dentro de algumas regras | imagem: Cia de Foto<br />
E é justamente por essas pequenas regras que<br />
uma jam session (reunião de músicos que tocam<br />
e improvisam) dá certo. Mesmo se os músicos<br />
estiverem se encontrando pela primeira<br />
vez, o solista pode chamar qualquer tema no<br />
ritmo que achar adequado para o momento.<br />
Por exemplo, Garota de Ipanema em ritmo de<br />
jazz ou Yardbird Suite, de Charlie Parker, como<br />
samba. Nas jam sessions, cada música, executada<br />
dentro desse conceito, pode durar três<br />
minutos ou várias horas, dependendo do<br />
vocabulário e do conhecimento de quem a<br />
estiver tocando. O improviso acontece nesse<br />
ciclo. Algo aparentemente complexo, mas que<br />
funciona devido a regras simples.<br />
Para não ficar só na teoria, segue uma dica<br />
aos leitores: ouçam coisas simples, músicas<br />
que podem ser cantaroladas. É por meio<br />
delas que se entende que canções que parecem<br />
extremamente complexas são totalmente<br />
dependentes de regras básicas.<br />
Daniel Daibem é radialista e músico. Apresenta<br />
diariamente o programa Sala dos Professores,<br />
na Rádio Eldorado FM de São Paulo<br />
(9 ,9 MHz).<br />
. 8 . 9
John não quer mais sujar<br />
as mãos<br />
O grafiteiro que foi buscar novos muros no ciberespaço<br />
Por Thiago Rosenberg<br />
John Howard está com 70 anos. Seus dias seguem, atualmente, quase sempre a mesma rotina.<br />
Logo de manhã, deixa sua casa – localizada no bairro de Pompéia, zona oeste da capital paulista<br />
–, onde vive sozinho, e parte em direção ao cibercafé administrado pelo mais velho dos quatro<br />
filhos. São seis quadras de caminhada e, no trajeto, o senhor, que ostenta longos, desgrenhados<br />
e brancos fios de cabelo, barba e sobrancelha, troca um afetuoso “olá, como vai?”, marcado<br />
por claro sotaque norte-americano, com os conhecidos que lhe cruzam o caminho. Uma vez<br />
no estabelecimento do filho, dirige-se a um dos terminais de computador instalados no local,<br />
onde chega a ficar, com os olhos atentos e maravilhados diante do monitor, por até oito horas.<br />
Mas, mesmo entocado no interior do cibercafé, John também está presente do lado de fora do<br />
recinto, sob o sol, à vista dos transeuntes, incrustado nos muros de concreto e nos postes da<br />
metrópole. Seu nome figura entre o dos artistas que, dos anos 970 para cá, mudaram as ruas<br />
da cidade, transformando-as, muitas vezes, em galerias de arte a céu aberto. Ele é – ao lado<br />
de criadores como Alex Vallauri – um dos responsáveis pela emergência do grafite paulistano<br />
tal qual o conhecemos e o artista homenageado do Dia Nacional do Graffiti ( 7 de março de<br />
008). Dar alguns passos em sua casa, que serve também de ateliê, é correr o risco de esbarrar<br />
em tinta fresca. Ainda que pouco iluminado e com certo aspecto de abandono, o ambiente<br />
flameja cores e vida por todos os lados: nas paredes e nos muitos quadros por elas espalhados,<br />
nas mesas repletas de materiais para pintura, em cilindros que se fazem de postes grafitados.<br />
Mas John, em dados momentos, parece estar cansado de sujar as mãos com spray, tinta a óleo<br />
e nanquim. Ele está mais interessado em criar imagens de pixel no computador – uma cidade<br />
na qual, com simples cliques, novos muros são erguidos.<br />
. 0 .<br />
O artista John Howard observa mural grafitado por ele | imagem: Cia de Foto<br />
***<br />
perfil<br />
Ao recordar determinados episódios da vida, John aponta para um mural pintado por ele em<br />
uma das paredes do cibercafé. Passa as mãos pelas imagens representadas e questiona se aquilo<br />
tudo é, mesmo que palpável, de fato real. Explica que para cada espectador há uma pintura<br />
diferente, uma realidade diferente. E é possível que algo semelhante ocorra quando olhamos<br />
para trás. Ao longo dos anos, uma mesma pessoa pode enxergar – e transmitir – seu passado<br />
de maneiras distintas. É assim que John, aos 70 anos, transmite o seu:
Na borrifada de spray<br />
Para o pequeno John, nascido em Detroit,<br />
no estado norte-americano de Michigan,<br />
em 9 8, a América Latina era como que<br />
uma borrifada de spray ao vento, algo amorfo<br />
e sem subdivisões. E essa borrifada só<br />
encontrou certa definição nos anos em que<br />
o futuro artista de rua, atendendo às expectativas<br />
dos pais, se graduava em engenharia<br />
pela University of Detroit. Durante o curso,<br />
ingressou em um programa de estágio que,<br />
ligado à General Motors, reunia estudantes<br />
vindos dos vários países que mantinham filiais<br />
da multinacional. Foi nessa época que,<br />
em decorrência da amizade que fez com<br />
três colegas de estágio, John tomou conhecimento<br />
de alguns aspectos da cultura brasileira.<br />
Ainda assim, mudar-se para o Brasil era<br />
uma idéia que não passava por sua cabeça.<br />
O que passava por sua cabeça – ou melhor,<br />
não passava, posto que sempre estivera lá<br />
– era dedicar-se às artes. E foi com essa intenção<br />
que, com anos e já formado em<br />
engenharia, rumou para São Francisco, na<br />
Califórnia. Lá estudou artes – na San Francisco<br />
City College – e, em 96 , ficou com<br />
vontade de fazer uma visita aos colegas<br />
brasileiros que conhecera em Michigan – e<br />
que, a essa altura, já voltaram para o Brasil.<br />
John foi, então, encontrá-los em São Paulo.<br />
E, de carona, mergulhou naquela borrifada<br />
de spray.<br />
México, Guatemala, Honduras, Nicarágua,<br />
Costa Rica, Panamá. Cinco meses de estrada.<br />
Quando entrou na Colômbia, já estava sujo<br />
e sem dinheiro. Mas os habitantes da cidade<br />
de Letícia – que faz fronteira com Tabatinga,<br />
município brasileiro do estado do Amazonas<br />
– acolheram-no como a um guerreiro<br />
que retorna do campo de batalha. Não faltava<br />
quem lhe desse abrigo e comida. Ficou<br />
sabendo que um avião de carga da Força<br />
Aérea Brasileira (FAB) parava de tempos em<br />
tempos em Tabatinga, com destino a Manaus.<br />
E tentou a sorte. Que também não lhe<br />
faltou. O avião do governo chegou depois<br />
de seis semanas, e John, sem visto, não precisou<br />
pedir duas vezes ao capitão que lhe<br />
arranjasse um lugar no vôo.<br />
Chegara enfim<br />
a uma capital brasileira.<br />
Mas seu destino era outra capital,<br />
a paulista, e ainda havia um Brasil para<br />
atravessar – sem dinheiro nos bolsos. Felizmente,<br />
novas paisagens trazem novos<br />
personagens. E a jornada de John rumo<br />
a São Paulo ganhou outro fôlego depois<br />
que um grupo de estrangeiros aficionados<br />
do xadrez cruzou seu caminho. Algumas<br />
apostas no tabuleiro lhe renderam cruzeiros<br />
suficientes para pagar uma passagem<br />
do Serviço de Navegação da Amazônia e<br />
de Administração do Porto do Pará (Snapp)<br />
até Belém, onde ficou por duas semanas,<br />
tempo necessário para que arranjasse uma<br />
carona para Belo Horizonte. Uma viagem de<br />
ônibus da capital mineira a São Paulo encerrou<br />
a travessia.<br />
A jornada por parte da América Latina e os 8<br />
meses de residência em São Paulo – durante<br />
os quais presenciou o golpe militar de 964<br />
– deram a John uma boa idéia das realidades<br />
existentes abaixo da fronteira sul dos Estados<br />
Unidos. Quando retornou para a Califórnia,<br />
levou consigo uma nova versão daquela<br />
borrifada de spray e, com ela, alguns questionamentos.<br />
Desde que, na capital paulista,<br />
tomara conhecimento da produção dos artistas<br />
da Semana de Arte Moderna de 9 ,<br />
ficou pensando se já não estava na hora de<br />
surgir na cidade um novo movimento cultural.<br />
Pensou nisso por anos, até que, em 97 ,<br />
depois de concluir mestrado em literatura<br />
inglesa e norte-americana pela San Jose State<br />
College – hoje California State University<br />
at San Jose –, partiu de volta para São Paulo,<br />
agora com visto permanente.<br />
Um novo movimento<br />
Se o simples bater de asas de uma borboleta<br />
pode, de acordo com uma das mais repetidas<br />
alegorias ligadas à teoria do caos, desencadear<br />
um tufão do outro lado do mundo,<br />
o que dizer das “sprayadas” que John,<br />
logo em seus primeiros anos como cidadão<br />
brasileiro, distribuiu pela cidade? Elas talvez<br />
não tenham interferido na formação de um<br />
cataclismo em Pequim, mas é certo que<br />
também não se limitaram a incrustar-se nos<br />
pedaços de concreto que coloriram. Elas<br />
reverberaram. E essa propagação era justamente<br />
o objetivo de John – que se preocupava<br />
em instigar novos artistas mais do que<br />
promover isoladamente seu trabalho. Ele<br />
percebeu que os jovens paulistanos tinham<br />
uma enorme necessidade de se expressar,<br />
de sair do anonimato, mas não encontravam<br />
meios para tal. O que eles poderiam<br />
usar para suprir essa necessidade criativa,<br />
John logo percebeu, estava espalhado pela<br />
metrópole: muros. E, com essa preocupação<br />
mais didática do que estética, ele fez<br />
centenas de grafites pelas ruas da cidade,<br />
muitos deles com pouco acabamento,<br />
para que as pessoas entendessem<br />
que aquilo era algo que poderia<br />
ser feito por qualquer um.<br />
.<br />
. .<br />
Uma borrifada de spray que resultou em revolução nos muros paulistanos | imagem: Riccardo Fanucchi
R e p e t i r,<br />
todos os dias, a mesma<br />
ação; e não assumir a autoria.<br />
John lera em algum lugar que esses<br />
dois pontos deveriam ser observados<br />
por aqueles que desejam mudar algo em<br />
seu canto de mundo. Seguiu-os à risca e<br />
começou a fazer desenhos não assinados<br />
em uma infinidade de postes da cidade (a<br />
idéia de grafitar postes tornou-se uma das<br />
principais contribuições estéticas de John<br />
para o grafite paulistano). Certo dia, ao caminhar<br />
pelas ruas, percebeu que alguém<br />
havia feito uma interferência, também em<br />
grafite, em um desses postes. Ficou extremamente<br />
feliz. “Está funcionando!”, pensou.<br />
O responsável pela interferência, descobriuse<br />
depois, era Rui Amaral, um dos primeiros<br />
artistas de rua influenciados por John – e<br />
que, em pouco tempo, realizaria obras em<br />
parceria com seu mentor.<br />
É certo que os trabalhos de John, abertos ao<br />
diálogo com toda a sociedade, não chamaram<br />
a atenção apenas de artistas. Suas “cabeças<br />
feitas “ – um dos temas recorrentes entre<br />
suas imagens – dirigiam-se a todos aqueles<br />
que caminhavam com os olhos atentos nas<br />
“telas de concreto”. E algumas das mensagens<br />
que o grafiteiro espalhava pela cidade<br />
– “Deus se come-se” era uma delas – instigavam<br />
a curiosidade, a indignação, a admiração<br />
e toda sorte de reações em quem as<br />
liam. Por esses e outros motivos, ele virou<br />
um personagem bastante presente nas páginas<br />
de jornais e revistas dos anos 980 e<br />
990. Muitas das matérias exaltavam sua<br />
postura indignada em relação aos ataques à<br />
sua obra, caso do texto “Grafiteiro ameaçado<br />
de prisão”, publicado na Gazeta de Pinheiros<br />
de 6 de julho de 989: “Em janeiro de<br />
988, funcionários municipais, a mando do<br />
prefeito Jânio Quadros, passavam cal sobre<br />
os murais-grafites do ‘buraco da Paulista’, e<br />
um dos grafiteiros tentou proteger sua obra:<br />
‘Fiquei na frente dos trabalhos, passaram cal<br />
em cima de mim’, conta John Howard [...]”.<br />
Mas John é hoje mais sereno ao se referir<br />
à oposição ao seu trabalho. “Não concordo,<br />
mas é inevitável; é como o envelhecimento”,<br />
diz ele, passando as mãos pelos fios de cabelo<br />
branco, “você pode não concordar com a<br />
velhice, mas ela chega de qualquer jeito”.<br />
Um outro brilho<br />
O grafiteiro descobriu o novo mundo da arte<br />
digital em 995, quando a West Chester University,<br />
da Pensilvânia, o chamou para ministrar<br />
o curso de participação comunitária. Na<br />
ocasião, a universidade ofereceu ao seu corpo<br />
docente laboratórios de informática, nos<br />
quais eram dadas orientações sobre como<br />
usar o computador para, entre outras tarefas,<br />
planejar aulas e calcular notas e médias.<br />
Ele aproveitou a oportunidade para conhecer<br />
os diferentes programas instalados nas<br />
máquinas, e, nessa investigação, encontrou<br />
o Photoshop. Tendo em mãos um manual<br />
com dicas de utilização do software, John<br />
começou a se familiarizar com aquele que<br />
viria a ser seu novo ateliê.<br />
. 4 . 5<br />
Duas “cabeças feitas” por John Howard | imagem: Riccardo Fanucchi<br />
***<br />
Voltamos a 008. E ao septuagenário John,<br />
que, em frente ao computador do cibercafé,<br />
aponta – não mais com as mãos, mas com<br />
a seta do mouse – os detalhes de seu mais<br />
recente ambiente de trabalho. “São centenas<br />
de recursos, de comandos!”, explica ele,<br />
apaixonado. “Você faz um desenho e pode<br />
espremê-lo ou alargá-lo. Pode colocar um<br />
desenho em cima do outro, com esse efeito<br />
de transparência. Pode dar ao desenho uma<br />
aparência de aquarela, por exemplo; e, se<br />
não gostou do resultado, mudar para óleo<br />
sobre tela. É muito interessante.”<br />
Detalhe da obra digital Raios de Sol na Floresta, de John Howard<br />
E também é muito interessante,<br />
acredita John, o efeito<br />
que a obra de arte digital causa no<br />
espectador. “A luz vem de trás da imagem,<br />
passa pela tela e entra no seu olho”,<br />
comenta. Até seus trabalhos feitos a mão,<br />
quando reproduzidos digitalmente no<br />
computador, lhe parecem mais impactantes.<br />
“Aquilo ali [apontando para sua pintura,<br />
exposta na parede] é bom, tudo bem, mas,<br />
quando vejo a foto disso no monitor, acho<br />
melhor! Tem um outro brilho!”<br />
O sol já se pôs e, em pouco tempo, John retornará<br />
para sua casa, para seu “ateliê de carne<br />
e osso”, onde ainda vive, em contato com<br />
a tinta fresca, o grafiteiro que fez história nas<br />
ruas de São Paulo. Mas, neste momento, ele<br />
está diante daquilo que julga ser o futuro da<br />
arte. “Pintar com óleo, com nanquim... Isso<br />
tudo suja as mãos, suja a roupa. É como usar<br />
a máquina de escrever: você faz um erro; aí<br />
tem de sujar tudo para consertar”, compara.<br />
“No computador é diferente, é mais prático.<br />
E você ainda pode enviar para o mundo<br />
todo pela internet. Eu quero promover isso<br />
assim como promovi o grafite.”<br />
Veja trabalhos de John Howard no site<br />
howardsart.googlepages.com.
. 6 . 7
. 8 . 9
. 0 .
ON-LINE<br />
on-line<br />
A Continuum Itaú Cultural faz ano. E para comemorar a ocasião será apresentado o<br />
debate Arte e Cultura: O Mercado Editorial. O evento, marcado para o dia de julho, às<br />
9h 0, conta com a participação dos jornalistas Alcino Leite Neto (editor do site Trópico),<br />
João Gabriel de Lima (diretor de redação da revista Bravo!) e José Castello (articulista dos<br />
jornais O Globo e Rascunho).<br />
O encontro ocorre na sede do Itaú Cultural, em São Paulo. Mas os leitores de todo o Brasil<br />
podem assistir ao debate na versão on-line da revista, em www.itaucultural.org.br/revista.<br />
Além da transmissão ao vivo, o site também disponibilizará, a seguir, o registro em vídeo<br />
da discussão.<br />
O artista Dimitre Lima desenvolveu a obra da Área livre desta edição com o Processing – software<br />
de plataforma aberta que, com base em parâmetros preestabelecidos pelo usuário, pode gerar<br />
um trabalho artístico. O programa permite que a obra seja constantemente atualizada e, assim,<br />
receba novas e imprevisíveis versões.<br />
Vire a página para conhecer a obra de Lima. E, na revista on-line, acesse os desdobramentos do<br />
trabalho e saiba mais sobre as possibilidades artísticas do Processing.<br />
www.itaucultural.org.br/revista<br />
Obra visual, criada por meio de software livre, do artista Dimitre Lima<br />
. .<br />
As doze edições da revista imagem: Renan Magalhães/Itaú Cultural
área livre<br />
A imagem das mil palavras<br />
As palavras mais utilizadas nos<br />
primeiros números da revista<br />
Continuum Itaú Cultural constroem<br />
esta imagem. O tamanho<br />
de cada uma delas é proporcional<br />
à quantidade em que apareceu<br />
nas edições.<br />
imagem: Dimitre Lima<br />
http://dimitre.org<br />
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