16.04.2013 Views

O método cartesiano.pdf

O método cartesiano.pdf

O método cartesiano.pdf

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

diversamente, para responder ao sentido de tudo quanto se disser na sua<br />

presença, assim como podem fazer os homens mais embrutecidos.<br />

E o segundo é que, embora fizessem muitas coisas tão bem, ou talvez<br />

melhor do que qualquer de nós, falhariam infalivelmente em algumas outras,<br />

pelas quais se descobriria que não agem pelo conhecimento, mas somente<br />

pela disposição de seus órgãos.<br />

Ora, por esses dois meios, pode-se também conhecer a diferença<br />

existente entre os homens e os animais. Pois é uma coisa bem notável que não<br />

haja homens embrutecidos e tão estúpidos, sem excetuar mesmo os insanos,<br />

que não sejam capazes de arranjar em conjunto diversas palavras, e de<br />

compô-las num discurso pelo qual façam entender seus pensamentos; e que<br />

ao contrário não exista outro animal, por mais perfeito e felizmente engendrado<br />

que possa ser, que faça o mesmo. E isso não nos testemunha apenas que os<br />

animais possuem menos razão do que os homens, mas que não possuem<br />

nenhuma razão.<br />

Eu descrevera, depois disso, a alma racional, e mostrara que ela não<br />

pode ser de modo algum tirada do poder da matéria, como as outras coisas de<br />

que falara, mas que deve expressamente ter sido criada; e como não basta que<br />

esteja alojada no corpo humano, mas que é preciso que esteja junta e unida<br />

estreitamente com ele para ter, além disso, sentimentos e apetites semelhantes<br />

aos nossos, e assim compor um verdadeiro homem.<br />

Não há outro que afaste mais os espíritos fracos do caminho reto da<br />

virtude do que imaginar que a alma dos animais seja da mesma natureza que a<br />

nossa, e que, por conseguinte, nada temos a temer, nem a esperar, depois<br />

dessa vida, não mais que as moscas e as formigas; ao passo que sabendo-s o<br />

quanto diferem, compreende-se muito mais as razões que provam que a nossa<br />

é de uma natureza inteiramente independente do corpo e, por conseguinte, que<br />

não está de modo algum sujeita a morrer com ele; depois, como não se vêem<br />

outras causas que a destruam, somos naturalmente levados a julgar por isso<br />

que ela é imortal.<br />

Sexta parte<br />

Faz três anos que chegara ao fim do tratado que contém todas essas<br />

coisas, e que começara a revê-lo a fim de pô-lo em mão de um impressor,<br />

quando soube que pessoas, a quem respeito e cuja autoridade sobre minhas<br />

ações quase não é menor que minha própria razão sobre meus pensamentos,<br />

haviam desaprovado uma opinião de Física, publicada pouco antes por<br />

alguém, opinião que não quero dizer que a partilhasse, mas que nada reparara<br />

nela, antes de a censurarem, que pudesse imaginar ser prejudicial à religião ou<br />

ao Estado, nem por conseguinte, que me impedisse de escrevê-la, se a razão<br />

mo houvesse persuadido, e isso me fez recear que se encontrasse, do mesmo<br />

modo, alguma entre as minhas, na qual me tivesse enganado, não obstante o<br />

grande cuidado que sempre tomei em não acolher novas em minha confiança,<br />

das quais não tivesse demonstrações muito certas, e de não escrever

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!